Pensei que após mais de dez anos sem Fusca estivesse livre do vírus fuscalístico. Acho que de 1973 a 2006 tive Fuscas quase que direto. Posso ter ficado um e outro período sem ele, mas logo voltava a sucumbir aos seus encantos. O fato de ter morado e trabalhado na roça por mais de 25 anos contribuiu para isso, já que ainda não inventaram nada mais prático, barato e divertido para o dia a dia que eu encarava.
Meu último Fusca foi um ‘66 branquinho com o motor preparado pelo Eber Boteon, um excelente mecânico preparador de Pirassununga. Era um 1600 com virabrequim balanceado, comando de Kombi a álcool, cabeçotes preparados e dois carburadores Solex 32. Coisa simples, eficiente e feita com carinho. Era o suficiente para o ponteiro do velocímetro passar de passagem pelo VDO e bater no pino do zero. A caixa de câmbio era a original do 1300, ruim para a estrada mas boa para a arrancada, já que era curta para o motor.
Furtaram a Fusqueta aqui em São Paulo. Foi eu dar um banho nele, ele ficar lindinho e branquinho que nem uma garça ao sol, e o deixar na rua só para entrar em casa para tomar um café e pegar alguma coisa e… Como é desorientador sair e não encontrar o carro! Você fica olhando feito bobo para aquele espaço vazio tentando materializar o carro com a força da imaginação…
Fui até à polícia. O escrivão do B.O., muito sossegado me disse que se eu achasse o Fusca eles iam atrás e o resgatavam. Mas que beleza! Eu sair por aí pelas quebradas do capeta para achar o Fusqueta! Daí, fulo da vida, eu lhe contei a história da aranha. Minha filha era menininha e viu uma aranha enorme no quarto, lá na fazenda. Correu para chamar meu pai, que no terraço lia sossegado o seu jornal. Meu pai, com sua habitual fleuma, lhe disse que se trouxessem a aranha ele matava. A carinha da minha filha foi de estupefação, tal qual a minha diante do modorrento escrivão; só que meu pai, claro, depois da piada foi lá e mandou a aranha pro beleléu, enquanto com a polícia ficou por isso mesmo.
Então foi só com a ajuda de um lazarento de um ladrão que me afastei dessa mania de Fusca. Mas tem um aqui perto de casa que anda me contaminando de novo. Deve ser um ’68 ou ’69 e está tipo abandonado na rua, pneus meio murchos, pintura queimada. Mas o danado está totalmente original, tirando o retrovisor externo, que já é da década de 70. Volta e meia passo a pé por ele a caminho da padaria e já me vem aquele troço esquisito de precisar de um Fusca. E fico ali sossegado imaginando as malvadezas que poderia fazer com ele.
O caro leitor, amante ou não de Fusca, porém amante de carro legal, há de gostar destes Fuscas Hot Rods.
Quem gosta de Fusca, gosta dele para sempre.
AK