Desde abril de 2016, quando o Mobi foi lançado, ele já apareceu algumas vezes aqui no AE em diferentes matérias e um uma grande quantidade de comentários. Acredito que quase tudo já tenha sido dito e explicado sobre o subcompacto da Fiat. Inclusive sobre esta versão Way, quando o Bob esteve no seu lançamento em junho deste ano. Então vou aproveitar a chance para dividir algumas impressões gerais, e até ser um pouco repetitivo, apenas para explicar alguns pontos.
O mercado brasileiro tem uma particularidade que todos nós conhecemos bem chamada carro popular, em que modelos com motor até 1-litro tem o benefício do IPI reduzido, alíquota de 7%. Com isso surgiram versões básicas e com motores de 1 litro para baixar os preços do segmento de entrada e assim expandir as vendas. Ao longo do tempo o conceito de carro popular foi evoluindo e os modelos 1-litro começaram a ficar mais recheados e com desempenho mais atraente. O mercado os aceitou bem! E o brasileiro, que sua bastante para obter o seu dinheiro, conseguiu então ter o seu carro zero, com um bom tamanho e espaço interno, bom nível de equipamentos e um desempenho minimamente satisfatório para atender a família, ou ainda como segundo carro.
Até aí nenhum carro foi concebido ou projetado como carro de entrada, ou carro popular na sua essência. Todos os modelos partiram de modelos já existentes e que tinham uma gama enorme de versões e variações, para diluir os custos e atender a vários tipos de consumidores. Os menores carros do mercado eram os compactos.
É certo que em outros países carros menores que os compactos, os subcompactos, nunca foram e ainda não são um sucesso de vendas. Exceção é o Japão, onde os pequeninos kei-cars são bem aceitos devido a limitações de espaço. No entanto, aqui e em outros países o carro tem que ser versátil, e atender a várias necessidades, mesmo que esporádicas como levar alguém com malas grandes ao aeroporto ou viagens mais longas. Compramos carros que atendam todas as nossas hipotéticas necessidades. Daí o carro pequeno e racional não é bem visto pois atende “apenas” 90% (ou próximo disso) das nossas necessidades.
Um outro problema é que carro pequeno está intrinsecamente ligado a preço pequeno. O que nem sempre é verdade, possível ou é a estratégia do fabricante. Fazer um carro que nos atenda em tudo, conforto, equipamentos, qualidade, durabilidade, segurança, tecnologia, deixa pouca margem para redução de custo pelo tamanho, ou uma diferença de preços muito pequena. E o mercado provou que carros muito básicos não são bem vistos. O argumento é sempre o mesmo: por que comprar um carro peladão se posso comprar um seminovo completão?
E vejam essa. O Tata Nano, o carro mais barato do mundo, concebido do zero para ser barato, para um mercado de baixíssima renda, foi um fracasso enorme de vendas. E recentemente o dono da Tata, Ratan Tata, explicou o erro estratégico do Nano. Ele foi massivamente chamado de “carro mais barato do mundo”. Porém até os indianos não querem andar ou serem vistos em algo que seja o mais barato do mundo. Uma questão puramente emocional! A Tata agora está revendo o posicionamento do Nano. Houve também o fato inesperado de que muitos consumidores ainda preferiam andar de moto para se livrar do trânsito caótico.
Ao que tudo indica, carros subcompactos premium, ou bem carregados de tecnologia, conforto, segurança e econômicos são mais atraentes, justamente para os consumidores que conseguem entender que é impossível ter um carro que atenda 100% de nossas necessidades e prezam pela funcionalidade e praticidade de um carro pequeno e econômico. Veja o sucesso do 500, por exemplo. Mas aqui no Brasil o 500 tem desempenho fraco em vendas, assim como o Opel Adam ou o Renault Twingo também teriam. Nosso mercado ainda não é maduro suficiente para entender a proposta desses carros. Obviamente reforçado por preços altos por serem importados.
Bem, está claro que a equação do carro subcompacto é uma das mais difíceis de se resolver. Mas eles são importantíssimos. pois são uma boa porta de entrada e a chance de atrair jovens para as marcas. Se bem feitos podem conquistar clientes para a vida toda.
Na Europa a Volkswagen fez várias tentativas até chegar à fórmula do up! que ainda está longe de ser um campeão de vendas. Mas apostando na racionalidade e nos centros urbanos cada vez mais populosos e sem espaço resolveu lançar o up! por aqui também. Este sofreu tantas críticas e apenas agora está se consolidando como um modelo de muitas qualidades. E entre elas o aproveitamento inteligente do tamanho/espaço.
