As vendas no mês de setembro foram novamente animadoras, o que parece indicar os dias amargos da recessão estão realmente ficando para trás. A retomada da atividade econômica vem se espalhando por diversos setores industriais, há leve recuperação do nível de emprego, de indicadores de crédito, da redução da inadimplência e o bom humor voltando ao consumidor.
No mês, venderam-se 199.211 autoveículos, sendo 193.806 automóveis e comerciais leves. São números 7,1% inferiores ao mês de agosto, que teve três dias úteis a mais. Houve uma alta de 6,1% nos emplacamentos diários, atingindo 9.690 licenciamentos/dia, patamar que não víamos mais desde dezembro de 2015. A revisão das perspectivas, feita há cerca de um mês, previa uma média de 9.850 emplacamentos diários até o final do ano, enquanto as tendências de hoje nos mostram esse número pode ser facilmente superado.
A região sudeste segue puxando a recuperação das vendas, registrou alta de 31% sobre mesmo mês de 2016 e 12,5% no acumulado do ano. Em todo o Brasil as vendas totais de automóveis e comerciais leves já são 7,9% superiores a mesmo período do ano anterior.
No entanto, na reunião de divulgação dos resultados à imprensa, ocorrida no último 5 de outubro, Rogélio Golfarb, vice-presidente da Anfavea, manteve a cautela. Com toda razão. Segundo ele, as vendas diretas seguem num patamar superior a 40%, prejudicando a rentabilidade e também estão em nível insustentável no longo prazo. Para que a recuperação se mantenha em curso, seguem sendo necessárias as aprovações das reformas da Previdência e isto sabemos anda meio improvável de acontecer, ao menos no que resta do governo Temer.
Se formos analisar números em mais detalhes, as vendas de janeiro a setembro no varejo ainda são inferiores a 2016, 954.523 vs. 977.496, porém já é possível observar reversão positiva na comparação de mês contra mês a partir de maio. A região Sul, que era a única a persistir com variação negativa, também passou a crescer desde agosto. Enfim, um conjunto suficiente de indicadores que apontam que os maus momentos da indústria ficaram definitivamente para trás, apesar de nossa interminável turbulência política.
RANKING DO MÊS E DO ANO
Num mês com três dias úteis a menos que agosto vimos a Mercedes dar um salto de 46% das vendas, seguida pela Renault, com 25% (efeito Kwid) e Nissan com +11%. No outro extremo da tabela, Honda registrou 19% menos emplacamentos, Jeep e Toyota ficaram com -18% cada uma.
No acumulado de nove meses, a marca de luxo alemã também é a quem mais cresceu com +18%, graças a um salto nas vendas de seu sedã nacional, o Classe C. A Chevrolet vem em seguida, com +15%, Ford e Renault, com +12% e VW, com +10%, período em que automóveis e comerciais leves se expandiram 7,9%. No outro extremo, as marcas de luxo com produção local, Audi (-20%), BMW (-17%) e Land Rover (-12%) parecem ainda não haver encontrado o caminho da recuperação.
O modelo mais vendido do mês segue sendo o Chevrolet Onix, em sólida e inabalável liderança, com 17.236 unidades. Até setembro, foram 134.217 emplacamentos, praticamente o dobro do 3º colocado, o Ford Ka, com 68.526 em outro crescimento de nada menos que 28% sobre mesmo período de 2016.
O Renault Kwid não poderia ter melhor estreia. Em seu primeiro mês cheio de vendas, registrou licenciamento de 10.358 unidades e logo tomou o 2º lugar, que vinha sendo ocupado pelo Hyundai HB20 havia dois anos e que acabou caindo para a quarta posição, com 8.530 emplacamentos. Ka ficou em terceiro, com 8.727. Prisma em bom quinto lugar, com 6.123, Corolla firme em sexto, com 6.036, seguido de Gol, Fox, Compass e Argo fechando a lista dos dez primeiros.
O face-lift, novos interior e trem de força no Ford EcoSport parecem haver-lhe feito bem, em setembro superou até mesmo o Jeep Renegade, este que enfrenta concorrência difícil não só dos novos suves como também a clara preferência de compradores da marca Jeep pelo seu irmão maior, o Compass, quase R$ 20 mil mais caro. Outro fabricante que enfrenta uma disputa fratricida entre modelos que em teoria deveriam ser complementares é a francesa Renault, vendas do Captur e Duster somadas não exibem aumento de participação da marca no bolo dos suves.
