O Nissan Kicks foi apresentado nesta segunda-feira (18) em São Paulo, carro cujos primeiros estudos datam de 2011, e pude percorrer um trajeto de cerca de 230 km com ele. O Brasil é o primeiro país a comercializar o novo modelo. A América Latina virá em seguida, e depois outros, para atingir oitenta países pelo mundo.
Executivos da empresa destacaram a importância do Kicks, classificando-o como a entrada para valer da Nissan no mercado local, já que hoje as vendas respondem por menos de 3% do total brasileiro, e os suves e os crossovers — fáceis de confundir entre si — respondem por aumento significativo de volume, mesmo com a economia nacional em estado lastimável, mas tendendo a melhoras.
Num primeiro momento o Kicks será trazido da fábrica Nissan em Aguascalientes, no México, e a a partir de janeiro de 2017 passará a ser fabricado também na fábrica de Resende, no estado do Rio de Janeiro.
A Nissan pode ser considerada a criadora do conceito crossover, segundo ela, uma mistura de uma soma de hatch com sedã com veículo off-road, o que permite ter as vantagens de cada carroceria em uma só. Porta-malas, espaço interno, suspensões com curso maior que o normal e escotilha traseira (hatch) são as principais. Desde 2003, foram vendidos mais de 6,6 milhões de unidades dos modelos Murano, X-Trail, Qashqai e Juke, e a entrada do Kicks no time irá reforçar muito esse número. Para se ter uma ideia, no Brasil o aumento de vendas dos suves compactos foi de 4,7 mil unidades mensais em 2010 para 15,6 mil nesse ano, mesmo com queda do número total de vendas de veículos.
Antes de falar como ele se comporta andando, destacamos dois equipamentos muito interessantes desse carro, o primeiro deles sendo as quatro câmeras que permitem visão em 360º e que trabalha junto com o Detetor de Objetos em Movimento, que auxiliam muito motorista com uma visão em planta (por cima) do carro na tela de sete polegadas multifunções, e o segundo o Estabilizador Ativo de Movimento, que utiliza sensores de aceleração que detectam o movimento da carroceria e, assim, atuam no freio motor e sistemas de freios para minimizar esses balanços. Este último é particularmente útil para pessoas que sofrem com enjoos causados pelos movimentos do carro ao passar em pisos irregulares.
Ao dirigir um pouco em cidade e mais em estrada, notei que o conforto de marcha é muito bom, tanto de absorção de impactos com o solo quanto relativo a ruídos externos. Há um pacote de isolamento eficiente, e o som do motor só é ouvido de forma mais ostensiva nas acelerações a fundo, mesmo assim nunca atrapalhando conversa civilizada dentro do Kicks. Dá para ouvir música com tranquilidade no sistema de muito boa qualidade, e entender o que está tocando, mesmo em baixo volume.
A direção eletroassistida tem assistência indexada à velocidade, mas também atua de forma a filtrar movimentos de pequena amplitude em curvas, o que acaba por atender a maior parcela dos consumidores, mas que não é a melhor solução para quem é mais fanático de direções que informam tudo que acontece debaixo dos pneus. Mesmo assim, o esforço é correto, não sendo leve demais em nenhum momento, e o projeto de suspensão permite que as rodas estercem para atingir um diâmetro de giro bem contido, de apenas 10,2 metros.
A visibilidade não tem problemas, com vidros de boa área e retrovisores ótimos, principalmente os externos, que ajudam muito. Debaixo destes ficam as câmeras laterais.
Somando o diâmetro de giro pequeno, a visibilidade e a altura livre do solo de 200 mm, vem uma medida de passagem a vau (nível de água) de 450 mm, um número bastante elevado, e que permite ao Kicks enfrentar com tranquilidade enxurradas, desde que o motorista tenha noção de não exagerar. Isso vai bem ao encontro das explicações do Marketing da Nissan, que vê o cliente típico não como quem quer um veículo misto para viagens pouco frequentes em situações de piso ruim, mas que encara as atribulações do cotidiano nas cidades como uma aventura. Se parece exagero, basta circular num dia normal de trabalho e escola com chuva em São Paulo para entender os desafios. Lembrem-se das lombadas (dejetos viários) e valetas de escoamento de água, algo totalmente fora de moda e inúteis, mas que permanecem existindo em São Paulo principalmente, numa prova de que a história do tempo do Império continua viva.
E os equipamentos eletrônicos ajudam essas situações, como o Controle Dinâmico de Chassi (Chassi Control), que é composto pelos Controle Dinâmico em Curvas (Active Trace Control) e o Estabilizador Ativo de Carroceria (Active Ride Control) que já descrevemos no início, junto do Controle Dinâmico de Freio Motor (Active Engine Brake) que recebe o sinal do sensor de aceleração e da posição do volante, atuando no freio-motor para aumentar a segurança e o conforto em curvas e descidas de serras.
O desenho geral do carro foi feito com informações do gosto nacional, comandado pelo Nissan Design América – Rio (NDA-R). Participaram equipes de design da Nissan em várias partes do mundo, como estúdio de design mundial da Nissan em Atsugi, no Japão, o Nissan Design América (NDA), de San Diego, nos EUA.
Como resultado, há vários detalhes interessantes mas que também são funcionais, ajudando a aerodinâmica. O resultado foi um Cx de 0,345 e pouca turbulência gerada atrás do carro, que aumentariam o arrasto e consumo de combustível. Nesse assunto, o Kicks aparece bem cotado, com nota A no PBEV — Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular do Inmetro — e consumos de 11,4/13,7 km/l cidade/estrada com gasolina e de 8,1 e 9,6 km/l, idem, com álcool, o que é bom e necessário dado o tanque bem pequeno de 41 litros. Na nossa avaliação “no uso” iremos olhar em detalhes o consumo para entender se o usuário ficará satisfeito com esse tanque de capacidade tão pequena.
