Em Interlagos, no Alfa Romeo GTV com o Chico Lameirão, no Audi A4 com o Bob, e pilotando o Camaro do Douglas
Tem dias em que a gente acorda com sorte e vai dando tudo certo, tão certinho que a gente até se surpreende, e tem dias que a gente acorda com mais sorte ainda e as coisas saem melhor que uma expectativa otimista. Pois o último dia 24 de fevereiro foi, para mim, um desses dias em que as coisas dão mais que certo.
O combinado era eu ir de carona com o Chico Lameirão num Alfa Giulia GTV durante o Rali de Regularidade em Interlagos, o “rali do Jan Balder”. E isso, ir de carona com o Chico, um expoente do nosso automobilismo, fosse lá que carro fosse, já estava mais que bom, pois eu iria aprender e me divertir de montão, mas acontece que iríamos num Alfa Romeo Giulia GTV 1974, motor 2-litros preparado (155 cv no dinamômetro), e, entre os campeonatos ganhos pelo Chico, um deles foi o Campeonato Brasileiro de Turismo de 1968 justamente pilotando um Giulia, no caso um GTA da Equipe Jolly Alfa Romeo.
Então, ora, ora, veja só; lá estava eu numa ocasião privilegiada, de carona num carro que adoro e com um de meus ídolos pilotando, e justamente num carro semelhante ao que ele havia pilotado em 1968. Mas o privilégio maior é gozar da amizade do Chico há bastante tempo, então, para mim, foi o melhor desopilador de fígado que eu poderia ingerir.
Durante o rali houve conjuntamente a comemoração dos 30 anos do Alfa Romeo Clube do Brasil, onde o clube — cujos sócios têm o cuore sportivo característico dos amantes de Alfa Romeo — homenageava o finado e saudoso sócio Fábio Steinbruch, falecido tragicamente em 2/12/2012. Para tanto o clube convidou o Chico, o Wilson Fittipaldi Jr., a piloto Graziela Fernandes e o Silvio Zambello, piloto e filho de Emilio Zambello, que foi piloto e sócio do Piero Gancia na famosa Equipe Jolly Alfa Romeo.
O GTV amarelo em que fomos pertence a um amigo em comum, o Wanderley, que foi no seu outro Alfa, um Giulietta Sprint 1958. O Wanderley é piloto, é do ramo, e seus carros clássicos sempre estão prontos para entrar na pista. Não é colecionador de ficar só passando flanelinha.
E naquela pressa de antes de entrar na pista, ao colocar a ventosa da câmera de vídeo no GTV esbarrei num toco de pau pesado, de mais ou menos um metro, encaixado entre o meu banco e a alavanca de freio de estacionamento…
— Opa! P’ra que esse porrete, Chico? — perguntei.
— É que se a gente der uma cacetada eu tenho como quebrar o para-brisa e a gente cai fora… — foi ele respondendo com a maior naturalidade.
Caí na risada, contente por ver que a coisa ia esquentar, e é assim que eu gosto.
O vídeo adiante conta melhor que as palavras. Espero que o leitor ou leitora embarque nessa com a gente. Garanto que sairá ileso (a).
Mas antes de assisti-lo vale dizer que a certa altura paramos nos boxes, pois o Chico precisava dar algumas voltas sozinho a pedido de um outro repórter, e foi descer do Alfa e entrar no Audi A4 Ambition, 252 cv, tração integral quattro, que o Bob estava pilotando, pois, coincidentemente, ele havia também parado naquele momento.
— Naldo, entra aqui! Vamos dar umas voltas. Esse carro é um show! — disse-me ele.
E tchibuuff para dentro do Audi! Outro baita carro sendo pilotado por outro de meus ídolos e outro amigão do peito. É mole? O dia estava mesmo sendo especial!
O caro leitor ou leitora sabe o que mais me impressionou? A maior diferença entre o antigo e o novo? Entre um Alfa Romeo GTV de 1974 e um Audi A4 de 2018? A freada. Sabe aquele desenho animado onde os olhos do personagem se esticam adiante com uma freada forte? Pois era isso aí. O Bob freia macio, nada de patada no freio, ele o pressiona e vai aumentando gradualmente a pressão, até que passa a aliviá-lo também gradualmente. Não é uma coisa lenta, é rápida, porém macia, sem brusquidão, como deve ser, mas a potência dos freios desse Audi é tremenda. Fora que nos freios do Audi dá para confiar cegamente; já nos do Alfa de 44 anos… vai saber; antes de cada freada resta uma certa dúvida…
Mas em emoção pura o Alfa ganha disparado. A coisa é sanguínea; câmbio manual, punta-tacco, ronco, escorregadas, contraesterço, etc. Já o Audi, câmbio sequencial, que pode muito bem ir no automático que os chips sabem fazer as trocas direitinho, tração nas quatro, controle disso e daquilo, ar-condicionado, silêncio, etc.; a coisa fica meio robótica, então, mais uma vez, ao menos para mim, ficou provado que não é a velocidade em si, só ela, que proporciona a emoção. Não são os tempos de volta que um carro é capaz de fazer que ditarão qual o prazer que esse carro pode nos proporcionar.
