Eleição de hoje na CBA criou oportunidade rara de corrigir erros. Waldner “Dadai” Bernardo deve justificar que não é continuísmo. Milton Sperafico encerra carreira política.
Aparentemente um resultado que consagra o continuísmo das duas deprimentes gestões de Cleyton Pinteiro, o ambiente em que 17 votantes elegeram hoje Waldner Bernardo para comandar a Confederação Brasileira de Automobilismo de 2017 a 2020 tem potencial para anular essa impressão e recuperar a entidade, e consequentemente o esporte, de uma situação lastimável. Bernardo é afilhado político de Pinteiro, que se elegeu pregando, entre outras coisas, que jamais seria candidato à reeleição e se acorrentaria aos portões de Jacarepaguá para evitar a demolição do autódromo; não cumpriu nem uma coisa, nem outra.
As justificativas para Bernardo cortar esse cordão umbilical são várias: será difícil pintar a entidade em cores mais sombrias, fazer uma administração ainda pior e — o mais importante — a disputa de duas chapas criou um clima de cobrança e fiscalização que há muito não se via. Além disso, o risco de manter as práticas usadas nos últimos tempos pode acender o estopim de um cisão entre as Federações Automobilísticas, as FAUs, algo que colocaria em risco a existência da CBA.
Terminada a votação e aberta a urna na sala de reunião do sétimo andar no 8º andar da rua da Glória, 290, no Rio de Janeiro (foto de abertura), as 17 cédulas foram divididas em duas pilhas, algo incomum em um sufrágio normalmente encerrado por aclamação. Uma pilha mostrou dez votos a favor de Bernardo (AL, BA, CE, MA, MG, PB, PE, RN, SC e SE) e outra, de sete, os que apoiaram Milton Sperafico (ABPA, GO, PA, PR, RJ, RS, SP). As federações do Espírito Santo (pendências financeiras) e Mato Grosso do Sul (ausente) não votaram. Conferida essa contagem os dois candidatos se cumprimentaram, demonstração de educação e polidez num ambiente conhecido por manobras subterrâneas, e notou-se, segundo Betto D’Elboux (assessor de imprensa do paranaense) um clima de camaradagem entre todos.
Uma atitude de Felipe Giaffone, presidente da Associação Brasileira dos Pilotos de Competição (ABPA) e que certamente exercerá papel importante na nova gestão, porém, deu o tom do que está por vir:
“Embora meu voto pessoal tenha sido para o Dadai, o da ABPA foi para o Milton Sperafico.”
Essa declaração demonstra que o sentimento separatista do universo automobilístico está forte. Importante será usar essa energia para o bem do esporte e não para fazer conchavos típicos de situações similares. Se em toda atividade humana há fortes e fracos em uma mesma competência, cabe moralmente aos mais poderosos gerar a riqueza do conhecimento para que o sistema seja fortalecido, e aos mais fracos a sabedoria de aproveitar essa chance de crescimento. Bom exemplo disso foi dado pela baiana Selma Morais, que cobrou de todos o que se espera quando se trabalha honestamente em prol de uma causa comum:
“A partir de agora, Dadai e Milton têm de se unir e todas as FAUs devem trabalhar juntas em prol do automobilismo.”
De imediato não será isso que vai acontecer. O presidente-eleito terá uma agenda cheia nos próximos dias, algo que seria esperado em sua plataforma de campanha:
“Nós estamos trabalhando no meu plano de gestão para os primeiros cem dias, preciso fechar algumas coisas. Na próxima semana tenho reunião em São Paulo para montar esse planejamento.”
Esse planejamento não deverá ter a participação de Milton Sperafico, que amanhã volta para a sua Toledo, no oeste paranaense:
“O meu ciclo político se encerrou ao fim desta eleição. Agora, como alguém que é apaixonado por automobilismo — está no DNA da família Sperafico — seguirei apenas torcendo para o automobilismo brasileiro.”
WG