Carros subcompactos não podem atender expectativas diversas e de toda a população. Têm tamanho reduzido, não acomodam carrinho de bebê, tem banco traseiro apertado, não servem para viagens longas e não são nada esportivos. Porém têm que caber em vagas pequenas, consumirem pouco combustível, serem ágeis, descomplicados e práticos. E como apresentam limitações têm que ter um preço um pouco mais baixo. Mas isso vai depender do nível de tecnologia, segurança e conforto empregados.
Serve como primeiro carro de jovens, para casais jovens, como segundo carro da família, um carro para solteiros que não viajam muito, pessoas que não usam muito seus carros, para pessoas maduras e que não precisam de muito espaço, para solteiros e variações de tudo isso.
Não serve para alguém que tem e gosta de carros maiores mas quer trocar por um carro novo que caiba no bolso. Não serve muito também para aqueles que não se incomodam de comprar carros usados. E menos ainda para quem acha que um carro tem que atender 100% das situações possíveis. Quem tem um carro compacto e compra um subcompacto só vai ser feliz se mudou seu estágio de vida e/ou suas necessidades.
Bem, tudo isso é o que eu pensei antes de iniciar meu relato sobre o Mobi Way. O Mobi não pode ou não deve ser comparado com compactos ou usados, pois a comparação seria injusta.
Para situar o Mobi no mercado vamos aos números, comparando-o com o up! e com seu irmão maior, o Uno. A média mensal de emplacamentos, de maio (primeiro mês completo de vendas do Mobi) até setembro de 2016 foi de 3.186 unidades para o Mobi, 2.810 para o Uno e 3.000 para o up!. Os números dos três modelos não são bons, reflexo de um momento de mercado muito difícil. Mas o Mobi ainda leva uma vantagem. Uno e up! venderam menos depois do Mobi, mas Uno esteve em fim de linha do motor Fire e VW passou por muitas dificuldades de produção e posicionamento de produtos. Então essa queda dos dois modelos não pode ser diretamente atribuída ao Mobi.
O Mobi parte de R$ 32.380 na versão Easy (que e está com preço promocional de mágicos R$ 29.990) e chega até R$ 44.460 na versão mais completa Way On (testada). O Uno (versões 1-litro) parte de R$ 41.840 na versão Attractive 4-portas (29% mais cara que a versão de entrada do Mobi) e vai até a Way por R$ 47.610 com o mesmo nível de equipamentos (7% mais cara que o Mobi Way On). E o up! 4-portas parte de R$ 36.750 para o take up (13,5% mais caro de o Mobi) e vai até o cross up! MSI por R$ 48.310 (8,7% mais cara que o Mobi Way On). Em termos de tabela o Mobi leva vantagem apesar de poder haver diferenças de equipamentos, que não acredito serem muitas.
O Mobi é mais barato e vende mais, ou seja, está encontrando o seu espaço. E um fator importante para isso é o visual. Não há quem não goste do Mobi. Melhorando um pouco a sentença, não há quem não o ache simpático. Bem diferente do up! que demorou muito tempo até ser assimilado. Simplificando: o Mobi é emoção e o up! é razão. Emoção a gente sente, razão a gente pensa. Como a maioria sente mais facilmente do que pensa… Acredito que aqui no AE nossos leitores sejam mais pensativos. No entanto o mercado prova que se tem que gastar muita saliva para justificar a razão, vide também o caso Etios.
Em relação ao Uno o Mobi é um pouco menos alegre, algo como um cãozinho bravinho, ainda assim mantendo a simpatia e a vontade de brincar. Aqui em casa filha, esposa e sogra adoraram o seu desenho, que no Way On tem para-choques dianteiro e traseiro exclusivos, proteção nos arcos dos para-lamas, rodas de 14″ exclusivas e barras no teto.
Vamos ao tamanho. O Mobi, simplificando bem a descrição, é um Uno com entre-eixos menor (2.305 contra 2.376 mm). Diferente do up!, que foi um carro concebido do zero e aumentado para o Brasil. Minha filha e seu namorado não reclamaram do espaço. Ela inclusive o viu como potencial primeiro carro, pois uma amiga sua que está completando 18 anos será presenteada com um Mobi. Mas a filhota não andou atrás e os trajetos com três pessoas foram curtos, de no máximo 40 minutos. Já minha esposa, que já teve um Uno Way, reclamou muito do espaço: “Não consegui colocar minha bolsa atrás do banco!”. Bem, o Mobi é mais para minha filha do que para minha esposa. Atrás é apertado mesmo e ponto. Quebra um galho e como o primo Arnaldo o descreveu é um pouco melhor que um 2+2.
