Apresentados os números do mês, somente eles faziam crer que a esperada reação veio a galope. Vendas de automóveis e comerciais leves atingiram 188.188 unidades, melhor resultado mensal desde outubro de 15. Um salto de 39% sobre o fraco fevereiro. Caminhões e ônibus também tiraram um pé da lama, emplacando 63% a mais que o mês anterior. Mas houve alguns fatores a considerar, que se não devem ser entendidos como um esfriar dos ânimos, servem para indicar que a reação positiva do mercado neste mês que passou tem ímpeto menor do que os números iniciais sugerem e para que ela se torne consistente, temos de esperar mais para ver.
Março deste ano teve 23 dias úteis, cinco a mais que fevereiro, emplacaram-se 8.008 automóveis e comerciais leves por dia, 8,7% a mais que no mês anterior. Boa reação ainda, mas não um pulo de tigre. Março foi também um mês com mais vendas diretas, isto é, aquelas destinadas a empresas, frotistas, locadoras e produtores rurais. Lembrando que no país do jeitinho temos muitas empresas de uma pessoa só e frota de um só automóvel, haverá aqueles se aproveitando de descontos maiores na hora de levar o seu.
O aumento de vendas nas lojas foi de cerca de 21.000 unidades, já para as vendas diretas o aumento foi pouco menor, aproximadamente 20.000, com este modal representando 38% do total comercializado no mês. Nos últimos doze meses somente junho e outubro estiveram em patamares semelhantes, nos demais meses vendas diretas giram em torno de 30-35%. A troca de vários produtos ano-modelo para 17/18 talvez ajude a explicar por que os frotistas tiraram a sua lasquinha adicional em março, consumindo estoques mais antigos.
Alguns modelos estiveram bem acima da média, Uno, Palio, Logan e Voyage se sustentaram nas vendas com cerca de 70% para canal direto, o que pode indicar enfrentem pouco mais de resistência dos compradores nas concessionárias.
Antônio Megale, presidente da Anfavea, durante a coletiva realizada no último dia 6 falou da melhora nas vendas, porém frisou que aguardaremos mais tempo para ver se há mesmo uma reação consistente.
Há fatores que fazem os ventos soprarem ventos a favor. A taxa Selic vem sendo derrubada pelo BC sucessivamente e a passos largos, alguns até suspeitam que os tempos de manipulação da doutora Dilma parecem ter voltado, mas não é bem assim. Hoje está claro o BC age com maior independência e faz uso correto de suas prerrogativas e basta olhar para a forte queda da inflação, para entendermos que a Selic tem espaço até baixar mais outro tanto. Aqui os juros reais são superiores a 7% ao ano, patamar não muito saudável para uma retomada econômica.
Ventos podem soprar ainda mais forte se uma das reformas passar no Congresso, ou trabalhista ou da previdência. Investidores acompanham com atenção. Em uma delas ocorrendo, a velocidade de recuperação seguramente se acelera. É a aposta de muitos e a deste colunista também.
Outro ponto que vale a pena comentar são as vendas com isenção a pessoas portadoras de deficiências de mobilidade. Uma distorção, e crescente. Inicialmente o programa limitava o número de beneficiários por uma série de fatores físicos. Com o passar dos anos, como sempre acontece aqui, pessoas com dores nos joelhos podem comprar carros com desconto de IPI e ICMS, bastando um atestado médico. Hoje, as vendas para esses beneficiários representam cerca de 10% do total e pessoas com stent no coração já podem pleitear o seu. Com todo o respeito a eles, conheço pessoas com vários stents que correm maratona.
Criou-se uma verdadeira indústria de beneficiários, médicos especializados em conceder atestados, há concessionárias que vendem 50% de seu faturamento a esses beneficiários, casos até de 70%. Essas distorções, se não forem contidas ou revertidas rapidamente, farão que até unha encravada ganhe isenção de imposto. Assim, enquanto discutíamos possíveis estímulos ao setor, temos ao mesmo tempo uma renúncia fiscal comprometida com essa avacalhação.
RANKING DO MÊS E DO PRIMEIRO TRIMESTRE
Num mês em que as vendas saltaram quase 40% sobre fevereiro, tivemos Audi, com 100% de crescimento, Kia, com +82%, Nissan com +70%, Hyundai, com +55% e Toyota com +50%, encabeçando a lista. Na outra ponta, Mercedes-Benz e Fiat com +25%, Honda, com +28% e Citroën, com +31%, todos cresceram também, mas menos do que a média geral e acabaram por ceder um naco de mercado aos concorrentes.
Chevrolet foi a marca mais vendida, com 31.010 emplacamentos, Fiat em segundo, com 23.734 e quase empatada com VW, com 23.449. Hyundai consolidada como quarto fabricante do país, com 18.598 unidades vendidas e Ford e Toyota quase empatadas com, respectivamente, 16.824 e 16.629. Tempos difíceis a todos e um pouco mais para a casa de Dearborn.
