É um velho conhecido meu, o Citroën Aircross. Desde o lançamento em 2010 dirigi praticamente todas suas versões, em períodos diferentes. Do mais básico, equipado com motor de 1,5 litro e câmbio manual, à versão-topo Shine, dotada do motor mais potente, o VTI 120 Flex Start 1,6-litro e câmbio automático.
Aliás, foi com a versão mais chique do Aircross que realizei um “No uso” aqui no AE exatos 14 meses atrás. Todavia, quando surgiu a oportunidade de fazer um Teste de 30 dias com outro Aircross Shine imediatamente mordi a isca. A razão? A troca do câmbio automático AT8, de quatro marchas, por uma nova caixa, a EAT6 fabricada pela japonesa Aisin, de seis marchas, alteração técnica relevante, a grande novidade para esta versão 2018. Trata-se do mesmo câmbio que equipa atualmente os Citroën C4 Picasso e Lounge.
Como você pôde ler no texto escrito pelo Arnaldo Keller no princípio de junho de 2017, quando a Citroën apresentou à imprensa especializada este novo Aircross (e o C3) equipado com a caixa automática de seis marchas, também revelou ter feitos ajustes do motor visando maior suavidade e emissões menores. A potência com gasolina não mudou, manteve-se em 115 cv, mas agora está a 5.750 rpm, 250 rpm menos do que antes. Já com álcool 4 cv foram perdidos, e de 122 cv o motor de 1,6 litro passou a exibir 118 cv também a 5.750 rpm, ínfimas 50 rpm menos.
O torque máximo agora é de 16,1 m·kgf com ambos os combustíveis, mas a 4.000 rpm com gasolina e a 4.750 rpm com álcool (antes 4.000 rpm, sendo 15,5/16,4 m·kgf). Resumindo, o torque máximo com gasolina acabou subindo 0,6 m·kgf e com álcool baixou menos, 0,3 m·kgf.
Os efeitos deste novo acerto do motor associado à caixa de seis marchas premiaram basicamente a economia, que segundo a fábrica está 7% menor em geral usando o câmbio no modo Drive, enquanto no modo Eco a redução de consumo anunciada foi da ordem de 5% menos. Parece pouco mas não é, e a presença de mais marchas certamente permite ao quatro cilindros em linha uma performance mais adequada, coisa que comprovarei na prática durante as quatro semanas de teste.
Inacreditavelmente, ainda não está disponível o consumo de combustível oficial Inmetro/PBVE, tampouco os dados de desempenho.
De acordo com o “monte o seu” do site da Citroën do Brasil, para comprar um Citroën Aircross 1.6 Auto Shine idêntico a este que estreia neste Teste de 30 dias é preciso gastar pouco mais de R$ 78 mil, preço que resulta do valor de R$ 75.925 acrescidos de R$ 775,00 referente ao frete e R$ 1.390 (cor opcional marrom Dark Carmim).
A primeira semana rodando com o Aircross de câmbio novo tive a oportunidade de rememorar o que me agrada neste Citroën e confirmar que tais aspectos positivos continuam bem presentes. Primeiro deles, disparado, é a suavidade com a qual o Aircross se deixa conduzir. A assistência elétrica da direção aliada à razoável ergonomia torna o ato de dirigi-lo bem agradável, cúmplice nisso a boa conformação de elementos como o volante de pega agradável, do encosto e assento do banco e a ampla visão oferecida, pelo para-brisa e seus vidrinhos laterais, que se soma à boa área envidraçada e posição de dirigir elevada.
Ainda no âmbito do conforto é justo sublinhar o silêncio a bordo, que demonstra o cuidado da marca francesa em manter do lado de fora ruídos e vibrações, além do excelente trabalho realizado no acerto de suspensões, que continuam macias mas não molengas, e onde foram alteradas as especificações dos amortecedores e da barra estabilizadora traseira.
Do lado negativo permanecem no Aircross os mal desenhados (e escassos) porta-objetos no entorno do motorista, a alavanca de câmbio afundada no piso e ele, “meu inimigo”, o estepe pendurado atrás da porta de carga.
No que pese o sistema de destravamento do suporte do pneu sobressalente ser um dos mais práticos (acionado por controle específico na chave tipo canivete), para abrir o porta-malas é sempre necessária uma manobra que eu, particularmente, detesto. E repito aqui o que escrevi 14 meses atrás: acho um erro do marketing da Citroën não oferecer uma versão topo do Aircross que tenha estepe dentro do porta-malas (onde há espaço para ele, ocupado nesta versão Shine por uma grande peça de isopor contendo macaco e triângulo encaixados…) e pneus “civis”, não estes mistos Pirelli Scorpion ATR.
Outra crítica que cabe fazer ao Aircross é ser equipado com apenas os duas bolsas infláveis exigidas por lei, e não ter controle de estabilidade e de tração. Nem mesmo o auxílio a partidas em aclives ele tem. Imagino que o naipe de clientes potenciais deste Citroën é um público bastante sensível a estes tipos de equipamentos e a ausência destes – nem como opcionais – deve certamente prejudicar vendas, além da imagem do produto e da marca.
