Gosto de pensar que o que faço é útil para alguém e por isso mesmo tenho consciência de que este texto seria absolutamente inconcebível e até desnecessário em outros países mas, vamos lá. Afinal, escrevo para e desde o Brasil. Por favor, não entendam esta disgressão como falta de modéstia, ao contrário. Escrever algo útil para pessoas que moramos no Brasil é, por si só, muito bom. Mas não deixa de ser ridículo escrever sobre o que se segue: o que fazer para evitar acidentes quando se está num carro e somos atingidos por um cabo elétrico. Sim, porque aqui isso tem acontecido com espantosa frequência.
Como eu disse, para quem está fora pode achar que pirei. Até posso, mas não será por isso. Têm sido relatados seguidos casos de pessoas eletrocutadas e até mortas nesses casos. Incrível que cabos energizados atinjam veículos e pessoas com tanta frequência, não? Não consegui levantar quantas ocorrências houve, mas desde novembro culparam-se as “fortes chuvas” por incidentes assim. Digo propositadamente incidentes e não acidentes pois estes últimos não podem ser evitados, enquanto os primeiros sim.
E aí há vários fatores. Primeiro, o Brasil é um país tropical. Surpresa! Ou seja, chove, e com razoável força, em épocas certas, sempre. Ora, qual é a novidade? Não deveria haver nenhuma. Novidade, e aí está o segundo fator, é nossa rede elétrica não estar preparada para isso e, ao contrário do que dizem os executivos de algumas concessionárias, os cabos continuarem energizados quando se rompem. Isso sim é novidade.
Mas aí entramos no campo da legislação que não é cumprida. Já falei aqui sobre a lei que existe em São Paulo e que obriga(ria) as concessionárias a enterrarem a fiação elétrica à razão de 250 quilômetros por ano — que além de não ter sido cumprida, apesar de vigorar desde 2006, foi suspensa na Justiça no ano passado a pedido do prefeito da cidade. O fato é que se tem 17.000 quilômetros de cabos aéreos na capital — no mínimo. E, claro, não é somente em São Paulo onde este problema acontece. Mas poucas autoridades decidem enfrentar a questão.
Era comum até duas décadas atrás os brasileiros que iam a Buenos Aires comentarem o “teto” que se via na Calle Florida de tantos que eram os fios. Na verdade, nem elétricos eram mas sim telefônicos, mas OK, era um visual horroroso que foi removido — ainda bem. Aqui não. Estamos cada vez pior. Temos cabos elétricos, de telefonia, de TV a cabo e sei lá mais o quê. Perigo, claro, são os elétricos. Mas também não custaria melhorar o visual da cidade, tão degradado.
Recentemente, diga-se de passagem, tomei um susto ao cruzar a Av. Brigadeiro Luís Antônio quando um cabo bateu no meu para-brisa. Não faço a menor ideia do que era, mas fiz o que faço sempre nessas horas. Segurei firme no volante e mantive a trajetória. E que seja o que Deus, Budha, Shiva ou Maomé quiserem, pois de resto estamos à nossa própria sorte.
Em fim, voltemos à questão kafkiana do que fazer se formos surpreendidos por um cabo elétrico na rua. Como pessoa superelétrica que sou, pois sempre carrego muita energia estática (contra minha vontade), posso dar aulas de como funciona uma gaiola de Faraday. Embora leiga, tenho anos, ou quilowatts, ou microfaradays de prática…
Basicamente, o mais seguro é se estivermos dentro do carro, pois uma superfície condutora eletrificada tem campo elétrico nulo em seu interior, já que as cargas se distribuem de forma homogênea na parte mais externa da superfície condutora. Nesse caso, nada de fazer como fez aquela família no Rio de Janeiro, quando havia uma criança pequena dentro e ao se romper um cabo elétrico e atingir o carro o irmão mais velho entrou no veículo, encostando nele. E depois o padrasto e depois o avô — ou algo parecido. Nada disso. Quem está dentro está isolado, protegido. E quem está fora, também. O perigo é para quem está no meio, encostado entre um e outro, pois aí é que se fecha o circuito.
Há algum tempo uma pessoa em São Paulo desceu do carro durante uma forte chuva e pisou numa poça d’água energizada por um cabo rompido. Morreu eletrocutada. Nessas horas, o melhor é ficar dentro do carro. Com os vidros fechados, ele funciona como uma gaiola de Faraday. Tem gente que diz que os pneus isolam, mas na verdade não são eles — se fossem, motociclista não morreria ao ser atingido por um raio na estrada. O que funciona é o isolamento metálico do carro como um todo. E janelas fechadas, pois se o cabo entrar, não adianta nada.
O melhor nesses casos é quem está dentro, fica dentro sem encostar em nada e quem está fora, fica fora sem encostar em nada. E telefonar para os bombeiros para que solicitem o desligamento da rede elétrica. Até lá, ninguém se mexe. A melhor proteção é não fazer nada.
Mudando de assunto: Darei uma folga de alguns dias aos meus queridíssimos leitores. Mas prometo que volto com ideias renovadas e assuntos interessantes. Dia 11 de maio estarei neste espaço novamente. Até lá.
NG