Um veste um tweed, mãos fechadas, parecendo um pouco tenso. O outro, nariz levemente empinado, óculos escuros, um leve sorriso, terno e gravata. Apoiados em um carro pequeno, um Mini, com faróis de longo alcance integrados à carroceria.
Ambos são facilmente reconhecíveis, o de óculos escuros mais fácil, todo mundo que tem um mínimo interesse por automóveis sabe algo sobre ele, Enzo Ferrari (1898-1988). O outro é Alec Issigonis (1906-1988), engenheiro grego-britânico que conceituou um carro pequeno, leve, de tração dianteira e com bom espaço para passageiros, com o trem de força ocupando o menor volume possível montado em posição transversal, receita copiada até hoje por quase todos os fabricantes desse tipo de carro no mundo.
Quem tem uma relação e parte da”culpa” pela foto é John Cooper (1923-2000), o inglês que é praticamente uma lenda humana, pois ensinou muito a Ron Dennis, que foi seu pupilo por cinco anos antes de se tornar “Mr. McLaren”. Jack Brabham aprendeu bastante sobre projeto e construção de carros de fórmula com Cooper, e venceu várias corridas em seus carros. Stirling Moss, conhecido até hoje como o melhor piloto que jamais foi campeão na Fórmula 1, também venceu muitas corridas nos Coopers. Antes disso, em 1946, Cooper corria no Brighton Speed Trials, e teve um competidor ferrenho, que acabou perdendo a corrida para Cooper, mas se tornaram amigos de toda vida: Alec Issigonis.
O Mini nasceu pouco mais de uma década depois, como modelo 1959, com John Cooper perto da ação. No final de 1958, Roy Salvadori, piloto de fábrica da equipe Cooper na Fórmula 1, dirigiu um Mini de pré-produção desde a sede da equipe na Inglaterra até o GP da Itália, e no caminho, nos Alpes, deu canseira em um motorista de um Aston Martin com várias vezes a potência do Mini.
Em Monza, mais prazeres e surpresas. Aurelio Lampredi, chefe de engenharia da Fiat, e responsável por muitos motores Ferrari antes disso (e autor do motor Fiasa de 1.049 cm³ do Fiat 147), curiosíssimo com o pequeno carro, pediu para dirigir o Mini. Salvadori deu a ele a chave, e viu depois de alguns minutos o italiano com os olhos esbugalhados, dizendo que havia visto o carro do futuro.
John Cooper também andou algumas vezes no carro antes dele começar a ser vendido, e viu mais uma coisa, que Issigonis, se vira, nem havia prestado atenção. Cooper percebeu que o carro tinha agilidade de um carro de corrida, uma dirigibilidade direta e maravilhosa. Ele disse ao amigo que o Mini poderia ganhar corridas, e era muito mais que um carro pequeno para levar quatro pessoas de forma divertida. Issigonis disse que havia pensado apenas nas pessoas que gostariam de um carro bom, fácil e divertido de dirigir e barato para ir e voltar ao trabalho, passando pelas compras no caminho.
O Mini mais potente, estimulado e trabalhado por John Cooper nasceu em 1961, com Enzo Ferrari desejando o carro silenciosamente, até que em 1964, se rendeu, e comprou o seu próprio Cooper. E mais dois, para ficar claro. Algumas fontes afirmam que o primeiro carro foi entregue pelo próprio Issigonis.
Sem dúvida a influência dos resultados em ralis e outras corridas em pista influenciou aquele que viria a se tornar o mais famoso dono de fábrica de carros de rua e de corrida, marca conhecida em qualquer canto do planeta.
Em 1964, 1965 e 1967, o Mini foi o vencedor na classificação geral, do Rali de Monte Carlo, provando o que John Cooper havia dito anos antes a Issigonis.
Mas Enzo quis algo diferente, e esboçou uma instalação de faróis de longo alcance na carroceria, e não fixados sobre o para-choque dianteiro, como saía de fábrica. O trabalho de funilaria de incorporação dos faróis e alteração da posição dos piscas foi feito pela Pininfarina, estúdio de estilo, fabricante de protótipos e de carrocerias de muitos modelos Ferrari desde o começo da empresa. A modificação é bem feita, sem desequilibrar o desenho simplíssimo do Mini. Os piscas tem o metal ao redor acompanhando a sua curvatura, charmoso e bem feito
Em visita à Itália, Issigonis teve o prazer de ser conduzido no Mini de Ferrari pelo próprio, e morreu de medo. Cooper disse sempre se lembrar das conversa com Enzo, sobre onde deveria ser o lugar certo para o motor de um carro de GP. Houve também o dia em que John Cooper estava com Issigonis, quando este fez vários desenhos na toalha de um restaurante e depois pagou-a junto com a conta. A terceira pessoa na mesa era o ator Steve McQueen, que havia viajado à Inglaterra para pilotar um Mini Cooper em Brands Hatch, apenas por ter respeito pelos carros de John. McQueen também teve Mini Cooper de uso particular.
O nome de John Cooper continua agraciando os Minis hoje em dia, conforme foi prometido a acordado há muitos anos, já em 1995, antes do carro moderno existir, obviamente bem diferente pelas exigências de leis e regulamentos e de mercado.
Mas a foto do Mini original de Enzo Ferrari, junto com o criador do incrível carrinho, é mágica.
JJ