Eu estava com saudade de escrever minha coluna, leitor ou leitora autoentusiasta.
Como contei em minha penúltima coluna em 8/10, eu ficaria impossibilitado de escrever por força de um compromisso profissional que demandaria muito do meu tempo, juntamente com um grande número de viagens pelo país, o que tornaria praticamente impossível me dedicar a ambas atividades.
No período entre setembro e dezembro último visitei concessionárias em 24 diferentes capitais e cidades, o que me fez utilizar muito avião, o que, sinceramente, não faz muito meu gênero. Sou da estrada e sempre que podia, quando a distância e o tempo disponível o permitiam, fazia meu deslocamento de uma cidade a outra com carro alugado. Divertia-me e às vezes até chegava mais rápido do que se tivesse ido de avião.
Eu contei que iria fazer um trabalho de auditoria para uma fabricante multinacional e isto me trouxe muito prazer, além de ter tido a oportunidade de fazer algumas recomendações e também de ter aprendido muita coisa nova. Nunca é tarde para se aprender — infeliz aquele que acha que já sabe tudo!
Chegava à concessionária por volta das 8h30 da manhã e a atividade começava imediatamente.
Auditor não é aquele sujeito que faz seu trabalho pensando em prejudicar alguém ou alguma empresa, bem diferente do “leão”, que está sempre à procura de alguma coisa que ele acha que deixou de abocanhar.
Plagiando o programa de TV “Zorra total”, em outras palavras o auditor faz o papel do saudoso Paulo Silvino e seu imortal quadro “cara-crachá, cara-crachá”. Vê tudo, registra em sua mente, fotografa e, finalmente, elabora o relatório contando em detalhes o que viu, como viu, etc.
Neste período em que passei nas concessionárias, nunca mais do que um dia, reencontrei amigos os quais havia conhecido ano passado nesse mesmo trabalho. Foi muito gratificante ser bem recebido. Esta atitude é “uma faca de dois gumes”, ou seja, fui bem recebido porque fiz um bom trabalho ou fui bem recebido porque não penalizei a concessionária como talvez devesse? Deixo esta análise para o meu contratante, mas fosse esse o motivo acho não teria sido recontratado este ano para fazer a mesma coisa.
Mas vamos aos fatos ou ao fato que me fez dar muita risada, muita mesmo, e quero compartilhar isso com você.
Depois de um dia inteiro numa determinada concessionária e acompanhado pela pessoa responsável pela qualidade, fiz logicamente novas amizades e tive o prazer de rever conhecidos, como disse acima. Uma delas foi a diretora dessa concessionária.
Meu programa de viagem habitualmente me leva a dormir na cidade onde vou trabalhar no dia seguinte. Assim sendo, quando não vou por estrada, dirijo-me para o aeroporto por volta das 18/19 horas e chego ao hotel para dormir e acordar bem cedo. Jantar, às vezes dá tempo, outras não, e lanche de avião hoje em dia você sabe como é.
Chegou a hora de ir para o aeroporto e seguir para a próxima cidade.
A diretora da concessionária que eu acabara de auditar ofereceu-me uma carona, já que iria até a casa de sua mãe, bem perto do aeroporto, segundo me disse.
Sem fazer cerimônia, aceitei a carona e coloquei minha bagagem no porta-malas do carro, e saímos.
Era um carro da marca, importado e repleto de tecnologias. Sentei-me no lado do carona. Foi até um momento muito oportuno para fazer comentários sobre a auditoria que eu acabara de realizar. Pontos a favor e pontos contra, mas auditoria tem este objetivo, melhorar o que for possível para sempre atender melhor os clientes da marca.
Chegamos ao aeroporto, fazia muito calor e a diferença entre a temperatura interna do carro e externa era muito grande, vou dizer que saí de uns 17 ºC para uns 40 ºC em questão de segundos.
A diretora gentilmente desceu do carro e se dirigiu ao porta-malas, onde eu já retirava minha bagagem. Ela agradeceu a minha visita, me parabenizou pela forma como eu conduzira a auditoria e num gesto comum como bons brasileiros que somos nos despedimos com dois beijos na face, algo muito normal em nosso país, sem maldade alguma. Ela entrou no carro — e que carro! — e foi embora para a casa de sua mãe.
Peguei minhas malas, ainda bem que têm rodinhas, e subi a rampa de acesso ao setor de embarque — refrigerado, que bom!
Não percebi que ao subir pela rampa iria passar por dois rapazes que deveriam ter entre 18 e 20 anos. Eles estavam apoiados sobre uma pequena mureta e viram o carrão parar, eu descer, a diretora descer, eu pegar as malas e nos despedirmos.
Quando passei por trás dos jovens, um disse para o outro em voz que creio propositalmente alta, “Eta veinho bão este, viu só o carrão e a muié que trouxe ele?”
Entrei no saguão rindo, mas rindo muito.
O comentário dos garotos deve ter-lhes atiçado a mente e pensado no pior — ou no melhor, não sei: “Veinho abonado esse, deu um carrão importado pra namorada, amante ou o que mais, e ainda vai viajar e deixá-la sozinha nesta cidade.”
Bem, este foi mais um episódio vivido por mim nestes 52 anos de atividade no campo. Dei-me bem? Não sei, só sei de uma coisa: minha mulher não gostou nada, nada quando lhe falei sobre a tal carona…
Fica aqui um exemplo de que o pensamento é livre, cada um pensa o quer e é responsável pelos seus atos e consequências, é claro.
O resumo da história é que estou muito feliz em estar de volta e espero estar com você todos os domingos daqui para frente.
RB
Nota: As fotos são meramente ilustrativas