Os anos 80 foram tão ricos quando o assunto é os carros esportivos nacionais, que é preciso tratá-los em duas etapas. Na semana passada, fui mais genérico, falando do períofo de uma maneira geral, passando rapidamente cada um dos principais modelos. Esta semana, vou tratar dos carros que julgo os mais importantes da década. Aqueles que provocaram sonhos e faziam adolescentes e jovens pararem nas ruas para vê-los passar.
Uns mais do que outros, mas esses meus escolhidos, tenho a certeza, vão provocar boas emoções e boas lembranças para aqueles que viveram intensamente os anos 80. São carros que além de bonitos e atraentes tinham um desempenho destacável. Tinham o espírito dos verdadeiros esportivos. Ninguém se metia com eles.
Não vou fazer um ranking de qual o melhor ou de qual tinha a melhor tecnologia ou o melhor desempenho. Sei que todos eles têm uma legião de fãs e mesmo 30 anos depois são ainda carros desejados .
Vamos começar pelo Escort XR3. Chegou por aqui no final de 1983 e trouxe em sua bagagem europeia o respeito de um design arrebatador e um desempenho de fazer inveja a esportivos equipados com motores de maior cilindrada. Aqui no Brasil herdou o motor batizado pela Ford de CHT, que na realidade era um motor de projeto Renault, o Cléon-Fonte, que o Escort herdou do Corcel. Ele tinha o deslocamento volumétrico aumentado para 1,6 litro (exatos 1.555 cm³) dos originais 1,3 litro (1.289 cm³) do motor Renault. Este havia nascido em 1962 com 956 cm³ e sua grande diferença em relação ao motor Ventoux do Renault Dauphine/Gordini/1093 era a robustez dos cinco mancais do virabrequim sobre os três de antes.
Além disso, os engenheiros da Ford trabalharam em comando de válvulas esportivo, taxa de compressão mais alta de 12:1 para utilização de álcool e um carburador de corpo duplo especialmente concebido para o novo combustível de origem vegetal. Com isso o motor chegou a valentes 86 cv de potência máxima. No design, o XR3 se destacava pela enorme asa traseira e pelas rodas concebidas para ele. Era oferecido também na versão conversível. Em 1987 sua carroceria foi reestilizada e 1989 a performance do XR3 foi substancialmente melhorada, quando recebeu o mesmo motor AP 1800 que equipava o Gol GTS. Um tremendo avanço.
Não se tem como falar dos esportivos dos anos 80 sem falar de Kadett GS. Mostrado no Salão do Automóvel de 1988, o Kadett GS teve suas vendas iniciadas apenas no segundo semestre de 1989. Mais de meio ano separou a apresentação do carro ao publico e sua disponibilização para o mercado. Mas ele chegou. Oferecido inicialmente apenas com o motor 2-L carburado a álcool, que ofertava o melhor desempenho, o Kadett GS tinha uma aceleração e uma retomada de velocidade que só perdia para o Gol GTI. Mas, buscando esse brilho, a engenharia da GM optou por uma relação de câmbio extremamente curta. Se o carro acelerava bem e retomava velocidade como ninguém, a contrapartida dessa escolha era um carro com índices de ruido e consumo muito acima dos concorrentes de mercado. O Kadett GS não bebia álcool, ele tomava aos garrafões!
Esse era o preço que se pagava por seu desempenho destacável. No design, a asa traseira , os para-choques exclusivos com faróis de neblina embutidos e as rodas aro 14 especialmente desenhadas para ele, davam ao esportivo da Chevrolet a aparência desafiadora que o esportivo pedia. No interior, não faltavam os bancos Recaro e o volante de desenho exclusivo. Um carro que deixou saudades!
