Na reunião da Anfavea com a imprensa para divulgação de resultados do semestre havia uma certa expectativa quanto à revisão das projeções, que tradicionalmente é feita no meio do ano. Até abril, os licenciamentos de automóveis e comerciais leves vinham crescendo acima de 20% sobre 2017 e mais de 50% para os pesados, enquanto se previra +11,7%. Mas aí houve a malfadada greve dos caminhoneiros nos últimos onze dias de maio.
Na apresentação de Antônio Megale, presidente da entidade, ele citou também o locaute dos caminhoneiros como um dos fatores que impactaram negativamente a venda de automóveis. O crescimento acima do esperado do primeiro quadrimestre seria neutralizado nos meses restantes do ano e a revisão de números resultou em mantê-los inalterados. Megale não está desalinhado com o que vem sendo dito nos principais cadernos econômicos do país, o PIB que antes se esperava fosse expandir-se em 3,0%, ganhou revisão para crescer entre 1,0% e 1,8%.
Comércio varejista também aponta estabilidade, construção civil retração. Este colunista, porém, discorda que a culpa da desaceleração econômica esteja com os Zés da Estrada ou Joões das Boleias. Nem dos donos de transportadoras, os seus patrões. É mais ou menos o que vem sendo divulgado. Depois da não aprovação da reforma da previdência, no início do ano e com o mundo de pernas para o ar, a guerra comercial iniciada pelo senhor Topetudo Trump, a alta do dólar, há uma conjunção de fatores externos e internos que vem puxando o crescimento e a confiança do consumidor para baixo.
O estrago dos donos das estradas ficou evidente, mas ele também era consequência de desequilíbrios. Fica difícil avaliar se o governo Temer não tivesse agido como agiu, com fraqueza, descoordenação e fazendo concessões a eles onde o poder executivo não tem gestão, como tabelamento do frete e mudança nos pedágios (não cobrar eixos suspensos). Será os resultados teriam sido diferentes? As concessões, sim, abalaram a confiança do consumidor, que já vinha sofrendo abalos.
Nos fatores internos, a questão fiscal, que vem tomando duras doses de laxantes de nossa casa legislativa quando se esperavam debates e ações de forma articulada entre os poderes executivo e legislativo para superar os problemas, vê-se exatamente o oposto. Antes do recesso do parlamento, uma bomba fiscal de vários megatons para economista nenhum botar defeito foi lançada. Não há otimismo que resista ao pior parlamento que este país já teve.
Junho fechou com vendas no mesmo patamar de maio, ao todo licenciaram-se 201.982 veículos, sendo 195.370 automóveis e comerciais leves e 6.612 pesados, com um dia útil a menos no calendário e outros dois, quando o Brasil parou para ver seus jogadores em ação na Copa da Rússia. O varejo aponta uma retração de 9% sobre maio, ou seja, as lojas venderam 10.350 carros a menos e as vendas a frotistas compensaram com praticamente mesmo montante. Pode se concluir então, que os fabricantes se esforçaram para escoar mais vendas no atacado, ou as vendas diretas, que também contam com as do programa PcD para compensar o menor movimento nas lojas. Esse modal de vendas respondia por 39% dos emplacamentos em média, no acumulado até maio e em junho saltou para 46%. Já o programa PcD atingiu novos patamares: no primeiro semestre de 2018, foram 187 mil unidades, ou 20% do total de automóveis licenciados no período e 56% do total das vendas diretas. O que vem sendo feito para restringir o programa, como as últimas medidas anunciadas, de reter o veículo com isenção tributária por quatro anos com mesmo proprietário, parece fará só cócegas. Se o governo desse desconto de impostos de 6% para todos automóveis novos, a renúncia fiscal seria equivalente aos cofres públicos, mas haveria um boom no consumo. Para registro.
O ritmo de vendas diárias da tabela mostra 9.303. Praticamente voltamos aos patamares de 2017 e para atingir o volume total de 2.422.000, previsto pela Anfavea, serão outros 125 dias úteis nos quais os licenciamentos de leves teriam de subir para a média de 10.360/dia. Mil carros diários adicionais com um varejo com menos apetite e confiança e os fabricantes administrando perdas nos canais diretos. Desafiador.
RANKING DO MÊS E DO SEMESTRE
O mercado de leves expandiu-se em 13,7% no acumulado do semestre e a Nissan cresceu 36%, VW +33%, Renault, +28% e Jeep +23%. A marca francesa Citroën encolheu 18%, mas tem novo produto saindo do forno este semestre.
Comparando-se junho de ’18 com mesmo mês do ano anterior, Renault salta na frente, com +33%, seguida da VW, com +26%, Jeep e Nissan, com 27%. Citroën novamente vem na outra ponta, com -42%, Peugeot, com -20%, Honda com -18%.
A lista dos dez mais vendidos do mês tem mudanças, entraram Argo e Sandero, Corolla ficou de fora pela primeira vez em anos. Etios também caiu algumas posições, como se preparando terreno para a chegada do seu irmão mais rico e bonito, o Yaris (foto de abertura).
Onix segue na liderança com quase o dobro de emplacamentos do segundo colocado, o HB20, 16.218 vs 8.292. Ka em 3º, 7.833, daí Sandero, Argo, Compass, Gol.
No acumulado do semestre, Ka+ (agora Ka Sedan) cresceu 36%, com 16.937 unidades, Compass 28%, com 28.194, Renegade +20%, com 21.430.
Nos comerciais leves, o Fiat Toro liderou a lista do mês, com 5.500 unidades, seguida da irmã compacta Strada, com 5.474, Saveiro, S10 na frente da Hilux novamente, Ranger, Amarok. Quando analisamos o semestre, chama a atenção o crescimento de 35% do Fiat Strada, com 32.512 unidades emplacadas, um veterano de mercado com essa performance de vendas. O VW Amarok foi a picape que mais cresceu de vendas, com 70% de aumento sobre mesmo período de 2017. A marca alemã sob clara estratégia de reconquista de espaço e agressiva campanha de vendas.
Até mês que vem!!
MAS