Para monitorar o consumo, essa função está presente no computador de bordo, mostrado no quadro de instrumentos. A novidade aqui é o velocímetro físico, com ponteiro real, e cerca de dois terços da área sendo digital, onde se pode selecionar o conta-giros com ponteiro virtual. Há também configurações do sistema de áudio, comandos para configuração do controle do chassi e dos sistemas avançados de assistência de freio e estabilidade ao motorista, bem como temperatura do motor e bússola. O sistema de navegação por satélite também é exibido no quadro, mas só as instruções do percurso, ficando o mapa para a tela central, de desenho muito bom e claro, sem reflexos.
Os bancos são ótimos, não cansando nem mesmo seu escriba, que estava em condições semigripais e saiu inteiro do carro. Acho que saí melhor do que entrei, na verdade. A Nissan informa que a configuração ortopédica desses bancos foi desenvolvida a partir de instruções da Nasa, que participou com o entendimento da melhor posição para o corpo quando ele está em gravidade zero, daí o termo zero gravity para descrevê-los. O espaço é normal na frente, sem problemas, e atrás, mesmo com o banco dianteiro todo recuado, consegui me acomodar sem esforço, e sem esmagar o encosto com os joelhos. Mesma coisa para cabeça, eu coube sem nenhum conflito.
O porta-malas não sofre perda com o bom espaço para quem senta atrás, com 432 litros. A cobertura de bagagem é bipartida, com a parte mais próxima do encosto abrindo para permitir colocar ou retirar objetos por dentro do carro, algo bem interessante, e surgido aqui no Brasil na perua Del Rey Scala, lá por volta de 1985. A divisão de espaço banco dianteiro/traseiro/porta-malas foi bem inteligente, sem exagero na dianteira, permitindo volume notável para quem vai atrás e espaço para bagagens tranquilizador. Colaboraram para isso o entre-eixos grande, 2.610 mm, sem que o Kicks seja comprido, pois tem apenas 4.295 mm.
O interior tem couro verdadeiro e sintético, como no painel de instrumentos, por exemplo, com acolchoamento e costuras reais. São três cores, preto, marrom– chamado machiatto – e o areia (sand).
O motor é batizado HR16DE, com quatro cilindros, 1,6 litro e 16 válvulas. Tem 114 cv de potência máxima a 5.600 rpm, torque máximo de 15,5 m·kgf a 4.000 rpm (com gasolina ou álcool) e conta com variador de fase na admissão e escapamento. Para o mercado brasileiro, esse motor é flexível em combustível e utiliza o sistema Flex Start, que conta com um sistema embutido que aquece o álcool no caso de partida a frio quando a temperatura ambiente é baixa, sem necessidade de injeção de gasolina, portanto sem o respectivo reservatório no compartimento do motor. Apesar da potência ser bastante contida, o peso do carro em ordem de marcha é de apenas 1.142 kg, o menor dessa categoria de carro, o que permite aceleração de 0 a 100 km/h em 12 segundos, com velocidade máxima de 175 km/h, desempenho bem adequado para o uso a que se destina.
Acoplado ao motor, a já conhecida e novíssima transmissão CVT (continuamente variável), XTRONIC, com simulação de degraus de marchas, eliminando a sensação que muitos não gostam nas CVT tradicionais de não se sentir nenhuma troca de marcha. Há porém algumas situações que parece haver um tempo de conversa entre motor e transmissão até que esta se estabeleça numa posição das polias. Isso se nota pela movimentação do ponteiro do conta-giros. Mas em velocidades de cruzeiro não há nada que o desabone. Há o comando da função Sport na alavanca, que faz o motor trabalhar em rotações mais altas, permitindo retomadas de velocidade mais rápidas. A 120 km/h a diferença de rotação é de 1.000 rpm para mais, com 2.500 rpm na condição normal, e 3.500 na Sport. Um aviso luminoso verde acende junto do velocímetro.
Nas suspensões, tudo bem tradicional, McPherson na frente e eixo de torção atrás, perfeito para facilidade de manutenção, e funcionamento sem críticas. Com as assistências eletrônicas, formam um conjunto verdadeiramente eficiente no Kicks, não faltando confiança ao se dirigir em nenhuma condição.
Há apenas a versão SL, que é a de topo, e a empresa não informa se haverá uma outra mais básica no futuro, mas pode-se apostar que sim, dado o nível de equipamentos superior aos concorrentes.
Principais equipamentos:
Sensor de estacionamento; controles eletrônicos de tração e estabilidade; sistema de assistência de partida em rampa; travamento central automático das portas e do porta-malas com o veículo em movimento (a partir de 24 km/h); abertura e fechamento das portas e vidros dianteiros e traseiros através de controle remoto da chave; faróis com temporizador; engates Isofix para bancos de crianças; bolsas infláveis frontais, laterais e de cortina; retrovisores externos com regulagem elétrica e repetidoras de setas; sistema eletrônico de ignição por tecla stop-start; banco traseiro bipartido 60/40 dobrável; acendimento automático dos faróis; apoios de cabeça reguláveis para os cinco ocupantes; bancos revestidos em couro; rádio com CD player e entradas USB; central multimídia; ar-condicionado automático digital; câmera 360° com detetor de presença e movimento, trabalhando junto com câmera de ré para manobras; GPS.
Preço: R$ 89.990,00
JJ
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