Projeto apresentado na China foca discutir futuro. R.S. 2027 tem tração e direção integrais. Uso intenso de internet.
Quatro décadas atrás, exatamente no Grande Prêmio da Inglaterra de 1977, a Renault estreava na F-1 com o primeiro monoposto com motor turbo da era moderna da categoria. Para celebrar esse marco a casa francesa apresentou no Salão do Automóvel de Xangai deste ano a sua visão para o que poderá ser a F-1 dentro de uma década.
Mesmo considerando soluções proibidas pelo regulamento atual, como sistemas integrais de direção e tração, o estudo é importante por propor a discussão de equipamentos já usados em carros de rua e explorar ideias vanguardistas como materiais transparentes, iluminação ativa e uso intenso de recursos de internet.
A aparência do R.S. 2027 tem elementos da F-1 atual porém com funções ampliadas e algumas propostas já em debate. No primeiro caso está o uso de motores híbridos, que poderão gerar a potência combinada de 1 megawatt, equivalente a 1.340 cv, ou 2,23 cv/kg para uma massa de 600 kg. Considerando a evolução da eficiência energética dos motores de combustão interna, o tanque de combustível teve sua capacidade reduzida dos atuais 107 kg para 53,5 kg. A propulsão exclusivamente elétrica será usada em manobras específicas, como a entrada nos boxes.
Das ideias em discussão está o uso de rodas de maior diâmetro — atualmente são exigidas rodas de aro 13”— e pneus de perfil ultrabaixo. Apesar da menção à Pirelli nos desenhos divulgados, pode-se ler nestas entrelinhas a menção aos desejos da igualmente francesa Michelin, que ao participar da concorrência para fornecer pneus à categoria entre 2017 e 2020 (vencida pela marca italiana) propôs esse tipo de especificação alegando que se trata de um produto mais próximo do usado nas ruas.
Outros conceitos aplicados e abertos a debates incluem o uso de asas móveis e um sistema de “santântonio” (arco de proteção em capotagens) retrátil, que se expande em questão de milissegundos em caso de choque ou capotagem. Este detalhe possibilita a pesquisa de novas formas de aerodinâmica, algo que atualmente é limitado pelas medidas exigidas para as dimensões da barra contra capotagem.
A disponibilidade de recursos cada vez mais abrangentes com o uso da internet levou os projetistas do R.S. 2017 a explorar novas formas de informação. Uma das mais funcionais inclui as rodas com painéis de LED que exibem informações como a volta da prova, posição do competidor e nível de energia disponível, entre outros. Também pela internet os carros se comunicarão entre si, aumentando o fluxo de informação disponível aos pilotos. Isto possibilitaria coordenar o processo de saída do box após uma parada para troca de pneus (atualmente uma situação de elevado risco de colisão) e tornar desnecessário o uso do safety-car.
O piloto ganha importância no conceito francês e será instalado em um cockpit transparente, tal qual será o seu capacete, o que permitirá visualizar suas reações em tempo real. O habitáculo tem ainda uma proteção superior desenhada para evitar que objetos possam atingir o capacete do piloto. Um sistema de iluminação ativo permite alterar a cor da luz emitida a partir da asa dianteira.
Para Cyril Abiteboul uma das missões da a proposta da Renault Sport Racing, que opera o programa de F-1 da marca francesa, “uma de nossas missões é antecipar o futuro da categoria de forma a atingir o maior número de fãs num contexto condizente com os objetivos do grupo Renault. Queremos incentivar um debate inspirado com a comunidade de corridas, fãs e entusiastas através de um conceito que destaque nossa ideias e propostas”.
Não é de hoje que a casa francesa desenvolve projetos nessa linha. Nos anos 1950 criou o Étoile Filante (estrela cadente), um modelo equipado com turbina a gás que atingiu 307,4 km/h em Boneville, Utah. Mais recentemente desenvolveu a van mais veloz do mundo ao instalar um motor V-10, que marcou época na F-1, em um modelo Espace.
WG