Motoristas nos EUA respeitam o “sistema zíper”, mas não se preocupam com segurança
“Don´t give up till they buckle up” é uma recente campanha institucional do governo americano: “Não desista até que tenham afivelado os cintos”, sugerindo ao motorista que fique de olho nos passageiros de trás. Estive recentemente em Nova York e voltei a reparar em vários aspectos do trânsito, postura dos motoristas e do governo.
Aluguei um carro para passar um fim de semana em Lenox, no estado de Massachusetts, a quase 200 km de distância, para um festival de música clássica. No trajeto, primorosas autoestradas (as Interstates) de várias faixas em cada direção mas também estradinhas minúsculas entre cidadezinhas do interior.
Num momento da viagem, numa autoestrada, bateu uma chuva seguida de tempestade, daquelas que dá vontade de parar o carro. Fiquei surpreso ao não passar, durante muitos quilômetros sob verdadeiro aguaceiro, em nenhum trecho alagado. Claro que, em alguns pontos, um pouco de água cobria o asfalto, mas nenhuma “lagoa” capaz de provocar a inevitável aquaplanagem, mesmo rodando no limite permitido, quase 110 km/h. Já tive que rezar ao volante de um carro esquiando numa das nossas autoestradas em velocidades semelhantes.
Prestando mais atenção no asfalto, percebi vários bueiros bem na margem, quase no acostamento. Desses retangulares com várias barras em paralelo. E percebi então o porquê de não se formarem lâminas de água na estrada: além da drenagem para a beirada, os bueiros compõem um sistema de coleta das águas pluviais que praticamente elimina a possibilidade da aquaplanagem, um fenômeno que deixa o motorista sem nenhum controle sobre o carro (pois os pneus perdem o contato com o asfalto) e o deixa à mercê da sorte.
Pode ser que exista alguma estrada no Brasil com este recurso, mas eu desconheço. Já se agradece aqui uma inclinação da pista asfáltica para uma drenagem mínima da água pluvial.
Por outro lado, foi impossível registrar a presença de qualquer buraco nas calmas e pouco movimentadas estradinhas do interior, dessas que ligam pouco mais que nada a pouco mais que coisa alguma. Verdadeiros tapetes negros sem vestígios de remendos, resultado de uma camada de asfalto depositada sobre uma base sólida e bem compactada.
Não se trata de nenhum “complexo de vira-lata”da minha parte, pois conheço excelentes rodovias no Brasil, principalmente no estado de São Paulo, que nada ficam a dever às estradas de Primeiro Mundo. Mas, por outro lado, algumas de manutenção desleixada, com remendos deploráveis ou crateras que costumam arruinar rodas, pneus e suspensão de quem acabou de contribuir num posto de pedágio.
Se as estradas nos EUA são de boa qualidade, os motoristas não superam muito em civilidade os nossos: é mais raro, porém possível flagrar objetos “voadores” do carro para o asfalto apesar das pesadas multas. Motoristas nova-iorquinos calcando sem parar o botão da buzina na ilusão de resolver o fluxo travado é desesperador. E, falar ao celular é o de menos, pois são capazes até de ler ou escrever mensagens enquanto dirigem.
Mas respeita-se lá o “sistema do zíper” (fecho éclair em alguma regiões) quando duas faixas devem se transformar numa só (por acidente ou obra na estrada): é a regra de que o motorista da fila que será única sempre abre espaço alternativamente ao carro que vem do lado (a sinalização na foto de abertura indica junção de tráfego à frente, que provoca essa situação). Assim como os dois lados do fecho tipo zíper vão se encaixando ao se mover o cursor. No Brasil, o que se vê é um embate entre as duas filas: o sistema zíper substituído, com honrosas exceções, pelo “salve-se quem puder”.
Ao contrário do Brasil, o cinto de segurança não é obrigatório em todos os estados americanos. Em alguns, as leis exigem seu uso apenas pelas crianças. Exigido ou não, sua utilização no banco traseiro ainda é bem inferior ao dianteiro e por isso a tal campanha do governo. Também sob o aspecto da negligência para a segurança veicular, os motoristas dos dois países se equivalem…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente, a opinião do AUTOentusiastas.
Mais Boris? autopapo.com.br