Ao observarmos vendas por região, a região Sudeste parece estar encabeçando uma reação ainda não vista no Norte e Nordeste, daí que a sua participação nas vendas totais supera 53%, quando um ano atrás era inferior a 50%. Primeiro trimestre de ’17 versus ’16, Nissan expandiu-se em 44%, Jeep 43%, graças ao lançamento de seus suves; em seguida vem a Chevrolet, com +8% e Ford, +5%. Mitsubishi retraiu-se 20%, Citroën -18% e Fiat -11%.
Chevrolet Onix foi novamente o mais vendido, com 14.745 unidades, seguido do HB20, com 10.638, Ka em terceiro, com 8.021, Sandero com 6.516, Gol com 6.311 bem próximo. Comparando os primeiros trimestres de ’17 com ’16, em que as vendas acumuladas de automóveis apresentam pequena retração de 2,4%, vemos o Onix se expandindo outros 15%, prova que o compacto da Chevrolet está com fôlego para seguir hegemônico no segmento e modelo mais vendido do Brasil.
Na mesma base de comparação, Sandero cresceu 39%, Voyage +35%, Gol e Ka +22%, Etios Sedan +18%. Todos cresceram mais que o compacto da Chevrolet neste ano? Evidente que sim, mas o Onix vendeu praticamente o dobro do terceiro colocado no ranking, o Ford Ka, praticamente não se veem ameaças à sua posição. Na outra ponta, cederam espaço neste ano o Palio, com -50%, Hyundai HB20S, com -34%, Siena, os mesmos -34% e Uno -29%. Os compactos da Fiat estão enfrentando tempos mais duros que seus rivais do segmento e devem seguir assim até a chegada dos novos modelos esperada para breve.
Os suves compactos sentiram o impacto da chegada dos novos concorrentes, Renegade emplacou -31% neste ano, mas seu irmão maior, o Compass tomou novo espaço de segmento superior, roubando-lhe um pouco das vendas. Contudo, se somarmos as vendas de ambos, o resultado da marca Jeep é positivo com sobras; o Compass supera o Renegade nos emplacamentos do acumulado de três meses. Porém o HR-V também vendeu 27% menos.
Kicks e Creta chegaram e levaram o seu naco na torta de suves compactos e vem encostando nas vendas dos líderes, sendo que o Nissan (foto de abertura) já começou a ser produzido neste mês de abril no Brasil, na sua fábrica de Resende (RJ), livrando-se do limite de cotas imposto pelo acordo Brasil-México, de onde vinha sendo importado até então. Provavelmente o veremos enfrentando seus concorrentes em melhores condições de competir. O Kicks tem sido em boa parte responsável pelo expressivo crescimento da marca nipônica em 2017.
No mês anterior, esta coluna observara uma queda significativa de emplacamentos do Corolla e encontrou explicação. Foi a troca de ano-modelo, a Toyota tradicionalmente desacelera a produção do modelo que vai sair de linha e os concessionários acabam ficando sem produtos suficientes para vender nessa transição. Trata-se de um procedimento corriqueiro, portanto, que acontece a cada renovação de modelo. Não foi o Corolla que perdeu espaço aos suves, como eu havia observado no mês passado.
Nos comerciais leves, a expansão de março não foi tão significativa quanto nos automóveis, +29%. Strada voltou ao topo do ranking, com 4.570 unidades, seguido de sua irmã maior, a Toro, com 4.400, Saveiro em seguida, com 3.590, Hilux, com 2.827 e S10, com 2.034, fechando a lista dos cinco mais vendidos.
Na comparação de trimestres de ’17 com ’16, os comerciais leves cresceram 7%, a líder Strada vendeu -12%, mas teve o lançamento de sua irmã maior mais do que compensando essa queda para a marca italiana. S10 ganha destaque, com +34%, Frontier, com +9% e Mitsubishi L200 Triton, com alta de 6%. Hilux vem perdendo pouco de espaço, em que pese o modelo ter sido completamente renovado no início de 16 e neste ano essa picape vendeu 13% a menos.
O ano de 2017 tem sido cruel com as marcas importadas. O câmbio mais favorável, que deveria ter ajudado a apresentarem resultado contrário, não ajudou, e elas venderam 31% a menos no acumulado do trimestre. Kia vendeu -30% e Volvo -13%. Há nova pressão dos importadores para nos livrarmos daquela taxa de importação extra disfarçada de 30 pontos porcentuais no IPI, que a doutora inventou de impor ao setor no final de 2011, que fez várias marcas desaparecerem de nosso mercado.
Esperemos para ver a evolução dessa reação e a confirmação de que os ventos mais favoráveis vieram para ficar.
Até mês que vem.
MAS