Postas as críticas e elogios, às impressões: efetivamente é um outro Aircross – e melhor! – este com câmbio japonês de seis marchas. Trocas mais suaves apesar de ainda perceptíveis e o óbvio, que é sempre haver a marcha certa para a maioria das condições enfrentadas, coisa que com o câmbio anterior de quatro marchas era mais difícil.
Nos 300 quilômetros rodados nesta primeira semana, frequentei como de costume a região mais acidentada de São Paulo, os bairros do Sumaré, Perdizes e Pompeia, lugar cheio de subidões e declives que fariam bonito nos Andes ou nos Alpes suíços. Trata-se de terreno ideal para ver como se comporta um câmbio automático, que em tais condições deve “pensar rápido”, selecionar a marcha certa nas frequentes transições de descidas para subidas e vice-versa. Especialmente por se tratar do Aircross um carro que não dos mais leves (1.328 kg) e de potência justa para tal massa, a ação do câmbio não pode ser titubeante.
Neste contexto a impressão inicial é que a caixa Aisin faz muito bem seu trabalho. Ainda não está no estado de arte, provavelmente mais por conta das características do motor e da massa importante do Aircross do que do ajuste eletrônico do câmbio propriamente dito. Contudo, não passa jamais a sensação de estar “estrangulando” o motor por não haver alternativa melhor – no caso marcha superior – para passar ou deixar o motor girar em regime abaixo do ideal no caso oposto.
Outro bom aspecto é o razoável curso das suspensões. Nas típicas valetas (argh!) paulistanas elas dificilmente deixam o Aircross ficar de roda no ar. Outro aspecto decorrente da altura em relação ao solo majorada em relação ao Aircross normal é a quase total impossibilidade de raspar extremidades no solo em entradas de garagem muito desniveladas ou lombadas extremas.
Por conta desses trajetos curtos feitos em ruas acidentadas usando gasolina — ao menos foi isso que disseram estar no tanque na hora da entrega — o registro do computador de bordo fez ver míseros 6 km/l. Tal marca me faz duvidar fortemente desta “gasolina” ser mesmo apenas gasolina com a adição padrão de álcool. E por conta disso mesmo resolvi rodar até praticamente secar o tanque para, na próxima semana, confirmar (ou não) se a cifra certa para este tipo de uso no sobe e desce e anda e para é esta mesmo.
Portanto, para a segunda semana do Aircross, mais uso urbano na zona montanhosa de São Paulo e, quem sabe, uma escapadela rodoviária com este Citroën velho conhecido que, aparentemente, está renovado, melhor e mais competente devido ao câmbio japonês e a um bom trabalho de lapidação.
RA
Citroën Aircross 1,6 Auto Shine
Dias: 7
Quilometragem total: 300 km
Distância na cidade: 300 km (100%)
Distância na estrada: 0 km (0%)
Consumo médio: 6,0 km/l (gasolina)
Média horária: 16 km/h
Tempo ao volante: 18h45minutos
FICHA TÉCNICA NOVO CITROËN AIRCROSS 1,6 AUTO SHINE 2018 | |
MOTOR | |
Denominação do motor | 120 VTi Flex Start |
Tpo de motor | Otto, arrefecido a líquido, flex |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido/alumínio |
Nº de cilindros/disposição/posição | Quatro/em linha/transversal |
Diâmetro x curso (mm) | 78,5 x 82 |
Cilindrada (cm³) | 1.587 |
Taxa de compressão (:1) | 12,5 |
Nº de com. de válvulas/localização | Dois, no cabeçote; fase variável no de admissão |
Acionamento dos comando de válvulas | Correia dentada |
Nº de válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima (cv/rpm) (G/A) | 115/118/5.750 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) (G/A) | 16,1/4.000 // 16,1/4.750 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/alternador (V/A) | 12/55 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo dianteiro automático Aisin de 6 marchas + ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,044; 2ª 2,371; 3ª 1,556; 4ª 1,159; 5ª 0,852; 6ª 0,672; ré 2,455 |
Relação do diferencial (:1) | 4,066 |
Relação do par de saída (:1) | 1,104 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular transversal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 375 |
Diâmetro mínimo de curva | n.d. |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 266 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 229 |
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS, EBD e assistência à frenagem de emergência |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 205/60R16H (Pirelli Scorpion ATR) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em ação, crossover, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.307 |
Largura sem espelhos | 1.767 |
Altura | 1.742 |
Entre-eixos | 2.542 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Compartimento de bagagem (L) | 403 (1.500 com banco traseiro rebatido) |
Tanque de combustível (L) | 55 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.328 |
Carga útil (kg) | 400 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | n.d. |
Velocidade máxima (km/h) | n.d. |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l) (G/A) | n.d. |
Estrada (km/l) (G/A) | n.d. |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª (km/h) | 39,6 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 3.000 |
INFORMAÇÕES ADICIONAIS | |
Intervalo de revisões/troca de óleo | 1 ano ou 10.000 km |
Garantia | Três anos |