Modelo da Hyundai acima deixava o porto coreano com 128 cv e chegavam aqui com 140 cv. Nasciam pôneis nos navios?
Propaganda de automóvel não perde a chance de tornar o prato mais apetitoso, nem que seja recorrendo às mais variáveis “mutretas”.
Quando a Ford fabricava a picape Pampa, produziu um (muito bem feito) anúncio de tevê onde um guindaste colocava na caçamba um caixotão pintado com um grande “700 kg” nas laterais. A fábrica se “esqueceu” de que a capacidade total de carga da Pampa era, de fato, de 700 kg. Mas, impossível abrigar um motorista na boléia, por mais magro fosse. Só se o Pampa já estivesse antecipando o veículo autônomo…
A Volkswagen, por sua vez, não hesitou em anunciar, em 2007, seu Golf 1,8 turbo (GTI) como o mais potente automóvel produzido no Brasil com 193 cv. Por “coincidência”, um único cavalo mais que o Honda Civic 2,0 Si. Mas se “esqueceu” de avisar ao distinto público que os 193 cv só compareciam todos sob o capô do GTI se o tanque fosse abastecido com gasolina premium. Os 192 cv do Honda se contentavam com a mais comum das gasolinas, com a qual porteira do curral do Gol GTI deixava 8 cv escaparem. Aliás, o Civic Si abastecido com premium teria um haras maior que o do GTI, reunindo 195 cavalos…
A Stock Car é a mais importante competição das pistas brasileiras. Outra propaganda enganosa pois os carros (caracterizados atualmente como Chevrolet Sonic e Peugeot 408) não têm absolutamente nada a ver com estes dois modelos: todos usam a mesmíssima mecânica, toda importada (motor, câmbio, suspensão, freios). A GM é mais contida, mas a Peugeot chegou a anunciar que “graças à resistência e ao desempenho do Peugeot” ganhou uma das etapas do campeonato. Esqueceu-se também de que o carro vencedor não tinha sequer um parafuso da “marca do leão”. Pode?
A mesma Peugeot, sua “irmã” Citroën e a Fiat foram multadas por propaganda enganosa: um teto solar super estiloso e atraente acrescentava charme ao modelo e alguns milhares de reais ao preço do carro, sem nenhuma explicação ao consumidor. Outra manobra para iludir clientes é o “juro zero”: as fábricas que recorrem a este apelo não esclarecem que a isenção dos juros exige uma entrada que — em geral — supera 50% do preço do carro. Outras escondem parcelas intermediárias durante o financiamento.
A CAOA-Hyundai “sossegou” nos últimos anos, mas foi pódio no campeonato de mentiras. Ela anunciava potência de 140 cv em modelos vendidos aqui e em outros países. Mas, os importados para nosso mercado tinham motor de apenas 128 cv. (Ou será que nasciam 12 pôneis no navio, entre Coreia e Brasil?). Acessórios e equipamentos que ilustravam a publicidade de alguns de seus modelos nem existiam no nosso mercado, ou eram cobrados à parte. A empresa foi condenada recentemente pelo Ministério Público de São Paulo a pagar indenização de R$ 1,6 milhão por veicular propaganda enganosa. O pagamento resulta de um Termo de Ajustamentos de Conduta acertado entre o grupo CAOA e a Promotoria de Justiça do Consumidor de São Paulo.
Na semana passada, mais uma condenação: a 6ª Vara Cível de São Paulo obrigou o grupo CAOA a substituir um Hyundai Veloster adquirido em 2011, pois o juiz concordou com o dono que reclamava propaganda enganosa por não ter injeção direta de gasolina (reduzindo potência e aumentando consumo), nem GPS, oito airbags, bancos elétricos e outros equipamentos anunciados à época na TV. Segundo a advogada Rute Endo, a ação é definitiva a não cabe mais recurso.
Aliás, o Veloster era um “esportivo” de desempenho tão modesto que ganhou apelidos como “Devagoster” e “Vagaroster”…
BF