O que aconteceu comigo já aconteceu com muita gente, a perda das malas sob responsabilidade de uma companhia aérea.
Eu estava a caminho da Volkswagen of America para tratar de um assunto muito importante referente ao nosso Voyage que na versão exportada para os Estados Unidos e Canadá recebeu o nome de Fox.
Ao chegar a Detroit, minha mala tomou rumo ignorado e lá fui eu reclamar com a companhia aérea. Como de costume, as palavras foram as mesmas, “Não se preocupe, vamos encontrá-la”, etc, etc. Pediram o endereço de onde eu iria me hospedar e a promessa de que assim que achada as mala ela seria imediatamente levada para mim, no caso ao meu hotel.
Peguei um táxi e fui para lá, e como eu sempre viajava às sextas-feiras, eu ainda tinha o sábado inteiro para esperar a minha mala chegar.
Sábado à tarde fui a um shopping e comprei as roupas que precisava para minha reunião de segunda-feira. Blazer eu já tinha, estava comigo, comprei uma calça social e uma camisa que combinasse e também uma gravata. Logicamente meias e cuecas também fizeram parte destas providências. Tudo foi comprado com nota fiscal para que depois eu pudesse solicitar o devido reembolso.
Chegou o domingo à tarde e para minha surpresa o que é que chegava ao hotel? Sim, isso mesmo, a minha mala perdida, inteira e fisicamente intacta.
Fui para minha reunião na segunda com roupa nova e feliz pelo fato da minha mala, com as minhas coisas, ter sido encontrada. Quarta-feira segui para a Alemanha, viagem demorada, mas lá cheguei e minha mala também.
Depois de uma semana de trabalho, assuntos dos Amazon tratados e resolvidos, e outros referentes à área de Assistência Técnica de minha responsabilidade, a volta para casa.
De volta ao Brasil fui ao escritório responsável pelas reservas das passagens aéreas e lhes entreguei as notas fiscais referentes às minhas despesas decorrentes do desvio da mala. Depois de uma semana, recebi, centavo por centavo do que havia gasto. Empresa boa é assim, faz o que é certo e rapidamente.
Além disso, o gerente da loja me disse: “Na sua próxima viagem à Alemanha solicite a compra da passagem aqui neste escritório, assim poderei lhe oferecer uma recompensa pelos contratempos que lhe causamos.”.
Uns seis meses depois uma nova viagem à Alemanha e o que gerente disse veio-me à mente. Procurei-o — até se tornara meu amigo — e fechamos negócio para uma nova viagem.
Para minha surpresa me foi dado um upgrade da classe executiva para a primeira classe. Que luxo! Não estava acostumado, mas tudo que é bom se acostuma logo.
Mais uma semana de trabalho na Alemanha e chegara o momento da volta. Fui ao aeroporto e aí veio a maior das surpresas: minha passagem era Frankfurt-Paris e novamente na primeira classe. Um funcionário do escritório de São Paulo lotado na Alemanha me disse que a minha estada por dois dias em Paris (eu havia planejado isso) era por conta da companhia aérea e seu escritório e que eu não me preocupasse com o traslado, uma vez que no aeroporto Charles de Gaulle haveria um motorista me aguardando. Pensei, esta é demais, este avião vai cair!
Lá chegando havia um simpático senhor com uma plaquinha com meu nome, por sorte ou pela organização do escritório ele falava espanhol e eu, só alemão, inglês, espanhol e a nossa língua; nada de francês fora o básico que aprendi na escola.
Fomos direto para o hotel, o Méridien Étoile, onde havia a reserva feita daqui do Brasil em meu nome, e lá, ao fazer o check-in, recebi um ingresso para o Salão do Automóvel de Paris, que estava em curso naquela época.
Um sábado e um domingo estavam me esperando e… o Salão do Automóvel também! Sem comentários. E foi a primeira vez que andei de metrô no exterior.
Domingo à tarde mais para a noite fechei a conta (a cia. aérea concedeu-me um late check-out) e nem as despesas de frigobar tive que arcar. O motorista, aquele que falava espanhol, me levou para o aeroporto e lá nos despedimos. Só que a história não acaba aí.
Greve doa aeroviários, demora no check-in, mas afinal estava sentado em uma confortável poltrona da primeira classe, o champagne estava sendo servido, eu me sentia um rei.
Houve uma estranha demora para a decolagem, até que uma comissária informou que devido à greve dos aeroviários a bagagem dos passageiros havia ficado mal acomodada no porão de carga e o comandante havia solicitado uma rearrumação, o que levou mais de uma hora.
Tudo certo, motores ligados, taxiamos para a cabeceira da pista. Mas não demorou para eu perceber que estávamos retornando à ponte de embarque, algo de errado ainda havia. Depois de o avião estacionar a comissária informou que devido à neblina na França e nos países vizinhos, onde em caso de uma emergência haveria onde pousar, as condições climáticas estavam iguais, e que por isso o voo seria retardado até um momento mais seguro. O jantar acabou sendo servido com o avião no solo, parado. Que estranho…
Passado algum tempo a comissária informou que o voo havia sido cancelado. Não só por falta de segurança, como também porque devido ao atraso da partida e com as horas de voo pela frente a jornada de trabalho máxima legal da tripulação seria ultrapassada e por isso a tripulação teria de ser trocada, mas àquela hora (passava de 1 hora da manhã) não havia outra.
Pediu que todos ficassem sentados até que coordenassem o desembarque para que as pessoas fossem alojadas em hotéis da região para o mesmo voo no dia seguinte. As malas foram devolvidas.
Sabendo, por experiência, que os primeiros passageiros seriam colocados em hotéis próximos ao aeroporto e não necessariamente os melhores, fiquei quietinho na minha poltrona e fui um dos últimos a sair. Me dei bem, voltei para o Méridien!
Um fato curioso aconteceu durante a espera para desembarcar. O passageiro ao meu lado, morrendo de medo de avião, tomou um comprimido para dormir e me pediu que avisasse a comissária que ele não queria ser acordado em hipótese alguma, pois havia tomado seu último comprimido para dormir.
Fui obrigado a acordá-lo para dizer que precisávamos desembarcar, quando ele feliz da vida me disse: “Nossa dormi mesmo, não senti nada! Já estamos em Guarulhos?” Quando lhe contei o ocorrido, o homem entrou em desespero porque não tinha mais remédio para dormir no voo do dia seguinte.
No hotel, coloquei o sono em dia, tomei um belo café da manhã, almocei por conta da companhia aérea e no horário certo fui para o aeroporto.
O embarque foi realizado, as malas foram acomodadas corretamente (acho) e a partida foi iniciada. Foram onze horas de um excelente voo — chegada a Guarulhos com vinte e quatro horas de atraso, mas feliz da vida.
Voltei ao trabalho e na primeira oportunidade fui visitar meu amigo em sua agência de viagens. Pedi-lhe um favor, que ele prontamente se prontificou a atender: se na minha próxima viagem seria possível perderem minha mala novamente…
Somos amigos até hoje e quando falamos sobre esta epopeia damos muita risada.
RB