“Dirijo há mais de trinta anos, meus primeiros carros não vinham com nenhum equipamento de segurança e continuo vivo”.
Quantas vidas foram salvas pelo cinto de segurança? Entretanto, ao ser tornado obrigatório no Brasil, houve uma violenta reação ao equipamento, até da própria imprensa.
O principal argumento: “Absurdo! Se o carro cai no rio ou pega fogo, eu morro afogado ou queimado, pois o cinto vai impedir de me safar”. Inútil tentar explicar que era exatamente o cinto que protegeria os ocupantes, mantendo-os conscientes e aptos a se safar.
Reagir contra avanços é inerente ao homem. São muitos os motoristas que se aborrecem quando se anuncia um novo dispositivo eletrônico de segurança: “ E como fica o prazer de dirigir se o carro é todo controlado pela informática?”
Se reagem contra a parafernália eletrônica que “pasteuriza” o comportamento do automóvel, imagine quando chegar o carro autônomo de fato, que nem volante terá…
Os argumentos são os mais curiosos: “Dirijo há mais de trinta anos, meus primeiros carros não vinham com nenhum equipamento de segurança e continuo vivo”. E se esquecem de que, por sorte, sobreviveram para contar história. Mas milhares de azarados não estão vivos para contra-argumentar…
A reação contrária pode ser motivada por interesse pessoal. Se ainda não existem no Brasil postos de serviço com bomba automática (do tipo self-service, como no Primeiro Mundo), não é, com certeza, por falta de tecnologia para debitar o valor no cartão de crédito ou ser pago no caixa do posto. O que atrasa o país e encarece o preço do combustível é a inexplicável força do sindicato dos frentistas…mais forte que o dos acendedores de lampião a gás nas ruas, no início do século 20. Eles reagiram contra o avanço mas acabaram derrotados pela iluminação elétrica. Aliás, voltando ao Primeiro Mundo, alguém já viu por lá algum cobrador em ônibus?
Mídia: nos mais de cinquenta anos como jornalista fui testemunha dos inúmeros avanços tecnológicos que evoluíram a cobertura de eventos, as redações e parques gráficos de jornais e revistas. E não adianta reagir: difícil imaginar que a mídia impressa iria levar golpe tão rápido e certeiro da digital. Jornais e revistas vão encontrar seus nichos, mas, por enquanto, ganham assinantes eletrônicos e perdem na edição impressa. Títulos poderosos como The Washington Post ou The New York Times continuam valendo centenas de milhões de dólares porque avalizam a edição digital com sua credibilidade. A diferença entre blog que dá palpite sem fundamento ou divulga notícia sem confirmá-la e jornalismo sério na web é a confiabilidade da informação assinada pelos verdadeiros profissionais da área.
Há quem diga que a tecnologia avança hoje dez vezes mais rapidamente que no século passado. O automóvel está aí para confirmar a tese e continuar provocando reações contrárias. Fonte alternativa de energia: todas as sinalizações do setor apontam para a elétrica como substituta dos atuais combustíveis. Eu me confesso um apaixonado pelo automóvel que ronca grosso e desprezava os elétricos até dirigir um deles, de 750 cv e que faz de zero a 100 por hora em três segundos…
O principal argumento de quem é contra o carro elétrico? “O problema é a bateria!” e faz de conta ignorar (ou não sabe mesmo…) que já existe no mercado o veículo que gera sua própria energia elétrica e dispensa a bateria (Toyota Mirai, foto de abertura). Como? Seu tanque é abastecido com hidrogênio que produz eletricidade numa célula (ou pilha) a combustível (fuel cell). “Mas o hidrogênio é caro de se obter e difícil de se armazenar!” alegam os que reagem a mais este avanço.
E provavelmente continuarão reagindo mesmo ao saber que o tanque pode ser abastecido com álcool, exatamente o mesmo que existe em nossos postos: dele se obtém (com um equipamento chamado “reformador”) o hidrogênio para alimentar a fuel cell. Solução de mobilidade que, para a matriz energética brasileira, seria sopa no mel!
BF