O porta-malas obviamente é reduzido (215 litros contra 285 do up! e 280 do Uno), mas vem com uma caixa bem útil para acomodar objetos menores e que pode ser removida. Como deriva do Uno seu banco traseiro é grande e apesar do encosto bipartido e rebatível, ocupa um espaço enorme quando rebatido. bem diferente do banco do Honda Fit, por exemplo, que para mim é o exemplo a ser seguido por todos os fabricantes pela facilidade extrema de uso e inteligência no aproveitamento do espaço — especialmente o assento do banco traseiro que rebate para cima.
A posição de dirigir é agradável, bem alta, o que a maioria das pessoas aprecia hoje em dia (eu não) e o espaço dianteiro é bem satisfatório. Minha esposa apontou algo que também me incomodou. A versão testada tem um console com porta-objetos no teto que é útil, mas muito pronunciada causando um desconforto pela presença, mesmo que não tão próxima da cabeça. Outra coisa que me chamou atenção foi a dificuldade de encontrar um lugar para acomodar o celular com a tela visível. Um carro para jovens deveria ter o suporte que a VW colocou no Gol, ainda mais sendo a Fiat. No painel, à frente do passageiro dianteiro, há um lugar perfeito para um porta-objetos adicional.
A suspensão do Mobi realmente foi muito bem acertada. o Bob e o Arnaldo também gostaram bastante. Veja a descrição completa do Bob aqui. De fato o trabalho de “aplainar” o piso é excelente e o nosso corpo agradece. Além disso, a sensação de segurança e confiança é muito boa até em velocidades mais elevadas. O equilíbrio do carro, mesmo sendo curtinho, é excelente (o entre-eixos é igual ao do 500). A calibração da direção de assistência hidráulica é muito boa e ajuda a manter a tocada confiante. Mas as reações e balanços na cabeça são notáveis devido ao entre-eixos reduzido, à elevada altura de 1.550 mm, e à posição elevada dos bancos. Preço a ser pago pela altura extra. O Mobi Way tem altura do solo de 171 mm, 14 mm maior que nas outras versões. Os pneus 175/65 R14 o ajudam a ser um papa-buracos, e a suspensão também é muito silenciosa.
É uma pena termos recebido esse modelo ainda com o motor 4-cilindros. A Fiat deve introduzir o novo 3-cilindros no Mobi, veja aqui, em breve. O primo Arnaldo gostou bastante da aplicação do motor Fire Evo no Mobi. Para mim o novo Firefly 3-cilindros deve deixá-lo bem melhor, pois o torque máximo sobe dos 9,5/9,9 m·kgf (G/A) a algo elevadas 3.850 rpm para 10,4/10,9 m·kgf a melhores 3.250 rpm. A potência mudou pouco, pois perdeu 1 cv com gasolina e ganhou 2 cv com álcool (72 cv a 6.000 rpm e 77 cv a 6.250 rpm).
Mas o resultado é que isso proporcionará uma agilidade extra que eu prezo muito. Posso até ser forçado a andar a míseros 50 km/h, mas adoro chegar lá no menor tempo possível. Como o Fire é girador, gosta de rotação, ele se sai melhor na estrada. Com o novo motor é certo que perderá também o anacrônico reservatório de gasolina para partida a frio quando abastecido com álcool.
Na cidade, com álcool, fiz médias de apenas 5,5 km/l em trânsito pesado até 8 km/l num domingo. Na estrada cheguei aos 12 km/l andando bem tranquilo. Ambos com álcool. Mas como apontamos aqui no AE, isso é só uma referência pois há muita variação no consumo real dependendo de uma série de fatores incontroláveis.
O único opcional na linha Mobi é a cor metálica, que custa R$ 1.265. Acertadamente, pois facilita muito a vida do consumidor comum, existem três níveis ou versões: a Easy, a Like e a Way, e suas derivadas e mais completas Easy On, Like On e Way On. O Mobi Way On verde Amalfi (que parece azul) é o mais caro de toda a linha com preço total de R$ 45.725.
