Nesta parte vamos começar a falar das motocasas fabricadas pela Karmann Mobile, a marca que a Karmann-Ghia usou para denominar a sua linha de motocasas, tanto na Alemanha quanto no Brasil. Dois modelos com a mecânica da Kombi foram feitos na fábrica de São Bernardo do Campo,SP; primeiro veio o Karmann Mobile Touring e depois o Karmann Mobile Safari
A Karmann-Ghia do Brasil tinha uma linha completa de trailers, reboques, motocasas e acessórios, como teto alto para a Kombi, engates, tetos solares, etc. Em seu folheto sobre sua linha completa o texto dizia:
“A Karmann-Ghia está presente em todos os momentos, levando e trazendo conforto ao trabalho e ao lazer. Sua linha de trailers é a mais completa, atendendo a todos os itens de beleza, funcionalidade e segurança. Trailers especiais, completamente equipados para assistência social, nas versões: médico, odontológico, abreugrafia, ginecologia, para vacinações, laboratório ambulante (controle de água, poluição do ar). Trailers postos móveis de fiscalização. Trailer comercial na versão lanchonete, para atendimento em escolas e clubes esportivos e até trailers para atender projetos especiais. Além de tudo isto, a Karmann-Ghia ainda oferece uma linha de reboques, engates e tetos solares. ”
Na Alemanha a Karmann-Mobile era uma subsidiária da Wilhelm Karmann GmbH, empresa que foi fundada em 1901. A ideia de fazer a primeira motocasa foi do fundador da empresa Wilhelm Karmann durante uma viagem pela África do Sul. Os primeiros veículos saíram, na Alemanha, com o nome Karmann Mobil, a partir de 1977, usando a mecânica da Kombi T2. Seguiram se motorhomes na base de furgões Mercedes-Benz, Kombi T3, Fiat Ducato, etc. No ano 2000 a marca Karmann Mobile foi vendida para a empresa Eura Mobil GmbH e continua existindo e trabalhando no ramo de motor-homes, fazendo veículos de acampamento cada vez mais sofisticados.
Voltando ao foco dos veículos tipo motocasa com a mecânica da Kombi, vamos ver um folheto que trata dos Karmann Mobile Touring e Safari:
Nesta parte da matéria vamos nos concentrar no Karmann Mobile Touring, modelo que aparece na fotografia de entrada. Neste caso vamos ter a ajuda do Eduardo Issa, arquiteto, jornalista, fotógrafo e aventureiro inveterado, que respondeu ao questionário e enviou informações sobre esta motocasa dele.
Voltando a nosso tema e para iniciar apresento uma seleção de fotos do Karman Mobile Touring do Eduardo (Fotos: Eduardo Issa).
Respostas do Eduardo:
Em relação ao comportamento dinâmico, o Eduardo comentou: “Todos os veículos que são transformados saem da sua configuração original, sendo assim é necessário ter muito cuidado e ficar atento à capacidade de peso do veículo. As mudanças desse tipo, normalmente alteram o centro de gravidade, peso, altura, deixando o veículo mais instável nas estradas, sendo necessário bastante atenção ao dirigir. ”
Adiante ele disse: “Tanto o peso quanto a altura influenciam consideravelmente na performance deste tipo de veículo. O aumento no consumo de combustível e a diminuição da velocidade final da Kombi são inevitáveis. A atenção em relação a altura deve ser redobrada, pois a distração em locais baixos pode danificar toda a estrutura da Kombi em caso de acidente. ”
Se é necessário algum cuidado adicional ao dirigir? O Eduardo colocou o seguinte: “Como estamos dirigindo uma Kombi com todo este peso extra, as curvas devem ser feitas em baixas velocidades, pois o risco de capotagem aumenta com toda altura e peso extras. As Kombis desta época são carros normalmente da década de 70 e 80, são veículos ultrapassados, sem airbags, sem cintos de 3 pontos, sem freios a disco, tudo isso exige que os motoristas tenham bastante cuidado ao volante. ”
A motocasa do Eduardo, em particular, é equipada com direção assistida eletro-hidráulica, cuja bomba de acionamento elétrico é instalada no espaço traseiro do veículo, como se pode ver na foto abaixo:
Sobre a motorização, o Eduardo comentou que “O motor do meu Karmann Mobile Touring é um motor Volkswagen 1600 plano de VW Variant II, com dupla carburação original; e como a carroceria é mais comprida que a original o motor acabou ficando no centro do veículo. O acesso ao motor se dá por duas portas instaladas abaixo da mesa e a sua manutenção é um pouco mais trabalhosa. ”
“A suspensão traseira foi reforçada para receber um peso maior, mas isso já veio da fábrica Karmann Ghia, que fabricava as motocasas deste modelo,” ele esclareceu.