A Volkswagen ficou com o maior numero de bolas dentro quando o assunto foi esportivos da década de 80. O Passat GTS Pointer, nem foi citado por mim na matéria da semana passada, pois eu o julgava como um carro dos anos 70. Na realidade, errei. O Passat GTS Pointer lançado em 1986, recebeu tantas alterações nessa versão Pointer que era quase um outro carro. A carroceria monobloco em aço estampado, era a mesma. O restante, tudo foi mudado. O trem de força, conjunto motor e câmbio, era o mesmo que equipava o Gol GTS. O curioso, era que na época a potência declarada era de 99 cv, por causa da limitação fiscal do IPI. Mas, todos sabiam que na versão a álcool esse motor produzia cerca de 106 cv. As rodas de liga leve tipo estrela eram as mesmas do Gol GTS mas com outro padrão de pintura. Os pneus aro 14 da série 60 faziam conjunto com uma suspensão totalmente recalibrada, tanto nas molas quanto nos amortecedores. Os freios, também eram mais potentes. No design, os 4 faróis retangulares, com novos para-choques plásticos envolventes modernizaram muito a aparência do velho Passat. No interior, bancos Recaro, painel de instrumentos refeitos e um volante de 4 raios davam ao interior do Passat um ar esportivo que ele nunca tinha tido, nem mesmo na época em que recebeu a sigla TS em 1976. Um carraço! Tanto que estou restaurando um 1986 em sua plena originalidade. Uma lembrança que não dá para guardar só na memória.
Finalmente, chegamos nos Volkswagen Gol. Inicialmente a série GT/GTS. O GT chegou em 1984. E chegou chegando: imaginem um Gol, inicialmente em sua aparência frágil, ser apresentado ao mercado com o motor EA827 de 1,8 litro (1.871 cm³) e inicialmente com um câmbio de quatro marchas e logo em 1985 já receber o câmbio de cinco marchas com relações encurtadas, mais fechadas, com rodas de aro 14 e pneus de perfil baixo, um escapamento que fazia notar quando chegava, faróis auxiliares dando imponência à dianteira, asa traseira, interior com os famosos bancos Recaro e um painel e console próprios a fera.
O Gol GT no meio dos anos 80 era de babar! Em 1986, para quem achava que o GT era o máximo, chegou o GTS: frente reestilizada mais moderna e delicada e um motor AP 800 que deu lugar à grande novidade AP 1800 que significava mais potência, mais torque, mais arrancada, mais velocidade, mais tudo. Era isso que o GTS oferecia mais que o GT. Outro sonho da rapaziada e da garotada e que, pelo preço, só os mais maduros podiam comprar.
Para o final, ficou meu querido Gol GTì. Assim como o Pointer, tenho um desse 1989, azul Mônaco que está em fase final de restauração. Tanto o Pointer quanto o GTI estão aos cuidados e sob a responsabilidade da Auto90, que está cuidando da originalidade de ambos. O GTi foi apresentado ao mercado nacional, assim como o Kadett GS, em 1988 no Salão do Automóvel daquele ano. A diferença para o carro da Chevrolet, era a de que o Gol GTi logo após o termino do salão já era disponível para a compra nas concessionarias Volkswagen. Um deleite para o consumidor.
O Gol GTi, foi o primeiro carro nacional a disponibilizar a injeção eletrônica para seus consumidores. Mesmo sendo um sistema analógico que não era dos mais modernos, a injeção eletrônica Bosch LE- Jetronic funcionava muito bem e estava anos-luz à frente do velho e combalido carburador. Inegavelmente era um tremendo passo adiante. Não era simplesmente a colocação de uma injeção eletrônica no velho motor 2-litros, mas um motor especialmente concebido para esse fim. Junto com o sistema eletrônico de combustível, o pacote incorporava uma caixa eletrônica, chamada de EZK, que comandava todo o sistema de ignição, inclusive o ponto individualmente de cilindro a cilindro. Por isso, era obrigatório de uso de tuchos hidráulicos, pois o ruído das válvulas trabalhando com folga poderia fazer o sistema de ignição interpretar que o motor estava detonando, atrasando a ignição. Como o sistema EZK tinha sensores de detonação, verdadeiros “microfones”, o motor não poderia ter batidas metálicas de tucho mecânico em seu interior.
Com esse supermotor, o Gol GTi acelerava de 0 a 100 km /h na casa dos 8,5 segundos e chegava a uma velocidade máxima de cerca de 195 km/h. Um desempenho de tirar o chapéu até os dias de hoje. Oferecido apenas na cor azul Mônaco metálico com acabamentos na cor prata, o Gol GTi possuía faróis de longo alcance e de neblina que lhe davam um ar intimidante, asa traseira como a do GTS e laterais plásticas na cor prata que lhe davam um visual de robustez. No interior tudo personalizado para o GTi: painel de instrumentos, console , sistema de som, bancos Recaro, e por aí vai. Sem dúvida um supercarro da época, difícil de bater e difícil de engolir pelos concorrentes.
DM