Na Parte 1 desta matéria vimos como o André Chun descobriu a história de seu Fusca, que é o último Fusca brasileiro. Nesta Parte 2 vamos entrar em alguns detalhes deste carro através de fotos. É hora de conhecer o 6619.
Mas antes disto vamos conferir a empatia entre o André Chun e os familiares do Sr. Itagyba, que foi exemplar, tanto que ele relatou um encontro com eles:
Um jantar “no mesmo local de sempre” …
Reportado por André Hok Joo Chun
Como se não bastasse tudo isto, recentemente eu viajei ao Brasil para um encontro com a família Nogueira de Sá, Galera e Carvalho no Restaurante e Pizzaria Macedo’s da Rua Monte Alegre, perto da PUC em São Paulo, local que o Sr. Itagyba e o Sr. Miguel Barone frequentavam regularmente.
O Dr. Ricardo L. S. Carvalho me disse que o Sr. Miguel Barone gostava dessa mesa e que a cadeira na qual eu estava sentado era o lugar em que ele ficava, por isso que esta mesa tinha sido especialmente reservada para este jantar.
A família é muito generosa e me deu de presente um chaveiro da Volkswagen com um acabamento finíssimo, que havia sido um presente do Sr. Barone para a família.
É o livro que a Volkswagen brindava aos proprietários de Série Ouro e ao Sr. Itagyba é autografado pela família:
Em resumo: além de contar muitas histórias do Sr. Itagyba, da Volkswagen e do Sr. Miguel Barone, de terem enviado muitas fotos, dos livros autografados e presentes que me deram e que demonstraram uma alta estima, a família do Sr. Itagyba fez questão da pagar a conta do restaurante. Extrema gentileza que até hoje não sei como poderei agradecer.
A esta altura o André já se tinha transformado num especialista em Fusca “Itamar” e Série Ouro, dado ao fato de ter possuído e possuir estes carros, e de pesquisar seus detalhes a fundo.
Adiante o André nos conta como foi descobrindo os detalhes de seu “novo” último Fusca nacional, passo a palavra para ele:
Fusca 6619 – suas características
Relatado por André Hok Joo Chun
Ao pegar o Fusca 6619 e vê-lo pessoalmente, me surpreendi com detalhes que pensei que houvessem sido resultados de reparos ocorridos com o tempo, tais como as saboneteiras (peça que envolve a alavanca de abertura das portas de dentro do carro), puxador de porta e manivelas de abertura das janelas pretas.
Cheguei a comprar todo o jogo cinza Platin (o nome da cor era “Platin” mesmo, e não platina) do Itamar para substituir saboneteira, manivela e puxador da porta. Da Alemanha mandei trocar as peças pretas que estavam no carro pelas cinza, mas quando em julho de 2017 recebi a foto da entrega do carro para o Sr. Itagyba descobri que a Volkswagen entregou o carro da maneira que eu o havia comprado; sendo assim mandei recolocar as peças pretas que tinham sido trocadas e que eu felizmente havia guardado:
Muito possivelmente a Volkswagen já não tinha mais algumas peças do Fusca “Itamar” em estoque e acabou utilizando peças da Kombi que eram exatamente como as da foto de entrega do carro. Para permitir uma comparação entre um Fusca Série Ouro, no caso um vermelho Dakar, e o 6619, seque a comparação das suas portas esquerdas:
Outra característica do 6619 é sua alavanca de acionamento do pisca-alerta (alavanca de acionamento do interruptor da luz de advertência) que é a dos anos 80, diferente da alavanca do Série Ouro e da maioria dos Itamar que têm a cabeça triangular. A comparação fotográfica que segue esclarece este detalhe:
Outra inconsistência é o para-sol do 6619, senão vejamos: o padrão do Fusca “Itamar” é ter forro de teto e para-sóis em acabamento salpicado, como mostrado na foto abaixo:
O Fusca Série Ouro vinha com acabamento do teto e para-sol num padrão cinza liso (uma peça muito cara e difícil de se encontrar nos dias de hoje). Mas o 6619 veio com o forro do teto salpicado, seguindo o padrão dos Fuscas “Itamar, mas os para-sóis dele são em acabamento cinza liso do Série Ouro, como se pode ver na foto abaixo:
O manual que veio com o Fusca 6619 é um manual de Série Ouro. Possivelmente não havia mais manuais do Fusca “Itamar” disponíveis. O Manual do Série Ouro é diferente daquele do “Itamar” por conta, por exemplo, do volante e dos faróis de milha:
Falando dos volantes, abaixo uma comparação do volante de um Série Ouro com o volante do 6619:
Vamos à página 2-11 do manual – que é do Série Ouro, em especial à instrução sobre luzes de advertência (pisca-alerta), que está na extrema direita da página. Na ilustração correspondente podemos ver que o desenho da alavanca de acionamento do interruptor da luz de advertência não reproduz a forma em triângulo desta alavanca, que seria o correto para o Série Ouro e muitos dos Itamar.
