A grande mentira de 2016 foi o preço da gasolina: a Petrobrás o reduz na refinaria, as distribuidoras o aumentam no posto
A Petrobrás anunciou, há dois meses, que o preço da gasolina iria variar de acordo com a cotação internacional do petróleo e a variação cambial. Dito e feito, abaixou o preço de venda na refinaria para as distribuidoras.
E aí veio a grande mentira do ano: dito e não feito, nos dias seguintes o motorista encontrou a gasolina mais cara nos postos. A imprensa questionou e vieram as desculpas esfarrapadas: culpa dos usineiros que aumentaram o álcool (misturado em 27% à gasolina), do custo dos transportes, da inflação, do câmbio, do governo Temer…
Quando a Petrobrás anunciou pela segunda vez (em novembro) outra redução da gasolina, os motoristas previram o pior, imaginando outro aumento na bomba. E não deu outra.
Enquanto isso, por “coincidência”, o Sindicom (sindicato das distribuidoras de combustíveis e lubrificantes) enceta uma grande campanha na mídia contra as fraudes nos combustíveis. Alerta o consumidor sobre sua adulteração e a “bomba baixa” (entrega menos do que marca no visor). O anúncio não explica que uma das responsáveis pelo combustível adulterado é a ANP, que não fiscaliza como deveria os postos. E que tem o próprio motorista como coadjuvante, pois não faz valer seu direito de exigir testes de volume ou qualidade do combustível no posto.
Esperto este Sindicom: reúne na calada da noite seus associados e combina um aumento dos preços da gasolina apesar da redução na refinaria. Faz crescer de forma imoral sua margem de lucro e, com uma pequena parte do butim armado contra o brasileiro, investe em propaganda (“Combustível Legal”) para se fazer passar por uma santa protetora do motorista. A quem está, de fato, enfiando a mão no bolso sem constrangimento. Dizia o Sindicom em seus anúncios que “Quem adultera o conteúdo ou a quantidade do combustível lesa o seu bolso e compromete o seu carro”. Pode?
Se havia alguma dúvida sobre o esquema armado pelo Sindicom, ela foi desfeita na edição de 11 de dezembro do jornal O Estado de S. Paulo: “Sem cartel, preço da gasolina no DF despenca”.
A matéria diz que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) investigava os postos do Distrito Federal, pois os preços cobrados em todos eles eram praticamente iguais. Foi nomeado então um administrador independente para gerir o grupo Gasol, líder de mercado na cidade. O cartel foi imediatamente desarticulado com uma sensível queda nos preços da gasolina em todos os postos. Eles estavam entre os mais elevados do Brasil no final de 2015 (R$ 3,77 em média, o litro) e caíram para R$ 3,62. Em novembro, a gasolina em Brasília foi a mais barata do país. Além da redução, passou a existir também uma variação entre os preços nos diversos postos, que não ocorria no passado.
Não é de hoje que o Cade investiga a formação de cartéis no mercado de combustíveis: desde 2012 já comprovou a existência de mais de 20 deles e aplicou multas de quase R$ 300 milhões. É o que explica a diferença entre a previsão da Petrobrás e a realidade na bomba: ela estimava que a gasolina seria reduzida em cerca de R$ 0,10 por litro para o consumidor depois dos cortes de preços em 14/10 e 8/11. Mas, na bomba, o litro subiu R$ 0,02 em média. Os postos se defendem e acusam as distribuidoras (Shell, Ipiranga, Ale, BR, Raízen e outras, que formam o Sindicom) de não terem repassado o corte da Petrobrás. Curiosamente, até a própria BR, sua distribuidora, aderiu ao esquema.
Preço da gasolina: mentira que rendeu fortunas para as distribuidoras às custas do já combalido bolso do brasileiro.
BF