Mesmo que me aborreçam, defendo os limites de velocidade e os radares para obrigar os motoristas a respeitá-los.
Desci outro dia, tarde da noite, no aeroporto de Guarulhos e tomei o táxi para um hotel no centro de São Paulo. O motorista dirigia bem e andava rápido, sem exageros. Até que tirou o pé e o carro quase parou. Estranhei, perguntei e ele me explicou: “Estamos na marginal”. Que estava quase vazia naquele horário e ele em ritmo de lesma. Me lembrei então dos limites impostos pela prefeitura paulistana que deram tanto pano para manga. Andar daquele jeito era um contrassenso e me ocorreu que, pelo menos tarde da noite, a velocidade poderia voltar para 90 km/h. Um sistema que já existe na Europa: a velocidade é determinada eletronicamente nos painéis e varia de acordo com as condições da estrada.
Velocidade máxima será sempre pomo de discórdia: quem, como eu, gosta de acelerar, vai sempre criticar e lembrar às autoridades brasileiras que na Alemanha não existe limite nas rodovias e nem por isso se vê um genocídio no asfalto. Nem todos os motoristas podem ter habilidade ao volante, mas nas Autobahnen só rodam automóveis modernos e dotados de dispositivos de segurança. Nada de BMV (Brasília Muito Velha) e outras temeridades mecânicas colocando em risco a segurança de todos como no Brasil. Mesmo que me aborreçam, defendo os limites de velocidade e os radares para obrigar os motoristas a respeitá-los. Melhor ainda seria a fiscalização que apura a média horária entre dois pontos e coloca um ponto final à hipocrisia de frear antes do radar e pisar fundo depois dele.
Limite de velocidade é sempre discutível pois há incoerências em seus valores. E faz uma minoria dos apaixonados pelo automóvel (e pela velocidade) bradar contra a “indústria da multa”. Mas existem outras infrações que dependem de policiais na rua para autuar o motorista como o desrespeito à faixa de pedestres, falar ao celular, ou não sinalizar mudança de faixa e conversões. Até avanço de sinal já é também detectado eletronicamente.
O professor Horácio Figueira (especialista em transportes da USP) fez há tempos uma pesquisa sobre infrações colocando fiscais para anotar infrações em esquinas da cidade de São Paulo e concluiu que:
1 – apenas 30% dos motoristas cometem irregularidades no trânsito;
2 – para cada notificação emitida, mais de quatro mil não são registradas.
Bastaria, portanto, uma efetiva fiscalização do trânsito para se emitir pelo menos dez vezes mais multas. Mesmo considerando-se uma desejada redução das infrações com o maior rigor nas autuações.
Nada melhor que a “indústria da multa” para sossegar os ânimos de quem comete infração a torto e a direito, com a quase certeza da impunidade, haja vista o reduzido número de autuações em relação ao estarrecedor volume de infrações cometidas.
A falta de fiscalização é a responsável pela maioria das distorções observadas no trânsito e em sua legislação. Inclusive a inexplicável Lei Seca que impede o motorista de acompanhar a refeição com uma única taça de vinho: nosso código de trânsito estabeleceu há quase vinte anos uma alcoolemia (álcool no sangue) razoável, coerente com os do Primeiro Mundo e sem prejuízo dos reflexos do motorista. Bastaria ter dotado os policiais do bafômetro para separar o joio do trigo e autuar apenas os bêbados ao volante. Mas o equipamento só apareceu depois da Lei Seca, para barrar tanto quem bebeu um litro de cachaça como uma taça de vinho.
Não tem outra solução: só com a polícia na rua fiscalizando (e multando) rigorosamente motoristas e automóveis (um absurdo o país não ter inspeção veicular) que se organiza o trânsito e se reduz o número recorde de mortos e feridos nas rodovias brasileiras.
BF