Ainda não fez um ano desde que a Renault renovou seus motores 1-L e 1,6-L, num evento de lançamento em Curitiba no dia 30 de novembro passado, em que só havia Sandero e Logan com a motorização 1-litro para se dirigir. O percurso oferecido era apenas na cidade e com certo tráfego, mas deu para notar qualidades no SCe. O tricilindro não vibrava praticamente nada apesar de não ter coxim hidráulico.
Era nítida a maior pegada em baixas rotações, mesmo que a potência tivesse subido apenas 2 cv em relação ao 4-cilindros D4D, indo para 79/82 cv, e sem mudança no torque, que permanecia 10,2/10,5 m·kgf, embora em rotação mais baixa, 3.500 rpm agora ante 4.250 rpm. Nem a taxa de compressão mudou, permaneceu 12:1.
Nesse quase um ano tivemos o teste do Sandero 1,6 SCe, versão Dynamique, logo no começo de 2017 pelo Juvenal, em seguida o Logan 1,6 Expression em março pelo Arnaldo, que testou também o Logan 1,0 Expression, em junho. Faltava o Sandero 1,0, que nos veio na versão Expression, que surpreendeu e numa certa medida deixou saudade depois que foi devolvido.
Por que saudade? Porque o Sandero, mesmo nessa versão “fraca” agradou imensamente. Uma impressão bem diferente do que rodar num pequeno percurso urbano na capital paranaense. Se mostrou companheiro, prático, bom citadino e bom estradeiro. Nada de luxos, mas tudo bem-feito e agradável de ver, ouvir, tocar. E principalmente de andar nele, ou com ele.
A direção, por exemplo, não é eletroassistida como tão em voga ultimamente, é eletro-hidráulica, mas é irretocável, quase um extensão da mente. Foi impossível não me vir à lembrança o Renault Laguna que testei pela Autoesporte lá pelos anos 1990, dono da melhor assistência hidráulica que já experimentei.
Relação 15:1, de bom tamanho, 3,4 voltas entre batentes, diâmetro mínimo de curva 10,6 metros (parece menos). Fácil de andar por aí, manobrar, entrar em vaga, ajudado pelo comprimento de 4.060 mm.
O comando de câmbio deixou de ser por varão para ser a cabo, atualizando seu toque e deixando os engates ainda mais fáceis, mesmo que não seja um “Wolfsburg”. Agrada a ré sob a 5ª não exigir vencer trava ou mola para chegar ao seu canal, bem como a segurança interna que torna impossível tirar da 5ª e engatar ré na sequência (ver gráfico “dente de serra” logo adiante e alcance das marchas na ficha técnica).
O motor tricilindro sempre responsivo e elástico pede para ser explorado, emite um som próximo do gutural. Quando menos se espera chega ao corte a 6.500 rpm. Chega a ser intrigante a relação r/l bem alta, 0,34, não produzir os efeitos associados a esse dado tão desfavorável. Nem mesmo quando a 120 km/h o conta-giros mostra 4.150 rpm.
Em termos de desempenho, a aceleração 0-100 km/h leva 13,1/13 segundos e a velocidade máxima é de 160/163 km/h, números de fábrica, por sinal muito bons.
Em questão de comportamento, mais saudade. A marca do losango definitivamente está íntima do nosso chão. O Sandero “melhora” o irregular asfalto da cidade de São Paulo e na hora de dirigi-lo com vigor por traçados sinuosos, como o da estrada dos Romeiros, o comportamento é impecável. Mesmo sem barra estabilizadora dianteira.
Aproximar de uma curva e frear, ao mesmo tempo baixando uma marcha com uma fácil aceleração interina, sem contorcionismo do pé direito, é mesmo prazeroso, mesmo que seja um carro longe de ter pretensões esportivas. E saber que o freio vai demorar a superaquecer por os discos dianteiros serem ventilados, é uma satisfação.
As rodas de aço com belas calotas receberam pneus 185/65R15H (Continental ContiPowerContact no exemplar testado), perfeitos para os 1.011 kg em ordem de marcha desta versão. No estepe, tudo exatamente igual, mas estranhamente há uma etiqueta circular com o número ’80’ nele. Não há motivo para isso.
