Estes dias eu estive com o meu caro amigo de longa data, Ronaldo Berg, quando eu fui levar o meu carro para a revisão na Caraigá Audi-VW, onde ele é consultor do pós-venda. Acabei lembrando as excelentes matérias dele, nas quais ele revive acontecimentos, um mais interessante que o outro. Pois bem, acendeu para mim uma “luzinha” e eu, que também tenho a lembrança de várias experiências dos bons tempos, acabei decidindo seguir esta linha e apresentar algumas de minhas reminiscências aqui nesta coluna.
Pois vamos começar com minha ida ao Irã, que ocorreu em março de 1991; naquele tempo eu estava fazendo o meu segundo estágio na Alemanha e estava no setor de hidrogeração da minha empresa, a Siemens. E esta viagem foi para visitar o canteiro de obras de uma usina hidroelétrica localizada próximo ao vilarejo de Seahbesheh, que fica nas montanhas, que em março ainda estão muito nevadas.
A viagem para a obra foi uma aventura e eu estava com roupa inadequada, pois além do frio meus sapatos não foram páreo para a neve misturada com a lama (tive que arregaçar as calças para não deixar que elas ficassem molhadas).
Abaixo algumas fotos da viagem e da visita à obra:
Em março de 1991 o Irã já era uma república islâmica e passava por uma grande readaptação. As mulheres não tinham uma vida muito fácil, e acho que continuam não tendo. Para elas era obrigatório o uso do xale cobrindo os cabelos. Capa comprida e calças compridas, ou meias pretas, faziam parte da indumentária obrigatória das mulheres.
Os ônibus urbanos eram divididos em dois setores, um para os homens e outro para as mulheres. Fui visitar uma pista de esqui na neve, localizada numa montanha praticamente dentro da capital Teerã. Havia duas pistas originalmente franqueadas para todos, mas depois da revolução islâmica a coisa mudou, e uma pista ficou reservada para homens e a outra sobrou para as mulheres:
Sob o ponto de vista econômico, apesar de ser um país possuidor de vastas riquezas naturais, o Irã atravessava uma grande crise. Foi o resultado de uma sangrenta guerra com o Iraque, que durou oito anos. Muitos símbolos da época do Império, quando o Xá era o regente, foram sendo eliminados. O uso de gravata, por exemplo, foi abolido por ser considerado um símbolo dos velhos e execrados tempos (por lá só forasteiros usavam gravatas e logo “acusavam” o que eram). Na foto acima tirada, tirada no escritório da Siemens eu ainda estava usando gravata, mas no mesmo dia eu fui aconselhado a tirá-la…
O ódio pelos americanos era de assustar. No hotel havia banners com frases como “KILL THE AMERICANS”, ou “DOWN WITH THE USA”. Como o meu biótipo é mais para nórdico, ou seja, do jeitão de americanos, a estada lá foi assustadora.
Uma das atrações mais lindas que eu visitei por lá foi o monumento que o Xá Mohammad Reza Shah Pahlavi mandou construir para comemorar os 2.500 anos de sua dinastia. É uma construção muito bonita, cuja finalidade tinha sido transformada para servir como museu.
De certos ângulos este monumento, apesar de suas dimensões gigantescas, parece alçar voo, de tão leves que são as suas linhas. Ele se localiza próximo ao aeroporto internacional de Teerã.
Outra visita muito interessante foi à Mesquita Emamzadeh Saleh, que fica perto do mercado da cidade. Foi a primeira e única mesquita que eu entrei e, confesso, a visita foi meio rapidinha, pois os fiéis não gostam de ver infiéis (não muçulmanos) dentro da mesquita. A decoração desta mesquita é incrível.
Também em Teerã eu prossegui a pesquisa sobre Fuscas pelo mundo. Observei que os Fuscas iranianos eram remanescentes da época do Xá. Aliás como a maioria dos carros daquela época, os Fuscas estavam em péssimas condições de manutenção. É um milagre que alguns deles ainda trafegassem.
Aliás como o trânsito de lá era muito louco, e como o poder aquisitivo do povo era muito baixo, praticamente não existiam carros que não tivessem vários amassados. Carros sendo usados com os dois faróis e duas lanternas traseiras funcionando eram verdadeiras raridades.
A entrada numa rua movimentada era disputada “milímetro a milímetro”. A preferência era daquele que conseguisse enfiar a quina de seu carro antes do outro.
Por lá vale tudo, vi um Paykan (carro iraniano com mecânica do Dodginho inglês, o Avenger) com oito pessoas a bordo. Até aí tudo bem, se bem que a lotação normal daquele carro era de cinco passageiros. O incrível é que havia um passageiro sentado à esquerda do motorista (!), além de dois à sua direita. Ainda não tinha visto nada igual a este descalabro.
Na sexta-feira, que corresponde ao domingo para os iranianos, aproveitei para dar um giro pela cidade. Na volta da visita ao antigo palácio do Xá, encontrei um Fusca, um 1956 que ainda possuía algumas características originais como se pode ver na foto abaixo:
A visita ao palácio do Xá foi muito interessante. Foi a primeira vez que eu vi tapetes muito sofisticados com mais de cento e oitenta metros quadrados. Apesar do saque ocorrido durante a revolução que destituiu o Xá, ainda tinham sobrado peças belíssimas no palácio, hoje museu. Certamente os tapetes gigantescos não tinham como ser retirados de lá e acabaram ficando; uma pena que era proibido fotografar dentro do museu.
No Irã o Fusca é chamado de Folex, em função da pronuncia local (a língua oficial do país é o Farsi). A placa deste carro era 61132, pois a numeração é idêntica à numeração árabe. Tanto o farol, como a lanterna do lado direito estavam dentro do carro. Os bancos tinham estofamento original. A luz de placa era uma raridade, assim como a tampa do motor. Os vidros também eram originais. Foi o que deu para ver depois de uma rápida inspeção.
Na verdade, existiam Folex mais novos por lá, como o da foto seguinte; mas o carro da foto de abertura desta matéria e das fotos acima, por ser mais antigo despertou a minha atenção em especial por estar num “bom” estado de conservação para os padrões locais.
AG