Nas picapes, a Fiat Strada retomou a ponta, com 4.621 emplacamentos, seguida pela Toro, com 3.918 e Saveiro, com 3.292. Chevrolet S10 superou em vendas a Hilux e tomou-lhe a quarta posição, com 2.866 unidades. No acumulado do ano, Fiat Toro segue em primeiro com 38.425 unidades, seguida de perto pela irmã menor, a Strada, com 37.280. O bom Renault Duster Oroch tem apresentado baixa de volumes, suspeitamos pode ser a rede não lhe vir dando foco suficiente ante outras novidades da marca francesa.
No período de compreendido entre 1º de julho e 1º de novembro, o mercado brasileiro tem a chegada de três novos competidores no grande segmento de compactos, Fiat Argo, Renault Kwid e o novo VW Polo. Num ano de vacas magérrimas, os fabricantes mantiveram firmes seus planos de renovação de produtos e o consumidor acabou sendo beneficiado. Resta ver se e quando veremos de volta volumes semelhantes aos de 2012 e 2013, de quase quatro milhões de unidades. Projeções atuais indicam isso pode ocorrer depois de 2022.
Efeito Renault Kiwd
Merece registro especial a chegada do suve compacto da Renault, o Kwid. Ele representa uma inovação ao mercado que não víamos desde a chegada do Ford EcoSport, apresentado no Salão do Automóvel de 2002. Por mais que se critique que o pequeno Renault não pareça ser um suve de verdade, o Ford tampouco o era. Podemos dar-lhes a classificação que quisermos, suve, crossover, mas também nos mercados onde estas categorias se originaram, i.e., EUA e Europa, tais classificações também se confundem.
Aos olhos do consumidor, o EcoSport representou o poder de acesso ao suve, até então somente modelos importados e bem mais caros estavam somente em seu imaginário. Curtia-se na época a ilusão que a capacidade de fora de estrada o levaria a lugares onde outros veículos não sonhavam em chegar, de carregar tralhas de mountain bike, de surfe, de alpinismo, mesmo que nenhum desses esportes “radicais” fizessem parte dos planos de quem os comprava. A Ford ainda caprichou no desenvolvimento do modelo e oferecia a opção 4×4, em caso seus sonhos fossem pouco mais longe. Mas a sua capacidade fora de estrada não chegava a tanto. Passados quinze anos do impacto do EcoSport, o segmento se multiplicou numa profusão de modelos, todos fabricantes aqui instalados oferecem o seu, exceto a VW, que já tem tardiamente um no forno.
Porém, hoje ninguém que vai ao concessionário busca um suve com montanhismo, bike ou surfe em seu imaginário. O consumidor quer simplesmente maior distância livre do solo, capacidade de andar na buraqueira das cidades sem dar batente na suspensão, desenho que dê identidade suve ao modelo, sistema de infotenimento moderno, espelhamento de celular, pintura duas-cores, enfim, sua ilusão composta de novos fatores na mesma roupagem e isso a Renault trabalhou bem no Kwid. O AE já o avaliou, veja matérias aqui e aqui e concluiu positivamente as suas qualidades construtivas, de engenharia e dinâmicas. Ele, de fato, parece mais suve que Onix Active, Uno Way e Mobi Way e os números iniciais de licenciamentos dão conta disso.
O novo pequeno Renault parece também haver tomado mais compradores de compactos das outras marcas. O fabricante francês lançou nos últimos 24 meses novos modelos em segmentos importantes, o de suves e picapes médias sem chassis. Isto sem contar o esportivo puro, Sandero R.S., um produto de imagem importante, mas não de grandes volumes. Enquanto o Captur busca posicionamento melhor com a versão de câmbio CVT na motorização 1,6-L, o Duster Oroch aparenta estranha falta de fôlego. Acreditamos que ambos têm potencial de maiores vendas por desenvolver, consolidando a marca francesa como o quarto maior fabricante nacional, posição que almejava há mais de uma década. O Kwid inovou e o consumidor aprecia quem inova.
Até mês que vem!
MAS