Existe paixão à primeira vista? O desempenho de mercado do recém-lançado Renault Kwid mostra que, ao menos no mundo do automóvel no Brasil (e por enquanto…) a resposta é sim. Bastaram poucos dias de loja para que o menor dos Renault entre nós conquistasse números expressivos de vendas, para surpresa de muitos — inclusive da Renault do Brasil, aposto — e abocanhasse a 2ª colocação no ranking dos automóveis mais vendidos do país.
Ser uma novidade instantaneamente tão desejada tornou o pequeno Kwid um candidato natural a mais este Teste de 30 Dias AE apesar do…. Juvenal Jorge! Explicando: meu colega sapecou um “no uso (com vídeo)”, publicado aqui em 20 de agosto passado, tão completo, mas tão completo que antes mesmo de ir buscar o “renôzinho”— aliás da mesma e atraente cor Orange Ocre daquele avaliado pelo JJ — fiquei intimidado, imaginando ser impossível acrescentar algo mais ao verbo do astuto e talentoso colega.
De fato, o post do JJ sobre o Kwid tem ótimas fotos (muitas, contei 55!) além de sua costumeira e impecável análise sobre as entranhas do Kwid, descascado de cabo a rabo. Porém, ao final da minha primeira semana com o carrinho, constatei que… a diversidade existe! Eu não estou tão encantado assim com o “laranjinha” francês.
Polêmica à vista? Imagina! Apenas visões levemente diferentes, que me deixaram mais à vontade para escrever este ’30 DIAS’ sem correr o risco de ser repetitivo. Em vez de apertar as mesmas teclas, esta avaliação trará (creio eu) um contraponto entre a visão de dois editores do AE. Então, para que você, leitor ou leitora, deguste corretamente minhas mal traçadas linhas, leia antes as bem traçadas do JJ.
Premissa nº zero: não vou pontuar nossas opiniões conflitantes. Com todo este preâmbulo o que peço é que o leitor ou leitora desfrute de visões que, ao final, poderão ser complementares e espero (pretensioso…), em prol da boa informação.
O Kwid é, como já dito pelo JJ, um carro bem pequeno. E eu adoro carros pequenos, ágeis, daqueles que você pode colocar na vaga apertada arrastando-o pelo para-choque como eu fazia como meu glorioso Fiat 147 “first edition”, ano 1977. Obviamente nem tentei repetir tal bobagem com o Renault devido à inversa razão do juízo adquirido em quatro décadas e à inevitável perda de tônus muscular. Mas, um carro que pesa menos de 800 kg em ordem de marcha, tem pouco mais de 3,5 metros de comprimento e exibe 70 cv (álcool) de potência é, para mim, uma receitinha divertidíssima. Como o 147 em seu tempo — 800 kg, 1.049 cm³, 50 cv.
Para que serve o Kwid? Para serpentear no caos paulistano entre suves mastodônticos e quase sempre malguiados, para desafiar no “vamos ver se cabe nessa vaga?” e para, claro, obter consumos parecidos com o de motos com potência parecida, mas com um quarto do peso. E aí, neste terceiro item, veio minha primeira frustração com o Kwid: nesta primeira semana, abastecido com álcool, ele bebeu demais. Exagerados 6,9 km/l na cidade, se bem que em condições de uso em horário malvado (oficial Inmetro, 10,3 km/l). Em se tratando do primeiro carro com motor 1-litro (exatos 999 cm³) avaliado no ’30 DIAS’, esperava mais. Aliás, menos. Considerando o hodômetro estar marcando apenas 2.117 km no ato da entrega, espero ver cifra melhor com o passar dos quilômetros.
Tive chance de levar o Kwid para uma breve viagem ao interior de São Paulo, um bate e volta que acrescentou 240 km de experiência, mas desta vez o consumo se mostrou coerente, mesmo que a tocada tivesse sido sem pressa mas também não exageradamente calma: 13,8 km/l (sempre com álcool; o dado Inmetro é 10,8 km/l). A rotação do motor a 120 km/h até que não é tão alta para um carro de motor 1-litro, pouco menos que 4 mil rpm, ainda longe da rotação de potência máxima (5.500 rpm) e mais longe ainda da rotação-limite, 5.800 rpm.
No entanto, se a esperada pão-durice do tricilindro SCe (Smart Control Efficiency) B4D ainda não deu as caras nesta semana na cidade, marcou pontos a disposição na resposta ao acelerador que não exige ser sempre espremido a fundo para que o Kwid avance, tanto em baixas velocidades como também acima dos 100 km/h. Enfim, não é o clássico 1,0 que demanda paciência e uso intenso do câmbio.
Aliás, falando nele, concordo com JJ, está bem escalonado, mas o curso dos engates mereceria ser menor e o “tato” da alavanca, melhor. Ah, e quando levado à rotação de corte o motor é bem escutado dentro da cabine. Até aí, normal nada incoerente, afinal, com um carro que custa R$ 39.990 mas que traz certos itens que carros de maior preço não trazem, como o sistema Isofix para fixação de cadeirinhas de crianças.