Outro aspecto do manual que não corresponde ao 6619 é a presença dos faróis de milha, exclusividade do Série Ouro. Além da página 7-07 com o desenho de dimensões do carro, que reproduzimos abaixo, o manual também trata dos faróis de milha, especificamente mostrando as instruções para a troca de sua lâmpada.
O manual veio com dois vouchers de revisão gratuita dos 7.500 e 15.000 km, emitidos pela Sabrico. Como a Sabrico, infelizmente, foi à falência, sendo descredenciada da Rede Volkswagen, acho que somente terei a revisão gratuita dos 15 mil quilômetros se outra concessionária assumir este compromisso…
O 6619 tem as características próprias de um “Itamar” Luxo 2 (que também era chamado de Pacote/Código 3) e no geral hoje em dia o carro tem aspecto de 0-km. Externamente, sem riscos, consertos com aplicação de massa ou amassados e por dentro, estofados e forros sem mancha ou rasgos.
Os opcionais que indicam o Luxo 2:
Todos os opcionais em questão são originais e podem ser descritos assim:
Vidros verdes: todos Sekurit e com a gravação de numeração de chassi TP00619 em todos eles:
Desembaçador traseiro: funcionando normalmente, interruptor sem descascado e retroalimentação acendendo:
Lanternas traseiras Arteb fumê e para-choques originais com os borrachões originais Volkswagen (o borrachão traseiro foi reparado):
Relógio analógico no painel, sem qualquer risco na lente ou poeira no mostrador:
Caixa com alto-falante na parte frontal sob o painel e caixa com alto-falante traseira sob o banco de trás:
Porta-objetos das portas firmes e sem rachaduras e forros laterais com a parte inferior acarpetada.
Carpete com bate-pé no lado do motorista:
Percevejos preservados nas junções dos carpetes.
Buzina dupla.
Espelho externo direito:
Peças e características que atestam a originalidade do carro:
Apenas uma chave para abrir portas, tampa traseira e ainda a ignição (raridade após 21 anos). Chaves-reserva acompanham o carro:
Faróis Arteb:
Todas as cinco rodas são datadas de 06 05 6. Apenas os Fuscas Série Ouro de numeração de chassis elevada possuem essa data de fabricação e esse lote é o último que foi entregue pelo fabricante destas rodas para a Volkswagen do Brasil:
Todos os cinco pneus são Firestone modelo F-560, com data 216 (21ª semana de 1996). Sabe-se que os Série Ouro saíam de fábrica somente com pneus Firestone F-560:
Barras estabilizadora dianteira e compensadora traseira originais (muitos Fuscas já estão sem as barras compensadoras):
Motor em estado de 0-km, com itens que nem sempre se vê em Fuscas, tais como desborbulhador, mangueiras Volkswagen e válvula anti-chamas. Dois carburadores Solex, e conjunto Thermac:
Estribos originais:
Bancos impecavelmente cuidados, com a ficha de controle de qualidade da Probel:
O selo da Probel S.A. indicando 26 de maio de 1996 como data de fabricação:
Forro do teto salpicado, integro e sem manchas:
Etiqueta do cinto de segurança indicando a sua data de fabricação:
Painel sem rasgo, pois não foi instalado um equipamento de som:
Forros laterais sem furos (muita gente furava o forro para colocação de caixas de som).
