Carlos E. Garcia, Casé
enviado especial
Amelia Island, na Flórida, EUA, é parada obrigatória para o verdadeiro entusiasta de automóveis antigos, automobilismo histórico ou a pura paixão pelas quatro rodas. Integra o circuito mundial dos Concours d’Élégance, como Villa D’Este, Itália; Autoclásica, Argentina; e Pebble Beach, também EUA. Esses grandes encontros de colecionadores reúnem o crème de la crème das coleções. Infelizmente, no Brasil tal objetivo existe apenas em Araxá, MG, bianualmente.
Infortúnio
Devido à previsão de chuvas para o domingo, o que não ocorreu, na quinta-feira anterior a organização decidiu antecipar para sábado o Amelia Island Concours d’Elégance. Muitos aficionados foram surpreendidos e, ou não compareceram, ou perderam grande parte pela antecipação, impedindo e cancelando o empolgante encontro dos clubes de marcas tradicional aos sábados. Agora só em 2019.
Amelia premia automóveis de uso normal, e incentiva a preservação dos participantes em corridas, e pilotos estelares. Em 2018 homenageou o primeiro brasileiro da nossa era de ouro. Campeão em várias categorias, Emerson Fittipaldi teve brilhante carreira no Brasil, foi o primeiro brasileiro campeão na Fórmula 1, em 1972, repetindo-o dois anos após; abriu caminho à inclusão do Grande-Prêmio do Brasil no circo da Fórmula 1, sendo decisivo na introdução de sequência de brasileiros na categoria, como Piquet e Senna.
Sempre foi apostador all-inner. Com a carreira no ápice em 1975, embarca com seu irmão Wilsinho no sonho de construir um carro e ser dono de equipe de Fórmula 1. Uma coisa absolutamente improvável. Em 1976 lança à mesa todas as suas fichas e torna-se piloto da própria equipe, a Copersucar Fittipaldi.
Ao contrário do que reza o imaginário popular, conseguiu excelentes resultados, mas a política matou o sonho em 1982. Ele perdeu a aposta.
Arruinado, foi redescoberto como piloto no campeonato da CART de Fórmula Indy, onde em 1989 tornou-se o primeiro piloto a vencer o campeonato, incluindo em seu cartel o 1º lugar na mítica prova Indy 500 daquele ano. No lugar mais alto do pódio da Indy 500 em 1993 protagonizou antológica cena, substituindo protocolar garrafa de leite por outra de suco de laranja, produto brasileiro de exportação, vindo de suas plantações.
Nos EUA Emerson ficou conhecido como Emmo, e assim foi chamado por seus incontáveis fãs estadunidenses na festa de Amelia Island.
Um homem que fincou tantos fatos inéditos no consagrado automobilismo brasileiro e mundial, reverenciado e homenageado com nome de automóvel, relógio, pelo McLaren Team, Kawasaki e tantos outros, contrasta com a falta de reconhecimento em sua terra natal. Esse reconhecimento agora lá do que não tem cá o levou às lágrimas em público. Emmo-cionante.
Emerson, ou Rato para os íntimos, foi figura presente e simpática nos dias viáveis nos belíssimos gramados do Campo de Golfe do Ritz Carlton, onde ocorre a exposição. Em meio as diversas ilhas temáticas de esportivos, carros pré-guerra das décadas de 20 e 30, elétricos, Cadillacs, Ferraris, Porsches, entre outros e expositores comerciais como Alfa Romeo, McLaren e Jaguar, reluzia a ilha dedicada ao homenageado onde distribuía sorrisos e autógrafos.
A curiosa Placa Preta
Qual foi a surpresa do restrito grupo de brasileiros presente quando ao longe se vislumbrou o Renault R8 amarelo? Esse automóvel é raro no Brasil, importado para sondagem de mercado, mas integrou a Equipe Willys. É brazuca! E porta placa com letras cinzas, fundo em denso breu, a identificação brasileira de veículo de coleção: “EJC-6045, São Paulo- SP” (foto de abertura).