Talvez seja essa uma das razões da geral queda de interesse em assistir corridas de automóvel. O espectador, de algum modo, sente o que o piloto está sentindo, e como o piloto está pilotando cada vez mais frio, já que os carros também assim estão — e o jeito certo de pilotá-los é exatamente esse, sem surpresas —, menos o espectador sente. Em geral, os carros de hoje, sim, estão menos emocionantes, e, provavelmente, os do futuro, os elétricos, poderão ser mais rápidos, mas ainda menos emocionantes serão.
Após umas voltas com o Bob, paramos nos boxes, e não é que logo atrás parou o Douglas, o nosso amigo dono do belíssimo Cadillac De Ville 1970 que já foi alvo de matéria do AE. Mas acontece que ele estava é com um Chevrolet Camaro dos novos e de imediato me estendeu a chave do carro…
— Vamos lá, Naldão! Dá uma guiada nesse carro! — o Douglas, sorridente, como sempre.
Pode isso?! E tchibum para dentro do Camaro! Era o que eu estava precisando, se é que poderia precisar de ainda mais emoção da boa, mas, ora bolas!, eu queria eu mesmo pilotar alguma coisa, que fosse até um Fusca 1200 e já estava bom demais, e logo me vem um Camaro dono de 406 cv! Vixe!
Que delícia! O que acelera esse carro! É um Boeing! E quem diz que carro americano não faz curva, não entende de curva e nem de carro. Esse aqui, pelo menos, faz, e o faz muito bem. Tive que tomar cuidado, pois havia muitos carros na pista, e o carro é tão potente e sua frente é tão grande, que ele parecia um limpa-trilhos. Tomei bastante cuidado. Autocontrole e autocontrole. Eu não queria de jeito nenhum atrapalhar quem estava competindo.
Obrigado, Chico, Bob, Douglas, Wanderley e Jan. Vocês me fizeram um bem danado. E obrigado, leitor ou leitora, pois querer levá-lo (la) junto, seja na leitura ou no vídeo, é um grande incentivo.
É muito bom ter amigos!
AK
P.S.: E no dia seguinte recebo um e-mail do Chico Lameirão, que segue:
“Bom dia, amigo Arnaldo! Então, estou em frente ao meu iPad com a intenção de descrever alguns pequenos ajustes que estou indicando ao amigo Wanderley, que gentilmente me ofereceu o Alfa Romeo GTV de seu filho para que andássemos juntos no fantástico Rali de Regularidade do nosso amigo Jan Balder, ajustes estes que julgo irão melhorar significativamente a zona de freada e começo de aceleração desta fantástica macchina que é o GTV, que, a bem da verdade, me fez lembrar os bons velhos tempos da Equipe Jolly em que fui campeão brasileiro no longínquo ano de 1968!!! Há 50 anos!
ACELERADOR: Em seu retorno seu timing está muito lento. Em consequência disso, levava muito tempo para que o giro do motor baixasse, resultando numa espera obrigatória longa para a redução das marchas. A pedida será de trocar a mola do acelerador por uma com maior ação para que o giro baixe mais rápido.
FREIO: Quando ele começava efetivamente a funcionar, a altura do pedal ficava com muita diferença em relação à altura do acelerador, o que culmina em uma certa dificuldade no “lavoro del punta-tacco” e consequentemente na zona da freada, pois se tinha que dar mais espaço para a chegada às curvas. Ainda no item freio, ele está um pouco esponjoso, que para uso em um rali não é extremamente preponderante, mas sempre pode te deixar com “a pulga atrás da orelha” para um momento em que o bom é ter total confiança.
DIREÇÃO e SUSPENSÃO: Estão ótimos esses dois itens, sem folgas, precisos , muito confiáveis, em que pese o spin (a rodada) que demos, que em outras épocas muito provavelmente teria “pego em cima”, pois pegamos uma mancha de óleo, acredito eu, mas foi “amusement ” (uma diversão), acho… Também, tanto tempo sem pilotar uma “vera machinna di corsa“, pode dar nisso…
PNEUS: Nunca havia andado com essa marca. Gostei. No dia anterior, o Wanderley e eu mudamos um pouco a pressão que ele usa normalmente, que num primeiro feeling, achei boa. Como estávamos na pista na largada, comprovei…
MOTOR: Excelente, avivou em muito o auto em si, pois te tira das curvas em suas saídas com valentia, sem excessos, muito bom.
AGRADECIMENTOS: primeiramente ao Wanderley, que com coragem gentilmente me ofereceu a Alfa Romeo GTV de seu filho, para mim uma honra que talvez não mereça, mas gostei demais, a bem da verdade…!!!!
A você, Arnaldo, pela companhia e bela filmagem, me deixando também à vontade, pois quando se leva uma pessoa que tenha receio do que se está a fazer, a atenção e tensão têm que ficar redobrada, e com você eu estava completamente à vontade… Boas risadas demos!!!! VALEU!!!
Ao Alfa Romeo Clube do Brasil, pelo belo “Momento Alfa Romeo”, com uma homenagem para lá de merecida ao Fábio Steinbruch. Tudo otimamente organizado, confraternizado por todos seus sócios em um ambiente extremamente agradável, como nunca tinha vivencidado em tal nível.
Abraço amigo,
Chico Lameirão”
Os autoentusiastas é que te agradecem, Chico. Quanta alegria e boas emoções nos fizeste e fazes sentir!
Assista ao vídeo: