Programa de sustentabilidade pode ampliar o crédito na praça, sem depender de subsídios do governo.
A indústria automobilística não desistiu de emplacar o programa de renovação da frota veicular, para sucatear caminhões e automóveis velhinhos que ainda circulam. Os números são significativos: quase 40 milhões de carros e comerciais leves e 1,7 milhão de veículos pesados (caminhões e ônibus) poderiam se candidatar à reciclagem.
São nada menos que 19 entidades (entre sindicatos, associações, confederações e institutos) capitaneadas pela Anfavea que levaram ao governo federal, em 2015, o projeto que alavancaria as vendas de veículos novos através de créditos para os “velhinhos”.
A ideia seria aplicada, inicialmente, aos caminhões, ônibus, tratores e máquinas com mais de 30 anos de fabricação e depois se estenderia para motos e automóveis com pelo menos 15 anos de idade.
O dono do veículo o deixaria numa concessionária e receberia uma carta de crédito que seria utilizada na compra de um outro mais novo ou zero-km. Seu antigo (até carcaças de ferro-velho seriam recebidas) iria compulsoriamente para uma indústria de reciclagem. O crédito seria utilizado para pagar parte do novo veículo: pessoa física se for um usado, concessionária se for um zero-km. A diferença entre os valores dos dois veículos seria financiada com recursos de um fundo especial, a ser definido. Uma parte vindo de uma espécie de seguro do tipo DPVAT no licenciamento do veiculo zero-km e outra bancada por um órgão de financiamento do governo.
Já existiram programas semelhantes em outros países, sempre com duração limitada. Nos EUA, por exemplo, foi criado um plano de estímulo logo depois da crise financeira de 2009, que funcionou até se esgotar a verba de US$ 3 bilhões destinada pelo governo para os financiamentos. Planos semelhantes de estímulo ao sucateamento foram implantados em outros países, sempre para reanimar o mercado de veículos, mas as vendas desabavam novamente sempre que chegavam ao final. No Brasil foram lançados programas específicos para caminhões em 2013, nos estados de São Paulo e Minas Gerais, que não vingaram. A ideia da Anfavea é a permanência do programa, sempre incorporando os veículos que completassem a idade mínima para sucateamento.
O plano, chamado de “Programa de Sustentabilidade Veicular”, se apoia em três pilares: redução das sucatas sobre rodas, das emissões de gases e estímulo ao setor automobilístico. Deles, decorrem inúmeras vantagens como a criação de milhares de empregos nas unidades de reciclagem e nas redes de concessionárias, sucateamento de carcaças abandonadas nas ruas estimulando as doenças transmissíveis por mosquitos, dos congestionamentos provocados por carros enguiçados nas ruas, redução do consumo de combustíveis etc.
A Anfavea chegou próxima de um acordo com o governo federal em janeiro deste ano, mas algumas questões impediram sua efetivação. Não ficou estabelecido, por exemplo, como seria o “Seguro de Sustentabilidade” para criar o fundo necessário para o financiamento dos veículos. E se caberia parte dele ao governo, ideia em princípio descartada.
A associação das concessionárias (Fenabrave) é uma das entidades envolvidas no programa e o incentivou, pois sente na carne os efeitos da crise econômica: só em 2015 foram fechadas mais de mil concessionárias com demissão de 32 mil empregados. Neste ano, as vendas continuam em queda e o quadro do setor continua negro.
O atual presidente da Anfavea, Antônio Megale, afirma que vai voltar a Brasília para tentar emplacar o programa de sustentabilidade e seu principal argumento é não pedir verbas, mas apenas apoio do governo federal ao plano.
Se o programa for implantado, quando chegar a vez do automóvel, o setor estima um crescimento nas vendas de cerca de 40 mil veículos mensais. Nada mau para um setor que amarga a mais profunda crise de sua história.
BF