Mercado em junho fechou com expectativas mistas. Enquanto a Anfavea havia apresentado no início do mês as suas projeções revistas para o ano visando leve recuperação para os sete meses restantes, alguns fabricantes aproveitaram a ligeira queda nos estoques e iniciaram puxadas de produção na mesma onda positiva, aumentando suas encomendas de componentes e reconvocando trabalhadores para as linhas de produção, mas os números finais do mês mostram que os compradores ainda não embarcaram nessa. Nem os de automóveis, nem os de caminhões.
A cautela tem fácil explicação, a retomada que todos anseiam requer a volta da confiança e ela não virá à galope, mas já deu sinais de melhora, apesar de certos passos titubeantes do governo Temer na articulação da política com a economia e as páginas policiais diárias envolvendo boa parte de nossa oligarquia política. No final de junho a FGV divulgou que o Índice de Confiança da Indústria melhorou e atingiu 83,4 pontos, o maior nível desde fevereiro de 2015. Porém, para muitos ainda parece haver um inevitável compasso de espera pela conclusão do impeachment da presidente, que tudo indica ocorrerá no final de agosto, ou seja, a confiança deve subir mais ainda após o esperado desfecho. Algumas ações da nova equipe econômica também aguardam mesma definição para serem postas em execução. O ano terá dois carnavais.
Nos 22 dias úteis de junho o ritmo médio de emplacamentos de veículos leves deteriorou-se outros 2%, 7.564 vs. 7.731. Os pesados também caíram levemente, porém os fabricantes destes ainda cortam projeções futuras para baixo, mas os de automóveis, não. Contribuem para os sinais negativos as demissões de diversos setores da indústria, que por enquanto não reverteram tendência. São os vários Brasis se desencontrando. O dólar perdeu 10% no mês e 18% no ano, fatores externos jogando contra as necessárias exportações, a despeito de contidas intervenções no câmbio pelo Banco Central. Recuperação judicial segue atingindo número crescente de fornecedores do parque de autopeças. Não há sinais de trégua visíveis. Ainda.
Vemos isso mais pronunciado nas encomendas de caminhões, bens de capital. No setor de máquinas vê-se estabilidade num patamar de atividades bastante baixo. O problema é que o dólar desvalorizado age contrário aos interesses dos exportadores que perderam o mercado doméstico e tentam preencher parte de sua capacidade ociosa no mercado externo. Ociosa em mais da metade, ou mais; nos pesados, bem mais. A média ainda não leva em conta as variações por ramo de atividade dos autopartistas nem dos fabricantes, as três grandes mais a Ford (há tempos perdeu o quarto e quinto postos) seguem sendo as mais duramente afetadas, comparando-se os primeiros seis meses deste ano com mesmo período de 2014, Fiat vendeu 58% a menos, VW, -54,5%, GM -43,6%, Ford, -43,6%, o mercado caiu cerca de 41%. Na contramão da queda, Honda vendeu +1,9% e Toyota, +1,6%, na comparação de mesmo período, as duas marcas japonesas foram as únicas exceções positivas.
A transição e turbulência políticas
Os sinais controversos do mês: alguns fabricantes apresentaram alternativas criativas para o fim do prazo do Plano de Proteção ao Emprego (PPE), marcado para o final do ano, e as negociam com os sindicatos. Enquanto todos desejariam uma recuperação galopante em ritmo de dois dígitos, ela esboça passos tímidos e titubeantes. A classe política empenha-se em se proteger da justiça e do ministério público, que faz um cerco a vários caciques, e as discussões no parlamento baixo e alto sobre propostas do executivo para recuperação da economia e do país ficaram relegadas em segundo ou terceiro plano. Por outro lado, o mercado financeiro tem reagido com alta na bolsa de valores e alta do real frente ao dólar, ou seja, uma aposta positiva de novos e bons ventos, mesmo ante às incertezas políticas de termos dois presidentes e a dúvida que paira sobre o futuro imediato de ambos.
A aposta do mercado na nova equipe econômica não é só dele, a sociedade precisa de ações e resultados que revertam a situação econômica, algumas antes mesmo da votação da saída definitiva de uma presidente que insiste em voltar com alegações desconexas, como há poucas semanas alegar ser por novas eleições e que agora diz ser para tentar tudo de novo de um jeito diferente. Conta ela com o mesmo apoio dos eleitores que abandonou. Desconexo porque não há menor sentido em pedir a cadeira de volta para então sair com eleições algumas semanas depois. Mais desconexo ainda em dizer que errou em tentar uma virada neoliberal (quando convocou o Levy para o Ministério da Fazenda) e urge agora uma saída pela esquerda, que se arrepende de ter abandonado após as eleições de outubro de 2014. Sua inacreditável ausência de autocrítica a faz atribuir a situação do país a uma inexistente crise externa e a seus detratores do parlamento.
Ranking do mês e do primeiro semestre
O primeiro semestre do ano pode nos mostrar uma nova ordem, Chevrolet Onix emplacou 11.566 unidades em junho e 68.535 nos primeiros seis meses, um ritmo médio consistente. Hyundai HB20 em segundo, com 9.533 unidades no mês e 55.922 no semestre, firmou posição. Em seguida vem o Renault Sandero surpreendente com com 6.013 emplacamentos, tomando um incomum terceiro posto, VW Gol em quarto com 5.943 unidades e Ford Ka em quinto, com 5.811 e Chevrolet Prisma em sexto, 5.525 emplacamentos. Corolla em sétimo, 5.417, mantendo a sua média mensal, porém cai um pouco no ranking, provavelmente devido à reação dos compactos neste mês. HR-V em oitavo, 5.224, também com média mensal estável nesse patamar.
Curioso notar o Palio em nono posto de vendas com 4.335 unidades, Renegade manteve-se em décimo, 4.012. Parece que o comprador típico de Palios, Unos e Sienas estava dando um tempo com a sua marca preferida. Há rumores de que o novo Palio deve chegar em 2017, e caso esse timing esteja mantido, a Fiat e seus revendedores teriam de se desdobrar para não conviverem com incômodos magros volumes de seus compactos de entrada até que o novo modelo chegue às lojas e traga de volta seus tradicionais compradores além de outros novos e assim, a marca volte a figurar numa liderança que manteve por quase doze anos. No semestre a marca italiana fechou em 4º dentre os automóveis e na vice-liderança quando somado com os comerciais leves.
As vendas do supercompacto Mobi subiram para 2.822 unidades (16º) em seu segundo mês no mercado, o aproximam de seu competidor direto, o VW up!, 3.488 (13º), contudo ainda parece tomar compradores da própria marca, Fiat Uno, 2.801 (17º).
Nos comerciais leves a Fiat segue fazendo bonito — quase 40% de participação no segmento –, com Strada e Toro em 1º e 2º lugares, respectivamente, 5.276 e 4.040. VW Saveiro em 3º, 3.566, as recém-renovadas picapes médias Hilux em 4º (2.791), S10 em 5º (2.228) e Ford Ranger, 6º (1.888) tomando certa distância da Mitsubishi Triton (821, 10º) e VW Amarok (580, 12º) e Nissan Frontier (325, 14º).
Novidades esperadas para o ano, o provável ix25, o suve compacto da Hyundai, com base no ótimo HB20 e competidor direto do HR-V, Renegade, EcoSport, Duster, 2008 etc. O Salão do Automóvel deste ano promete.
Que os ventos de boas mudanças contaminem o setor e no mês que vem possamos trazer melhores notícias.
MAS