Mas a lista de equipamentos é grande e cheia de mimos como sensor de estacionamento traseiro, espelho do lado direito com rebatimento quando a ré é engatada, regulagem de altura dos cintos dianteiros e porta-revistas nos encostos dos bancos dianteiros, entre outros. Dessa lista dois itens me chamaram a atenção, o HSD (High Safety Drive) e o Lane Change. Realmente eu pensei que se tratavam de equipamentos de categorias superiores e fiquei intrigado em não tê-los percebido durante o teste. Culpa do marketing da Fiat. O HSD nada mais é que o conjunto de bolsas infláveis frontais e ABS (obrigatórios por lei!) e o Lane Change é o simples pisca-5, que aciona as luzes de direção por cinco vezes com acionamento parcial da alavanca de seta. Fala sério!
O sistema de áudio poderia ser melhor na qualidade do som e no acionamento dos botões. Mesmo com o meu celular já pareado não consegui uma maneira de conexão automática ao ligar o Bluetooth do meu celular. E os mostradores do painel de instrumentos ficam invisíveis dependendo do reflexo. Nunca vi um carro assim.
O Mobi já está encontrando seus consumidores, é atraente atende bem o seu propósito. E a versão Way On, é atraente tanto no visual quanto no nível de equipamentos desde que seu posicionamento de preço mantenha uma boa distância dos carros compactos e de carros com mais tecnologia e usabilidade, como o up!, por exemplo. E quando o mercado entender melhor sua proposta ele poderá ter um papel de mais destaque.
PK
(Atualizada em 27/10/16 às 15h30, correção de informação do tipo de assistência de direção, hidráulica e não elétrica)
FICHA TÉCNICA MOBI WAY ON | |
MOTOR | |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido / alumínio |
Configuração / n° de cilindros | Em linha / 4 |
Diâmetro x curso | 70 x 64,9 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Aspiração | Atmosférica |
Taxa de compressão | 12,15:1 |
Potência máxima | 73 cv a 6.250 rpm (G) / 75 cv a 6.250 rpm (A) |
Torque máximo | 9,5 m·kgf a 3.850 (G) / 9,9 m·kgf a 3.850 (A) |
N° de válvulas por cilindro | Duas |
N° de comando de válvulas /localização/acionamento | 1 / cabeçote /correia dentada |
Formação de mistura | Injeção eletrônica no duto |
Gerenciamento do motor | Magneti Marelli integrando injeção e ignição |
ALIMENTAÇÃO | |
Combustível | Gasolina com álcool e/ou álcool |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Monodisco a seco, comando mecânico a cabo |
Câmbio / rodas motrizes | Transeixo manual / dianteiras |
N° de marchas | 5 à frente e 1 à ré |
Relações de transmissão | 1ª. 4,273:1; 2ª. 2,216:1; 3ª. 1,444:1; 4ª.1,029:1; 5ª. 0,838:1; ré 3,909:1 |
Relação do diferencial | 4,200:1 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido, ABS |
Dianteiros | Disco Ø 257 mm |
Traseiros | Tambor Ø 185 mm |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal. amortecedor pressurizado e barra estabilizadora Ø 18 mm |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor hidráulico |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica |
Diâmetro mínimo de curva | 9,96 m |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 5,5Jx14 |
Pneus | 175/65R14T |
Estepe | Roda de aço 5,5Jx14, pneu 175/65R14T |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 966 kg |
Carga útil | 400 kg |
Peso rebocável (sem freio) | 400 kg |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback 4-portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 3.596 mm |
Largura (sem espelhos) | 1.685 mm |
Altura | 1.550 mm (inclui as barras de teto) |
Distância entre eixos | 2.305 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.396 /1.400 mm |
Distância mínima do solo (vazio) | 171 mm |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 215 litros |
Tanque de combustível | 47 litros |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h) | 151 (G) / 152 (A) |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 14,6 (G) / 13,8 (A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBE) | |
Cidade | 11,9 km/l (G) e 8,4 km/l (A) |
Estrada | 13,3 km/l (G) e 9,2 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª | 30,3 km/h |
Rotação em 5ª a 120 km/h | 3.960 rpm |
Rotação à velocidade máxima em 4ª | 6.200 rpm |
Alcande das marchas a 6.750 rpm | 1ª 40 km/h; 2ª 77 km/h; 3ª 119 km/h; 4ª 152 km/h |
GARANTIA E MANUTENÇÃO | |
Duração da garantia | 3 anos |
Revisões, intervalo (km) | 10.000 |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000 / 1 ano |