O tanque continha gasolina quando o retiramos e o Sandero com o novo motor se mostrou econômico no mundo real. Em autoestrada, rodando sempre ao redor de 120 km/h, o computador de bordo mostrou 14,5~14,6 km/l. Na cidade, com algum trânsito, 13,7~13,8 km/l. Números bastante próximos do oficial Inmetro/PBVE, 14,2 km/l cidade e 14,1 km/l estrada — não é erro de digitação, é isso que está escrito, consumo marginalmente menor na cidade. A Renault explicou, ainda no dia do lançamento dos novos motores, tratar-se de calibração que favoreça o consumo urbano. Mas que é estranho é. O mesmo consumo oficial, com álcool, é 9,5/9,6 km/l nos dois ambientes de circulação. O tanque de 50 litros proporciona boa autonomia, mais de 700 quilômetros com gasolina.
O Sandero, junto com a mudança de motor, traz a solução de aproveitamento da energia cinética por meio da operação otimizada do alternador combinada com monitoramento da carga da bateria. Esta estratégia vendo sendo usada por várias marcas e consiste do alternador só gerar corrente elétrica para a bateria quando a sua carga baixa de determinado valor (em ampères·hora) ou quando o veículo está dissipando velocidade com o pé fora do acelerador (é o aproveitamento citado). Fora isso, nos momentos de necessidade de toda a potência do motor, como numa ultrapassagem, o alternador para de gerar (se o estiver fazendo) para não absorver potência do motor — que para maior eficiência utiliza óleo SAE 0W30.
Além desses dotes, o bom espaço interno mesmo no banco traseiro, que aceita bem três ocupantes, embora o do meio fique sem cinto de três pontos e apoio de cabeça. O espaço para pernas não é gigantesco, mas é apropriado. O porta-malas é generoso para o tipo de carroceria, 320 litros, porém a lamentar o encosto do banco traseiro ser inteiriço. E também o ajuste dos espelhos externos ser manual interno e, nem precisaria dizer, a ausência da faixa degradê no para-brisa.
O Sandero 1,0 SCe Expression é um automóvel, eficiente, robusto (origem Dacia, da Romênia), confortável, prático e muito bom de dirigir, e de preço atraente, R$ 47.040. Uma olhada na lista de equipamentos de série deixa claro possuir uma atraente relação custo-benefício. São apenas dois opcionais, que o carro testado tinha (veja na lista de equipamentos), mas não foi possível obter preço no site da Renault.
Não por acaso o Sandero é o Renault mais vendido e sétimo de dez em vendas.
BS
(Atualizado em 5/10/17 às 22h15, inclusão de gráfico “dente de serra” e alcance das marchas na ficha técnica)
Assista o vídeo:
FICHA TÉCNICA RENAULT SANDERO EXPRESSION 1,0 SCe | |
MOTOR | 3 cilindros em linha, transversal, duplo comando de válvulas, corrente, atuação direta por tucho-copo sem compensação hidráulica de folga, variador de fase na admissão e escapamento por 40º, 4 válvulas por cilindro, bloco e cabeçote de alumínio, flex |
Cilindarada (cm³) | 999 |
Diâmetro x curso (mm) | 71 x 84,1 |
Taxa de compressão (:1) | 12,0 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 79/82 |
Torque (m·kgf/rpm, G/A) | 10,2/10,5 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
Corte de rotação limpo (rpm) | 6.500 |
Veloc. média do pistão no corte (m/s) | 17,6 |
Comprimento da biela (mm) | 123,6 |
Relação r/l | 0,34 |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
Sistema de partida a frio | Injeção de gasolina no coletor de admissão |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro de 5 marchas manuais à frente 1 à ré, comando por cabo |
Relações das marchas (:1) | 4,09; 2,24; 1,39; 1,03; 0,82; ré 3,55 |
Relação do diferencial (:1) | 4,93 |
Alcance na marchas a 6.500 rpm (km/h) | 1ª 36,7; 2ª 67; 3ª 108; 4ª 145,7; 5ª 163 (a 5.640 rpm) |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular inferior, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletro-hidráulica |