Como isso chegou aqui? Todos se perguntavam. Maurício Marx, colecionador, restaurador e divulgador da atividade, resume: “Sempre quis levar um de meus carros a evento nos EUA, mas presumia possíveis dificuldades, pois os grandes colecionadores nacionais nunca expuseram fora do Brasil. Quando li a homenagem ao Emerson, corremos para caracterizar o R8 nos seus dias de glória. Correções, adaptações para a caracterização de corridas, pesquisa e produção de material impresso para fazer um memorial e enviar aos organizadores submetendo a inscrição. Bill Warner, o organizador, foi extremamente sensível, entendendo a importante adição de um carro de corridas do Emerson ao início de sua carreira. E aceitou a inscrição. Voltamos com um prêmio hors-concours. E ano próximo estaremos lá.”
Maurício foi com equipe caracterizada de sua atividade, o Universo Marx, seu irmão Guilherme, e Paulo “Louco” Figueiredo, curador de um museu paulista.
Tratando-se do primeiro carro de colecionador brasileiro a participar de um Concours d’Élégance nos EUA, deveria orgulhar o titular da Coluna, Dr. José Roberto Nasser. Sua iniciativa pessoal, nos idos de 1985, para criar legislação reconhecendo essa categoria não só incentivou, como determinou a preservação dos automóveis de interesse histórico. Agora esses salvados do tempo são conhecidos e, o principal, reconhecidos internacionalmente.
Maurício, de rara simpatia, sugeriu que deveríamos, como país, ter mais incentivo a esse tipo de participação cultural, sem a burocracia desestimuladora e quase inviabilizadora. Ao fim e ao cabo, o empenho pessoal e irrestrito, somado à ousadia do pessoal do Universo Marx (comércio de carros antigos na alameda dos Nhambiquaras, 1980, Moema, em São Paulo), empurrou o carro por mais de 5.000 km, e abriu caminho a ser seguido. Como o Emerson fez lá naquele dia quente de julho de ´70 em Brands Hatch. Se mais brasileiros acreditarem e ousarem, a história se repetirá, e em alguns anos teremos tempos incríveis nos Concours do mundo, como aconteceu na F-1. A cobertura nacional se restringiu a essa Coluna. Merecia mais.
O show de Bill Warner, idealizador de tudo e chairman da Amelia Foundation que ancora o movimento, foi espetacular mais uma vez.
Uma sequência de carros fez homenagem a Ed “Big Daddy” Roth. O desenhista, designer e construtor de hot rods, que parecem emergir de um cartoon, lenda nos anos 50 e 60 com icônicos carros povoando o imaginário da juventude Beatnik.
Ilhas de marcas laureadas exibiram suas joias: Martini Racing; Museu Porsche com foi o 917K Kutzheck (traseira curta) de 1971 ganhador de Le Mans naquele ano, nas mãos do Dr. Helmut Marko e de Gijs van Lennep; relevo para o Lancia 037, motor central e carroceria do inovador compósito do então pouco conhecido Kevlar.
O evento demonstrou um claro movimento no crescimento dos classic centers de marca. O já bastante conhecido da Mercedes mandou um belo Pagoda 280 SL e expôs juntamente com sua tríade de flagships, AMG GT – Maybach – G Class; BMW mostrava dois carros de seu Museu e incitava colecionadores da marca a trazerem seus carros para serem cadastrados. Dealer “Classic Partner”, da Porsche, distribuía folders onde a marca reconhecia como clássicos carros a partir de 10 anos.
Claramente as grandes marcas identificam a esteira da Mercedes como bom nicho de mercado, repleto de pessoas dispostas a gastar com seus sonhos.
Os eventos paralelos, quase sempre leilões de clássicos, continuaram lá. Os resultados não foram muito satisfatórios segundo os organizadores. Certamente isso se deve à mudança da data do Concours.
