Morar em cidade grande tem algumas vantagens mas certamente um dos maiores inconvenientes é conviver com o ruído. Claro que isso não se aplica a todas as metrópoles. Já estive em várias onde o nível de barulho é bem aceitável — o que certamente não é o caso de São Paulo. Sempre que volto de uma viagem me incomodo com isso. Boa parte da culpa é das motos que parecem não saber que o deslocamento depende de acelerador, rodas, motor e outras coisas que nada têm a ver com a buzina. E buzinar pode ser infração de trânsito (foto de abertura).
Algum tempo atrás um leitor do AE sugeriu buzinas descartáveis para motos com um número limitado de toques. E disse que deveriam ser caríssimas. Adorei a ideia e acredito que se tivessem uma cota de, sei lá, 150 toques, a maioria dos motoqueiros que andam por São Paulo ficaria sem o acessório em menos de uma hora.
Há meses convivo com obras viárias perto da minha casa. Intermináveis até porque são feitas em etapas esquizofrenicamente. Nada faz sentido. A Prefeitura inaugurou uma ponte sem que os acessos estivessem prontos. E ora quebra um lado da rua, ora o outro, afunilando o trânsito, desviando-o para um lado, depois para o outro — e a cada vez, novas obras, ainda que provisórias, são feitas. E dá-lhe britadeira, sujeira e confusão. E ainda tem a rotatória, com sinalização confusa, semáforos totalmente desregulados e motoristas mal educados que teimam em se adiantar mesmo com o farol no amarelo. O que acontece? Fecham os acessos e impedem a circulação de quem não pretende entrar na rotatória. E isso dura 24 horas por dia. Segunda-feira, aliás, teve uma um acidente seríssimo com três carros. De um deles não sobrou praticamente nada. E o que faz boa parte dos motoristas? Buzina.
Como disse antes, deslocamento não tem nada a ver com som — portanto não adianta buzinar histericamente já que os veículos não poderão se mexer. É claro que não pactuo com quem fecha um cruzamento, mas buzinar durante cinco minutos não vai fazer com que o sujeito saia do lugar e apenas vai incomodar quem mora nas imediações. E a CET faz algo? Acho desnecessário discorrer sobre isso. Vocês já imaginam e certamente acertarão a resposta.
Mas assim como os motoqueiros, muitos motoristas não sabem que somente pode-se buzinar em casos específicos. Outros, é claro, sabem disso mas preferem ignorar, assim como as autoridades que não fazem nada. Raríssimos são os casos de motoristas multados por buzinar quando não deveriam fazê-lo. Moto, então, não conheço um único caso embora haja tantas oportunidades para isso.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é bem específico quanto a isso. O Artigo 41 diz que somente pode-se buzinar:
– Para fazer as advertências necessárias a fim de evitar acidentes
– Fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo.
Outro artigo, o 227, determina multa para quem buzinar:
– Em situação que não a de simples toque breve como advertência ao pedestre ou a condutores de outros veículos
– Prolongada e sucessivamente a qualquer pretexto
– Entre as 22 horas e as 6 horas
– Em locais e horários proibidos pela sinalização
– Em desacordo com os padrões e frequências estabelecidos pelo Contran.
Confesso que se adiantasse de algo eu mesma me postaria na maldita rotatória distribuindo exemplares do CTB com os dois artigos grifados com caneta Pilot fosforescente e marcador de página. E vários motoristas cometem várias infrações simultaneamente apenas no que diz respeito às buzinas – sem mencionar fechar cruzamento, atravessar o farol no amarelo ou mesmo no vermelho etc, etc.
Não são apenas os carros e motos que emitem barulho desnecessariamente. Canso de ver motoristas de ônibus que aceleram com o veículo parado ou esticam as marchas irritantemente, provocando ruído, prejudicando o motor e ainda promovendo desconforto entre os usuários. E tudo isso totalmente à toa.
Tecnicamente, considera-se ideal (ou suportável), ruído abaixo dos 60 decibéis mas o nível máximo de conforto é de 55 decibéis no período diurno e 50 decibéis no noturno. Já a partir dos 80 o ruído é danoso para o ser humano e a partir de 85 pode haver lesões irreversíveis ao ouvido interno.
Mas não satisfeitos com as buzinas e os barulhos totalmente desnecessários, tem um monte de sem-noção que liga o som (bem, a palavra exata não é bem essa) no volume máximo, ajudado por baterias extras, abre as janelas e faz do carro um trio elétrico ambulante que obriga todos num raio considerável a ouvir a mesma… digamos, música.
Não é apenas implicância minha a questão do barulho. É realmente uma questão de qualidade de vida e até de saúde diretamente. Um estudo da Organização Mundial de Saúde de 2011 vincula o excesso de ruído até a mortes, em função de severidade e tempo de exposição. Segundo o trabalho, inicialmente a pessoa tem apenas dificuldades em dormir mas depois começam os distúrbios severos de sono e, após algum tempo, os níveis de hormônios começam a sofrer alterações. Em seguida aparecem hipertensão arterial, elevação da taxa de colesterol, ambos fatores de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares que podem levar ao infarto e até mesmo à morte. Tem diversos estudos sobre isso, inclusive teses de mestrado e doutorado de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Assim como gostei da ideia da buzina para motos com tempo de vida limitada adoraria que fosse criado um capacete com exatamente o som da própria buzina para que pudesse colocar (colar seria melhor, assim não tem como remover) na cabeça daqueles que acionam esse acessório desnecessariamente. Coisa de uma semana seguida, sem poder tirar nem baixar o volume. E a mesma coisa para os pancadões ambulantes, que apenas o sujeito escutasse. Acredito que isso entraria para o acervo de qualquer museu de instrumentos de tortura, mas talvez tivesse algum uso didático.
Mudando de assunto: adorei a corrida de Cascavel (Paraná) da Stock Car de domingo. As duas baterias forma super emocionantes, com uma lindíssima ultrapassagem do Cacá Bueno sobre Marcos Gomes e depois várias manobras bonitas entre os dois e o Ricardo Zonta. E a do Rubens Barrichello sobre Marcos Gomes. Teve toque? Claro que sim, mas se tem um esporte de contato é a Stock Car brasileira – assim como a Nascar americana. A chegada da segunda bateria, com a ultrapassagem do Rubinho sobre Allam Khodair a metros da bandeirada, foi incrível.
NG