Relembrando mais um dos deliciosos causos do meu Livro “EU AMO FUSCA II – Uma coletânea de causos de felizes proprietários de Fusca”, outro com pitadas do “mineirês”. Um causo real, relatado pelo Cláudio Manoel das Dores Pinto de Pirapora/MG, que mais parece um “Conto de Natal” fantástico, onde a tolerância foi regiamente recompensada. Com pitadas de suspense e um final surpreendente, é um dos meus causos preferidos.
AG
FELIZ NATAL
Cláudio Manoel das Dores Pinto
Foi em dezembro de 1966 ou 67, não me lembro exatamente. Pegava bico à noite, um táxi Fusca, pé de boi, humildezinho… Era alta madrugada, caía enorme tempestade, ventos, relâmpagos, granizo e trovões! E eu na rabeira da fila. Ninguém pegava o Fusquinha. De repente, em meio à borrasca, surge uma interessante figura. Um “veim” bem “magrim”, paletó “surradim” de brim “marelo”, botina “veia de oreia marela” no pé, “chapeuzim” cabanado na cabeça, guarda-chuva desbotado pelo tempo.
Aproximou se do primeiro táxi obtendo a resposta: “Tchum… Sai fora”! Do segundo “O xente”! Do terceiro: “Rá, ra, rá… ” Do quarto: “Quii…” e assim por diante, as respostas mais zombeteiras até chegar a minha vez:
— Oi, meu fio, tá livre?
—Sim, senhor.
— É uma viagem grande, topa?
—Perfeitamente.
— E o preço?
— 25, 30 centavos o quilômetro — sei lá, faz tanto tempo!
O destino era Visconde do Rio Branco, MG.
A tempestade caía. Com dificuldade chegamos em Barbacena, MG. Que frio!… 0 “veim” falou: “Ê meu fio, tá danado, vamo tomá um esquenta-peito”? Tomamos um conhaque e pegamos novamente a estrada.
Numa baixada, uma surpresa. Um rio enchera represando a estrada. Como prosseguir? A chuva não parava e enquanto pensava, ouvi um barulho de cachoeira. Um aterro rompeu e uma tromba d’água vinha em nossa direção. Comecei a entrar em pânico, estávamos ilhados. Íamos morrer afogados. Não tínhamos tempo a perder. Peguei com meu santo, fechei rápido todo o Fusquinha, engatei uma primeira, acelerei firme, mergulhei por baixo da represa e saímos do outro lado, barreados, encharcados, mas salvos.
Chegando à cidade, vira aqui, vira ali, quando chegamos em frente a uma suntuosa mansão. “É aqui, vamos entrando”. Era Natal e uma grande e linda família, superpreocupada, esperava pelo seu chefe, aquele velhinho.
“Entra, meu filho, toma um banho rápido e vamos cear, assim como eu, deve estar faminto”. Em clima de muita alegria o velhinho me pergunta: “Gosta de música sertaneja”? “Gosto”. “Então começa a cantar”. Um violão, um cavaquinho e um pandeiro entoaram seus pinhos e a pedidos fui cantando: Noite Feliz, Colcha de Retalhos, Menino da Porteira, Mula Preta, Besta Ruana, Felicidade, Meu Ranchinho e muitas outras.
O sono chegou e me colocaram numa ótima cama. Quando acordei, o bravo Fusquinha estava lavado, abastecido e repleto das mais belas iguarias. Havia um grande envelope com a recomendação: “Só abra quando chegar em casa”. Quando o abri tinha um cheque que cobria mais de dois anos de meus salários, cartões e bilhetinhos de agradecimento de toda a família.
Esta é, pois, uma história incrível, de um final feliz. E hoje, quando entro na minha nova Parati e contemplo toda a evolução da Volkswagen. não consigo me esquecer daquele Fusquinha, que, como o “veim” do passado era humilde, mas valoroso e me fez acreditar nas pessoas, no Santo e nesta marca que me acompanha por toda a minha vida.
AG
Nota: A foto de abertura deste causo é uma fotocomposição feita por mim a partir de um fotograma do vídeo “Fusca Pantaneiro… Estrada Parque…” postado no YouTube por Junior Duarte. Programas empregados: Photoshop, site “funny.photo” e site “168.lunapic”.
REGISTRO: após da mudança de provedor ocorreu a perda parcial de material fotográfico que foi recolocado nesta matéria no dia 05/02/2017. Este procedimento, feito pelo autor, complementou o trabalho feito pelo Staff do AUTOentusiastas na condução da transferência de muitas centenas de matérias para “seu novo lar”. Com isto esta matéria foi reconduzida à sua condição original, respeitando as condições de arquivo existentes, pequenas diferenças podem ter ocorrido.
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