Falando sobre o quesito segurança patrimonial, o Eduardo disse: “Normalmente quem tem trailers, motorhomes e campers, não abandona o carro em lugares ermos, isolados ou deixa o carro na rua durante a noite. Os históricos de furtos e roubos a este tipo de veículos são baixíssimos, quase zero. Normalmente quando as pessoas estão viajando, elas estão dentro do veículo, isso dificulta a ação de bandidos. ”
Agora chegou a vez de falar sobre a manutenção: “As revisões seguem as indicações do veículo original, as manutenções da parte de casa são feitas de acordo com a necessidade. Com o tempo é necessário verificar alguns itens, trocar mangueiras, limpar o tanque de água potável de detritos, verificar trincas ou rachaduras no teto, entre outros. ”
Em relação a eventuais custos a mais por ser uma motocasa: “No caso dessas Karmann Mobile — tanto as Touring como as Safaris — a maioria delas não paga mais IPVA pela idade. No caso dos motorhomes modernos, o preço do IPVA segue o modelo do veículo original, sem qualquer acréscimo pela montagem da carroceria. O seguro desses veículos ainda é muito complicado aqui no Brasil. As grandes seguradoras ainda não entraram neste mercado, estão atrasadas. Nos Estados Unidos, estes veículos são facilmente atendidos por todas as empresas de seguro. “
O momento em que a pergunta tocou no assunto “aventura com motocasa” foi quando o Eduardo revelou a sua grande e incrível experiência e paixão: “Sempre fui um grande aventureiro e meu currículo de viagens é bastante extenso. A maior aventura foi registrar todos os 64 parques nacionais brasileiros para o Ibama num Toyota Bandeirante 1994 mortorhome que eu mesmo montei, percorrendo 350 mil km, durante cinco anos, passando por todos os estados do Brasil e a maioria dos pontos turísticos do país. A segunda grande aventura foi cruzar as Américas num Ford F-4000 4×4, percorrendo 150 mil km durante três anos, indo de Ushuaia ao Alasca. Com a Kombi tenho feitas viagens curtas, pois, para aventuras mais desafiadoras eu tenho outros veículos com mais recursos, e nas viagens mais longas eu utilizo o F-4000. Quando estamos na estrada viajando, principalmente em outros países, sempre encontramos pessoas solidárias e dispostas a ajudar. Os viajantes também se ajudam mutuamente, isso é muito bom. ”
Abrindo parênteses para ilustrar aspecto “aventureiro” do Eduardo e de sua esposa Letícia Rodrigues Issa, aí vai a foto obrigatória de quem chega até este ponto do Canadá, numa viagem sem pressa alguma que levou três anos:
Fechando a sua participação o Eduardo comentou: “Viajar de motorhome é realmente um aprendizado fantástico. A vida ao ar livre, acordar sempre tendo um quintal diferente na sua janela, não ter hora para sair nem para chegar, conhecer novas culturas, lugares espetaculares e pessoas incríveis fazem deste tipo de viagem um sonho para qualquer aventureiro. Não importa o tamanho do seu sonho, corra atrás, não desista nunca, a recompensa será sempre impagável, pois a maior riqueza é aquilo que você tem na sua mente e não os bens materiais. ”
Para concluir, vamos dar uma olhada nos detalhes internos desta motocasa, que demonstram o conforto que este tipo de veículo oferece (Fotos: Eduardo Issa):
Na Parte 3 vamos tratar do Karmann Mobile Safari, talvez o mais conhecido motorhome com mecânica da Kombi.
Navegador das partes desta matéria:
Parte 1 – Kombi Turismo da Carbruno
Parte 3 – Karmann Mobile Safari
Parte 4 – Kombi Caracol da Minimax
Parte 5 – Marcopolo-INVEL
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