Faixas laterais sem danos.
Todos os selos na parte frontal e tampa traseira e ainda etiqueta com o código de tinta na coluna da porta do passageiro, vamos ver alguns deles:
Soldas nas colunas sem presença de retrabalho manual, o mesmo se aplica à outras soldas do carro (seguem fotos do André Chun):
Papelão do porta-malas tal qual veio de fábrica:
Cinzeiro que ainda não foi utilizado, entrada de ar com cores bem vivas e, novamente, o acendedor de cigarro:
Escapamento, defletores e borrachas originais, como se pode ver na foto abaixo:
Parte inferior do carro sem qualquer sinal de amassados:
Uma curiosidade: todos os parafusos apresentam a proteção por KPO; que normalmente é removido pelas concessionárias no momento da entrega, mas no caso do 6619 esta remoção não foi feita:
Manual devidamente carimbado e fazendo referência ao chassi 6619.
Itens não originais
O Sr. Itagyba instalou um alarme no carro, mas o mesmo está desabilitado. Cabo não perfurou o painel e entrou pela aleta de ar. Um furo na mangueira de plástico foi feito:
O Dr. Marcos Dias instalou uma chave corta-corrente na bateria. O Kit usado é bem engenhoso e os cabos da bateria não foram cortados.
Álbum de fotografias do 6619:
A esta altura os nossos caros leitores e leitoras já conhecem os “segredos” do 6619 e para fechar esta matéria selecionamos algumas fotos, feitas pelo André Chun, para mostrar outros aspectos deste fantástico carro, o nosso Último Fusca Brasileiro, que fez a sua apresentação aqui no AUTOentusiastas em grande estilo.
Comentários finais colocados por André Hok Joo Chun:
Eu gostaria de registrar aqui, que logo depois da publicação da Parte 1, eu recebi cumprimentos da família do Sr. Itagyba, conforme reproduzido abaixo.
O filho do Sr. Itagyba, Sr. Roberto Nogueira de Sá, enviou-me a seguinte mensagem:
A Sra. Maria Lucia Nogueira de Sá, filha do Sr. Itagyba, escreveu o seguinte:
O genro do Sr. Itagyba, Sr. Ricardo Luiz dos Santos Carvalho, enviou a seguinte mensagem:
Agora, terminando esta matéria relembro um momento muito bonito ocorrido há mais de 21 anos, quando o 6619 foi festivamente entregue para o Sr. Itagyba numa cerimônia especial realizada na Sabrico. E a entrega foi comemorada com um brinde entre o Sr. Itagyba e sua esposa, a Sra. Brasília, tudo tão bem preparado que até parecia uma pintura:
Em tempo, muitos amigos me sugerem que eu traga o carro para a Alemanha, mas entendo que esse carro faz parte da história automobilística brasileira e representa diversas gerações de brasileiros que andavam de Fuscas de norte a sul, portanto ele deve ficar no Brasil.
Espero que a memória de nosso personagem principal, Sr. Itagyba Nogueira de Sá, tenha sido honrada com este trabalho; já que ele, aos 89 anos de idade, teve a bela iniciativa de escolher um singelo Fusca branco para ser seu carro, mesmo quando ele tinha condições de escolher um carro mais moderno e confortável.
E não poderia ser melhor: o último Fusca produzido entra na história sem ser um Série Ouro, sem ser de uma série especial, sem aparelho de som e sem uma cor de impacto. Tomara que ele não saia da memória dos admiradores de Fuscas. De minha parte este carro continua a ser tratado da melhor maneira possível para que ele se mantenha para as gerações futuras.
E assim fechamos a Parte 2 desta matéria que em sua Parte 1 foi prestigiada por mais de 7.500 visitas (no fechamento desta Parte 2), isto demonstra o grande interesse que esta matéria despertou por seu conteúdo inusitado.
Fico muito contente com este resultado e registro minha alegria pela parceria com o André Chun, a quem agradeço e parabenizo pelo excelente trabalho realizado.
AG