Duas raríssimas pedras preciosas foram reservadas para a apresentação no mais importante evento da Costa Leste. Primeiro, o Mustang imortalizado no filme “Bullit” de 1968, descoberto com uma mesma família há dezenas de anos, sem que soubessem de seu especial protagonismo na tela grande. Outro, foi apresentado pela primeira vez ao público nesses históricos gramados: o Shelby Lonestar, estudo sobre o chassi de um GT 40 desenvolvido em segredo para substituir o Shelby Cobra 427. Um elegante esportivo, com carroceria targa e traseira no estilo Kamm-Back. Arrancou suspiros da plateia.
O prêmio Best of Show em Amelia para duas categorias: Concours de Sport, e o próprio Concours d’Élégance.
Best Sport: o grande vencedor foi o Ferrari 250/275P, de 1963 como “250P” para o recém-criado Campeonato Mundial de Protótipos, ganhando a 1000 km de Nürburgring e a 24 Horas de Le Mans. Em 1964, alterado o regulamento, motor original V-12 de 3 litros cresceu a 3,3 litros, alterando nome para 275P.
Hibridismo no nome atinge os dois eleitos. O Best do Concours, Duesenberg J/SJ conversível de 1929, originalmente Modelo J, com motor 420-polegadas cúbicas (6,9 litros), DOHC, aspirado e, em alguma curva de sua história, o motor foi superalimentado, ganhando a designação SJ. Além disso, a carroceria original pela Walter M. Murphy Co., celebrada coachbuilder de Pasadena dos anos ’20, mas levemente alterada pela empresa Bohman & Schwartz. Por terem sido feitas à época do carro, e para seu proprietário original, Edward Beale McLean, dono e editor do The Washington Post, a alteração não comprometeu a relevância da unidade e garantiu-lhe o merecido prêmio.
Gostou? Pensa em ir para Amelia Island em 2019? Saiba, os brasileiros não a descobriram ainda, mas o resto do mundo sim. Então programe-se.
Citroën C4 Lounge, sob medida
Citroën foi a campo para entender as vendas desproporcionais de seu modelo C4 Lounge feito na Argentina. Difícil concordar com a falta de competitividade do automóvel em seu segmento, quando olhadas suas linhas e sentidas suas características. O automóvel é bem arrumado visualmente, confortável para sentar e para o rolar, ótimo rendimento com o motor 1,6 THP, T de turbo, desenvolvido em sociedade finalmente assumida com a BMW. Preço muito bom, vendas baixas.
Pesquisas indicaram o óbvio para as marcas francesas — falta de confiança —, e a marca centrou em processos de envolvimento com o usuário, serviços bem pensados, facilidades, visando apagar esta impressão. Outras constatações foram a necessidade de atender às modas sino-sul-americanas — as mudanças foram desenvolvidas por equipe com franceses, chineses, latinos, brasileiros. Nestas avultam a conectividade, atendida por implementação nos sistemas de comunicação; design, bem marcado com a mudança da frente, do grupo óptico frontal e traseiro, das mudanças no visual e na eficiência da iluminação com luzes e assinatura visual em LEDs. Em estilo, pelo visto as equipes de olhos puxados tiveram prevalência: o carro tem uns traços coreanos.
Na prática aparência elaborada, espaço interno, agradabilidade de uso, tecnologia de comunicação, bom preço, três versões de decoração, todas equipadas em nível superior, serviços para facilitar a vida do proprietário. Espera-se, decole.
Quanto custa
Versão | R$ |
Live | 69.990 (PcD) |
Feel | 93.220 |
Shine | 102.970 |
Ambas as versões superiores tem revestimento em couro, rodas em liga leve. A inferior destina-se a pessoas com deficiência e o preço indica o desconto legal. É a única com revestimento de bancos em tecido.
Roda-a- Roda
Multi – Ford iniciou fazer o EcoSport no Vietnã, sexto país a produzir o modelo, global assinalador de mercados primários em ascensão. Opção de motor 1,0 EcoBoost — maneira da companhia indicar uso de turbocompressor —, ou 1,5 litro, três cilindros, câmbio manual de cinco marchas ou automático de seis.
