Sabem a tal da “pergunta retórica”? Pois é, tenho tantas assim… Minha família toda diz que eu sempre fui muito curiosa. A vida inteira questionei tudo e, pior ainda, continuo assim. Às vezes isso é motivo de algum sofrimento — especialmente quando meus questionamentos são políticos. Mas vá lá, acho bom questionar e sempre fui assim. Desde por que somente um dos sapatinhos da Cinderela não tinha virado abóbora como tudo mais depois da meia-noite, até por que no espaço há infinitos planos? Ué, será que com paciência não daria para contar? Não, Norinha, não dá para contar. Mas ainda assim minha mãe teve que me fazer ver isso com uma folha de papel no ar, na cozinha de casa quando tinha uns 10 anos. Me fez contar durante vários minutos, conforme ela inclinava o papel suspenso no ar. Claro que me perdi na contagem e aceitei que há, sim, infinitos planos. Mas primeiro questionei.
E o pior é que é de família e parece passar de uma geração para outra. Uma vez estava eu com minha irmã e meu sobrinho, que tinha uns 3 ou 4 anos e ele não parava de questionar tudo. “Mãe, por que as folhas são verdes? E lá ia minha irmã explicar o que era a clorofila. Daí a pouco: “Mãe, por que as folhas das árvores caem?” E lá ia ela falar das quatro estações do ano. Mas nós duas, que somos assim, digamos, dadas a conversar, não conseguíamos engatar um papinho nem de cinco minutos. E minha irmã perdeu a paciência e soltou um: filho, para de perguntar tanto por quê, só por um tempinho, por favor… E ele, pensou uns segundos e atacou de volta: “Mãe, por que eu pergunto tanto por quê?”
Pois é, nem sempre temos a resposta para tudo. Mas tem coisas no trânsito que eu simplesmente não entendo. Vamos a algumas:
- Por que há quem ligue o pisca-alerta com chuva?
Num país tropical como o nosso, jamais entendi por que com tanta incidência de chuva as pessoas ainda acham que quando São Pedro nos manda água elas têm de revidar ligando o pisca-alerta com o carro em movimento — seja estrada, rua, avenida, qualquer lugar. Parece vingança. Ele manda água, alguns revidam com luzinhas piscando. Bastam uns pinguinhos no para-brisa que eles sentam a mão na tecla do pisca-alerta. Argumentar com o Código de Trânsito Brasileiro é inútil. Já ouvi resposta ”me sinto mais seguro”. Claro que eu disse: mas não está, e ainda coloca os outros em risco.
- Por que carros 1,0 andam quase que só pela esquerda?
É óbvio que alguns motoristas de carro 1,0 utilizam as demais faixas de rolamento, mas de uma forma em geral, eles adoooooram andar pela faixa 1, especialmente em vias rápidas como marginais e estradas. O Corsa Classic, então… eu sempre fui da teoria que esses carros devem sair de fábrica com problema de alinhamento e por isso eles puxam para a esquerda. Mas eu mesma tive vários carros 1,0 (incluindo um Corsa hatch) e isso não acontecia comigo…
- Por que a maioria dos carros volta para a faixa anterior depois de dar passagem?
Como meus caros leitores sabem, rodo muito em estradas também. E é comum, mesmo nos motoristas mais educados que cedem a passagem quando venho mais rápido, que voltem para a faixa 1 sem nenhum motivo. Geralmente não tem nem carro à frente deles e ainda por cima mantêm a mesma velocidade. Como o Bob diz, tem aqueles que se acham donos da faixa da esquerda. Sempre me surpreendo, pois é uma característica muito brasileira — vejam bem, não exclusivamente, mas sim muito. Na Europa rarissimamente acontece isso — diria até que nunca vi em nenhum país daquele continente. Na África do Sul também não vi nenhum caso e apenas nos Estados Unidos é que isso é frequente. Mas ainda assim, não tanto quanto no Patropi. Assim não adianta fazer estradas com 3, 5 ou 23 faixas pois tem gente que se instala na faixa da esquerda e é como se só tivesse uma.
- Por que caminhões e ônibus deixam somente uma faixa livre à esquerda nas estradas?
Esta é quase um desdobramento da anterior. Transito muito pela Castello Branco, Anhanguera, Bandeirantes… e a maioria dos caminhões anda pela faixa 2, independentemente de quantas estejam livres à direita dele. Já ouvi de ex-motorista de caminhão que quando ele rodava a empresa tinha “proibido” que eles andassem pela faixa 1. Mas pelo visto esqueceram de dizer que é para rodar na faixa mais à direita, ultrapassar pela adjacente à esquerda e voltar. Assim, acaba que estradas com cinco faixas como a Bandeirantes ficam com apenas uma faixa (a de número 1) para os carros leves, pois os caminhões ocupam a 2, enquanto a 3, 4 e 5 ficam livres e acabam obrigando os motoristas de carro a fazer ultrapassagens pela direita. Fica um corredor polonês ou fila indiana (ou alguma outra nacionalidade). Parece que não adianta fazer 38 faixas pois apenas a da esquerda será deixada para carros leves e a faixa 2 será utilizada por caminhões e ônibus.
- Por quê tantos motoristas freiam antes de mudar de faixa?
Essa juro que não entendo. Tem muitos que independentemente de irem para uma faixa mais rápida ou mais lenta freiam antes de mudar. Se não tem nenhuma lógica fazer isso quando se vai para uma faixa mais lenta, quando é para uma mais rápida é o quê? Não é apenas frear desnecessariamente (algo que é proibido pelo CTB) mas é colocar outros carros em risco de uma forma totalmente desnecessária. E, sim, mulheres são maioria nestes casos. Não se trata de bullying nem de preconceito. Apenas constatação de uma mulher (sim, sou mulher) que dirige bastante.
- Por que quando conseguimos ultrapassar, quem nos deu passagem acelera à nossa direita?
Mais uma na mesma linha. Tem gente que parece que dá passagem contra a vontade. E deixa isso bem claro. Sai, vai para a faixa da direita, mas acelera como se para provar que só nos deu passagem porque quis. Então por que não andava mais rápido quando estava na faixa da esquerda? Pois é, já escapou outra pergunta quando estava tentando ensaiar uma resposta. Não disse que eu questiono tudo?
- Por quê tem gente que freia na faixa da esquerda quando pedimos passagem?
Acho que tenho a resposta para isso: maldade pura. Já sofri e vi isso acontecer inúmeras vezes. Seja quando apenas ficamos atrás do carro para que ele nos veja (a técnica do Bob, mas que comigo nunca dá certo; vou tentar fazer careta ou algo assim, pois devo parecer muito fofinha e inocente), quando se dá seta ou mesmo quando se pisca o farol (evito sempre, pois aí é batata que o infeliz vai frear somente para me lascar).
- Por quê tem gente que freia sem necessidade?
Acho que também sei a resposta: não sabem dirigir. Nas estradas, é comum o sujeito frear quando passa por um radar ainda que a máxima seja 120 km/h e ele esteja a 100 km/h. Deve ser força do (mau não, péssimo) hábito. Tem também aqueles que apenas devem achar que estão muito rápidos e freiam do nada. Confesso que nunca vi isso acontecer com alguém realmente rápido – geralmente se dá na faixa dos 70~90 km/h e com frequência nas estradas e nas marginais. Novamente faltam conhecimentos de mecânica e, claro, de Física. Por causa do atrito e da resistência aerodinâmica basta tirar o pé do acelerador que o carro perderá velocidade normalmente, desde que você não esteja numa descida. E, claro, se você tem medo de alguma velocidade ligeiramente mais alta, vá para as faixas da direita ou, melhor ainda, ceda o banco do motorista a outra pessoa.
- Por que alguém que está 5 km/h mais rápido do que outro acha que vai conseguir ultrapassar numa subida?
Vai conseguir, sim, mas depois de intermináveis minutos e distância e de atrapalhar todo mundo. Que tal esperar chegar no plano?
- O que aconteceu com as lembranças de viagem?
Essa não tem rigorosamente nada a ver com trânsito nem com carros, mas me atormenta há anos. Onde vão parar os sombreros mexicanos que os turistas compram em Cancún e desembarcam com eles nas costas presos pelo pescoço, p’ra todo mudo ver? E os berimbaus que os gringos levam quando voltam da Bahia? E os bonecos de pelúcia do Mickey de mais de 1,50 metro de altura? Ou os copos gigantes de drinques que parecem instrumento de sopro, vendidos em New Orleans, e que medem mais de um metro? Suspeito que exista um cemitério de souvenires inúteis e esquecidos talvez até nos aeroportos, logo antes do embarque ou no desembarque, quando o turista já percebeu que não terá o que fazer com aquele trambolho. Seria aí onde iriam parar estas coisas. Mas nem todas. O pai da minha ex-cunhada se encantou com uma armadura quando foi a Toledo, na Espanha, e a comprou. E sim, ela é em tamanho natural. Não faço a menor ideia de como veio de lá, mas lá está ela, no meio da sala da casa deles.
Mudando de assunto: Lembram da “gadofaixa” que mencionei aqui no AE algum tempo atrás? Pois é, Araçoiaba da Serra está sendo acometida pela febre dos radares. Exatamente naquela avenida, onde quase tem mais vacas do que gente, puseram um radar e limite de 30 km/h. É verdade que lá tem, além da Prefeitura, uma escola, mas nunca houve um único acidente. Tem faixas para pedestres, as pessoas andam muito a pé. Mas parece que agora colocam-se radares onde não há necessidade. Fotografei a menos de 50 metros de distância do tal radar uma pessoa andando a cavalo que, por sinal, virou exatamente nessa avenida. Ou seja, ainda há, sim, muita “tração a sangue” naquela cidade. Então por que colocar radar? Sim, claro, mais uma das minhas perguntas retóricas…
NG