Expectativas outras como haver muitas regulagens nos bancos caem por terra, mas nem por isso a ergonomia é ruim. Não há também nenhum ajuste do volante, mas guiar o pequeno Renault — apesar do banco durinho mas bem revestido – é longe de ser desconfortável. Acostumar-se também à proximidade do ombro de quem viaja ao lado do motorista é outra tarefa obrigatória para um dono de Kwid, assim como o roçar do outro ombro na coluna B. Sem novidade: além de curto o Kwid é estreito. Enfim, pequeno, mas não claustrofóbico.
Na viagem rodoviária realizada com dois a bordo e sem bagagem, ligeira sensibilidade aos ventos laterais foi obviamente sentida, mas sem nenhuma sensação de insegurança. No destino, a chance de rodar em estrada de terra mostrou uma faceta que certamente contará bons pontos para quem precisa andar em estradas sem pavimentação. Alto e com ângulos de entrada e saída que lhe valeram a classificação de suve dentro do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, o Kwid tira de letra terrenos malvados com seu vão livre do solo de 18 cm e, inclusive, diverte quem gosta de uma tocada mais animadinha, pois não só as suspensões com acerto firme combinam com malabarismos, como a resposta do volante é exata.
Ao cabo da primeira semana o Kwid mostrou um esboço duplo, duas caras. Por um lado prático, ágil e espertinho como se espera de um carro de seu segmento, cujos concorrentes diretos são o Fiat Mobi e VW up!. Por outro algumas imperfeições fáceis de corrigir como a visibilidade do painel (de dia, a não ser pela porção do computador de bordo, é difícil de enxergar a velocidade) e outras nem tanto, suponho, como a manobrabilidade e “tato” do câmbio.
Raciocinando em busca de um resumo para a primeira semana de uso, cheguei a um “era o esperado”. O Renault Kwid foi, de um modo geral, muito bem recebido, elogiado pelo colega JJ (e pelo Bob Sharp, inclusive) e é sucesso de vendas. Mas preciso andar mais com ele para analisá-lo melhor. Felizmente, terei ainda três semanas para achar predicados escondidos ou ser um ponto fora da curva apesar de, como disse, adorar carros pequenos e espertinhos como o Kwid.
Para a semana que vem o plano é estrear gasolina no pequeno tanque de 38 litros e explorar a novidade da marca francesa em usos múltiplos.
RA
RENAULT KWID INTENSE
Dias: 7
Quilometragem total: 460 km
Distância na cidade: 180 km (39%)
Distância na estrada: 280 km (61%)
Consumo médio: 12,8 km/l (álcool)
Melhor média: 13,8 km/l (álcool)
Pior média: 6,9 km/l (álcool)
Média horária: 26 km/h
Tempo ao volante: 23h36minutos
FICHA TÉCNICA RENAULT KWID INTENSE | |
MOTOR | |
Tipo | B4D, L-3, comando por corrente, 4 válvulas por cilindro, flex |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | alumínio/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 3 /em linha |
Diâmetro x curso (mm) | 71 x 84,1 |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Aspiração | Natural |
Taxa de compressão (:1) | 11,5 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 66/70/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 9,4/9,8/4.250 |
N° de comando de válvulas/localização | 2 /cabeçote |
Formação de mistura | Injeção eletrônica no coletor de admissão |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Câmbio | SG1, manual 5 marchas à frente e uma à ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,769; 2ª 2,048; 3ª 1,290; 4ª 0,949; 5ª 0,791; ré 3,54 |
Relação de diferencial | 4,38 |
FREIOS | |
Dianteiro (tipo, Ø mm) | Disco, n.d. |
Traseiro (tipo, Ø mm) | Tambor. n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | McPherson, triângulo inferior, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida |
Voltas entre batentes | 3,5 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5Jx14 |
Pneus | 165/70R14 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 786 |
Carga máxima | 375 |
Peso bruto total | 1.171 |
Reboque máximo sem freio/com freio | n.d. |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 3.680 |
Largura sem/com espelhos | 1.579 / n.d. |
Altura | 1.474 |
Distância entre eixos | 2.423 |
Bitola dianteira/traseira | n.d. |
Altura do solo | 180 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | n.d. |
Área frontal calculada (m²) | 1,86 |
Área frontal corrigida (m²) | n.d. |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 290 |
Tanque de combustível | 38 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 152/156 |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 15,5 / 14,7 |
Relação peso-potência (kg/cv, G/A) | 11,9/11,2 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l, G/A) | 14,9 /10,3 |
Estrada (km/l, G/A) | 15,6 /10,8 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 na última marcha (km/h) | 31 |
Rotação do motor a 120 km/h em 5ª (rpm) | 3.870 |
PREÇO (R$) | 39.990 |
GARANTIA | |
Termo | 3 anos e 5 anos para veículo financiado pelo Banco Renault |