Erro de Vettel facilita a vida de Hamilton em corrida maluca
Foi daqueles fins de semana em que as surpresas não pararam de acontecer. Lewis Hamilton alinhando no fundo do pelotão, previsão de tempo tão incerta quanto as consequências de um piso úmido, um erro antológico de Sebastian Vettel e resultado da prova digno de tapetão. Balanço dessa história: o inglês venceu, recuperou a liderança do Campeonato Mundial de Pilotos, para tristeza do alemão, que viveu um fim de semana perfeito até cometer um erro que marcará sua carreira por muitas e muitas voltas, as primeiras delas, no próximo fim de semana, quando a temporada prossegue com a disputa do GP da Hungria.
Até então praticando um jogo de cena diferente da Ferrari, seu principal adversário, a Mercedes adotou uma postura bastante semelhante à Scuderia durante o que os alemães chamam de Grosser Preis zu Hause (Grande Prêmio em Casa). Primeiro anunciou a renovação e contrato de seus dois pilotos, ironicamente surpreendendo mais pela permanência do finlandês Valtteri Bottas do que pelo contrato milionário com Lewis Hamilton, algo equivalente a cerca de R$ 10 milhões por corrida numa temporada de 20 provas. Com isso, uma das portas interessantes para Daniel Ricciardo e Estebán Ocón foram fechadas sem maior cerimônia; o australiano amargou um fim de semana onde seu carro o deixou novamente na mão.
Se o sempre sorridente Ricciardo buscasse um conforto poderia olhar com a atitude da Mercedes em impor claras ordens de equipe ao comunicar a Bottas que evitasse disputar a liderança da prova com Hamilton. Mesmo com Vettel fora da prova, mesmo correndo em casa não era hora para arrojo e espetáculo, o momento impunha garantir 25 pontos e transformar a vitória em 17 pontos de vantagem sobre o piloto da Ferrari.
Se o alemão cometeu um erro que pode ser muito bem usado para lembrar o motorista comum dos perigos de guiar em uma pista que não está seca nem totalmente molhada, o inglês quase por tudo a perder quando iniciou o procedimento de entrar no boxe e mudou de ideia na metade do caminho. Se em outras ocasiões a manobra valeria uma punição de alguns ou muitos segundos acrescentados ao seu tempo de prova, desta vez os comissários desportivos optaram por não estragar a festa alemã na casa de uma das grandes equipes da categoria. “O incidente foi muito diferente do que aconteceu com Kimi Räikkönen no GP do Azerbaijão em 2016. Naquela ocasião havia dois carros andando próximos e em alta velocidade.”, alegaram os comissários.
Em outras palavras, o que foi considerado errado em uma corrida não necessariamente é errado em outra, ambas usando o mesmo regulamento esportivo.
Já sem sombra de dúvidas, o calendário de 2019 não terá o GP de Miami cantado em verso, prosa e, certamente, nas pinturas coloridas de Romero Brito, artista brasileiro radicado no balneário ao sul da Flórida e sempre ávido por capitalizar momentos de fama. Como as autoridades locais optaram por postergar a decisão para setembro, a Liberty Media optou por adiar a corrida para, possivelmente, 2020. Dessa forma é praticamente certo que as 20 provas do ano que vem sejam as mesmas deste ano, com a já confirmada ausência do GP da Alemanha. O GP da Grã-Bretanha deverá ter mais uma edição em Silverstone e, apenas em 2020, poderia perder lugar para uma corrida nas ruas de Londres, algo cada vez mais improvável por questões de segurança contra os sempre possíveis e repugnantes ataques terroristas.
Com relação ao mercado de pilotos, a situação tende a permanecer inalterada nas três principais equipes, onde persistem dúvidas quanto à permanência de Daniel Ricciardo na Red Bull e Kimi Räikkönen na Ferrari. Apesar de suas próprias indicações de que pode ficar onde está, o australiano ainda não assinou a renovação e seu nome foi ventilado como possível primeiro piloto da Renault, junto com Estebán Ocón. O franco-catalão, cria do programa de jovens pilotos da Mercedes, não se saiu bem na prova de classificação e deixou no ar se tal desempenho fraco teria sido consequência da manutenção de Bottas em uma vaga que se acreditava estar reservada para ele. Pior ainda: comentários de que a família Stroll estaria disposta a assumir a equipe Force India indicam que o caçula Lance pilotaria ao lado de Sérgio Perez ou de Greg Russell.
Pérez, ventilou-se no paddock, estaria no radar da equipe Haas: sua imagem junto ao público e empresas mexicanas seria muito bem-vinda para uma equipe que ainda não tem patrocinadores médios nem grandes e precisa reforçar seu caixa para continuar crescendo. Há poucas dúvidas de que, se isso acontecer, o candidato a mudar de CEP é o franco-suíço Romain Grosjean.
Na Ferrari, a permanência de Räikkönen ganhou uma nova rodada de negociações graças a um fato inesperado: o súbito afastamento de Sergio Marchionne do comando geral da FCA e da Ferrari. Acredita-se que o executivo ítalo-canadense estaria em um hospital suíço em consequência de complicações em uma operação no ombro. Versões não confirmadas dão conta que Marchionne estaria em coma após um tratamento malsucedido para tratar de um câncer pulmonar.
Seja qual for a causa de sua internação, o fato da FCA ter anunciado seu afastamento do trabalho de forma oficial e anunciado os nomes dos quatro profissionais que repartirão sua agenda de trabalho reflete a preocupação em preservar o valor de mercado das marcas Abarth, Chrysler, Dodge, Ferrari, Fiat, Iveco, Jeep, Maserati, RAM e outras incontáveis subsidiárias. Marchionne sempre foi um apoiador da carreira de Charles Leclerc e seu afastamento pode alterar o plano de voo do jovem monegasco.
WG