Também – Grupo PSA associou-se ao governo da Naníbia para produzir veículos Opel GrandiantX e Peugeot 3008 a partir de agosto deste ano. Coisa pouca, 5.000 unidades/ano em 2020, mas importante para a marca ao ampliar sua internacionalização. PSA manteve a marca Opel após comprá-la à GM.
Melhor – Toyota incrementou Etios 2019, seu primeiro degrau da marca no Brasil. Agregou, antes de ser tornado obrigatório, o controle de estabilidade e tração e, como item de conforto condutivo, o assistente de partida em rampa.
Mais – Criou versão inicial, simplória, economizando na composição, a X Std (de standard, termo inglês, antes identificando padrão, agora simplificação), para vendas diretas, a frotistas ou governo.
Como – Para identificar o modelia visualmente, moldura preta na grade frontal.
Mercadologicamente, cada versão está melhor caracterizada em preços, abrindo o leque com o Std duas portas, motor 1,3, câmbio manual, em R$ 47.270, fechando-o, após 13 versões, com o 1,5, 16V, sedã, automático a R$ 67.320.
Mistura – Governo federal quer liberdade para aumentar a mistura de álcool anidro à gasolina em proporção ao seu gosto. Há arrepios na equipe econômica por significar queda de arrecadação.
Russos – Jogada bem estruturada, interessa aos produtores de álcool, e é interessante a coincidência de surgir num ano eleitoral. Mas falta combinar conosco, os russos. Qual o iluminado advogado ou economista, funcionário do Governo, que garante a mistura como produtiva aos motores?
Física – Os motores endotérmicos, os com ignição por velas, foram transformados em flex. E como em física não há milagre ou decreto, não rendem idealmente, seja com as misturas gasálcool a 27%, seja com álcool e um pouquinho de água — como disse o Sérgio Habib, importador da JAC, o motor flex é um pato: nem anda nem voa bem.
Questão – Aumentar a adição de álcool não significa melhorar o rendimento, pois partir de 20% de não é aproveitada pelo motor, ou seja, gera aumento de consumo sem gerar energia adicional. Na prática o consumidor paga pelo que não recebe, e o usineiro sorri.
Trava – A defesa para os milhões de donos de automóveis é caso para a área de proteção ao consumidor do Ministério da Justiça? Para o Procon? Procuradoria Geral da República? Quem freia as perigosas — e inexplicadas — bobagens oficiais?
Ônibus – Marcopolo vendeu 300 ônibus à Nigéria. Base Scania em 250 urbanos Viale; 50 micros Volare com chassi próprio. No país desde os anos ’80, empresa criou imagem de resistência, confiabilidade e conforto superiores.
Conselho – Mercado se reaquece crescendo 20% nos dois primeiros meses; há pontos de favorecimento à aquisição de carros 0-km; e pergunta maior: você pode – e deve – comprar um 0-km?
Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros fez vídeo sobre o tema. Está em Youtube Dinheiro à Vista.
Festa – Fábrica de motores da FCA em Campo Largo, PR, adquirida à extinta Tritec – joint venture entre Chrysler e BMW —, completou 10 anos de operação com produtos Fiat. Os motores E.torQ, de Fiats e Jeeps são BMW desenvolvidos. Foi a primeira a utilizar robôs para os motores, e os princípios do processo Indústria 4.0. Tem láureas de operação limpa.
Tecnologia – Moura, em colaboração tecnológica com a americana East Penn, desenvolveu bateria para motoniveladoras e pás carregadeiras Caterpillar. Encomenda inicial 4.000 unidades/ano. Trabalho exige resistência, e comprador, qualidade. 6 V, 12 V, 24 V? Fábrica não informa.
Realidade – Vendo o carro autônomo como realidade até 2020, especialistas lançaram primeiro livro científico sobre o tema: Direção autônoma: como a revolução autônoma mudará o mundo. Autores de elevada qualificação acadêmica Andreas Herrmann, Walter Brenere e Rupert Stadler, este presidente do Conselho de Gestão da Audi. Interessado em cópia de revisão? julia.wegner@jvm.ch
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