Relação de direção (:1) | 15 |
Voltas entre batentes | 3,4 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,6 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/258 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/203 |
Circuito hidráulico | Duplo em “X” |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5Jx15 |
Pneus | 185/65R15 |
DIMENSÕES | |
Comprimento (mm) | 4.060 |
Largura sem/com espelhos (mm) | 1.733/1.994 |
Altura (mm) | 1.536 |
Distância entre eixos (mm) | 2.590 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo e material | Monobloco, aço, subchassi dianteiro |
Nº de portas/nº de lugares | Quatro/cinco |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,35 |
Área frontal (m², calculada) | 2,13 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,74 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.011 |
Carga útil (kg) | 456 |
Porta-malas (L) | 320 |
Tanque de combustível (L) | 50 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) (G/A) | 13,1/13,0 |
Velocidade máxima (km/h) (G/A) | 160/163 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l, G/A) | 14,2/9,5 |
Estrada (km/l, G/A) | 14,1/9,6 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 28,9 |
Rotação a 120 km/h em 5ª (rpm) | 4.150 |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 5.640 |
Alcance das marchas a 6.500 rpm (km/h) | 1ª 36,7; 2ª 67; 3ª 108; 4ª 145,7; 5ª 163 (a 5.640 rpm) |
MANUTENÇÃO | |
Revisões, intervalo (km/tempo) | 10.000/anual |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000/anual |
Óleo, viscosidade | 0W30 |
GARANTIA | |
Termo (tempo) | 3 anos |
EQUIPAMENTOS SANDERO 1,0 SCe EXPRESSION |
Acelerador elétrico com comando eletrônico |
Acionamento elétrico um-toque dos vidros dianteiros |
Ajuste manual dos retrovisores externos |
Ajuste de altura do banco do motorista |
Ajuste de altura do volante de direção |
Ajuste de altura dos cintos dianteiros |
Alarme perimétrico |
Alarme sonoro de luzes ligadas |
Alças de teto, uma para o passageiro dianteiro e duas atrás |
Alerta de cinto de segurança do motorista desatado |
Apoios de cabeça dianteiros reguláveis em altura |
Apoios de cabeça traseiros (2) reguláveis em altura |
Barras antiinvasivas nas portas |
Bloqueio da ignição por transponder |
Bolsas infláveis frontais (obrigatórias) |
Cinto central traseiro subabdominal, demais de três pontos |
Comando de abertura de portas por radiofrequência |
Comando interno de abertura do porta-malas |
Computador de bordo |
Conta-giros |
Desembaçador e limpador do vidro traseiro |
Difusores de ar laterais cor cromo |
Encosto do banco traseiro inteiriço e rebatível |
Frisos cromados na grade dianteira |
Iluminação do porta-luvas |
Iluminação do porta-malas |
Indicador de nível do reservatório de gasolina do sistema de partida a frio |
Indicador de troca de marcha |
Luz interna na parte anterior do teto |
Maçanetas internas na cor preta |
Para-sóis com espelho |
Porta-copos/objetos nos consoles dianteiro e traseiro |
Porta-malas revestido |
Porta-objetos no painel |
Puxadores internos da porta cromo fosco |
Quadro de instrumentos com iluminação permanente |
Rádio/CD Player MP3 2DIN, USB, Aux-in, iPod, Bluetooth e comando satélite no volante |
Relógio |
Revestimento da alavanca do freio de estacionamento |
Rodas de aço com pneus 185/65R15, calotas integrais Fuego |
Sistema de regeneração de energia |
Temporizador do limpador de para-brisa |
Terceira luz de freio |
Tomada de energia de 12 V |
Travamento automático das portas a 6 km/h |
Travas elétricas das portas |
Travas para crianças nas porta traseiras |
Vidros esverdeados |
OPCIONAIS |
Sistema multimídia Media NAV Evolution com tela tátil de 7″, navegação GPS, rádio, Bluetooth, Eco Coaching e Eco Scoring |
Sensor de estacionamento |