Visualmente, o Jeep Renegade mudou pouco, muito pouco, no seu modelo 2019. Mas, a FCA mexeu exatamente no item que atrai até mais que o design: o preço. A versão Sport Flex 1.8, com câmbio automático de seis marchas, teve a maior redução e veio de R$ 91.990 para r$ 83.990. Ou seja, um desconto de R$ 8 mil. A outra maior redução (de R$ 7.000) foi do mesmo Sport Flex 1,8, com câmbio manual de cinco marchas, que desceu para R$78.490. Ambos têm tração dianteira.
O restante da linha Renegade permanece com preços inalterados, mas ganharam “conteúdo”, sinônimo de mais equipamentos de série, itens que poderiam ser cobrados à parte como opcionais. O topo da gama continua sendo o Trailhawk, como motor Diesel 2.0 e câmbio automático de nove marchas, que já vai para R$ 136.390.
Impossível falar do Renegade sem lembrar de Sergio Marchionne, o genial executivo-chefe que transformou a Fiat em FCA (Fiat Chrysler Automobiles). Quando ele adotou uma combalida Chrysler para formar o novo grupo FCA, no inicio de 2014, Marchionne sabia muito bem o que vinha no “pacote”. A própria Chrysler seria (e ainda é) de difícil recuperação. Uma marca americana que teve seus dias de glória, mas há décadas vende mal dentro do próprio Estados Unidos.
Só que existia ali a “joia da coroa”, uma marca mítica que era pouco aproveitada em termos de venda: a Jeep e sua lendária grade de sete barras. O plano era completo, rápido e inteligente. Um ano depois já se inaugura uma nova e moderna fábrica em Pernambuco e em 2015 surgia o Renegade. Com seu jeito meio quadrado, não de jipe, mas de Jeep mesmo, ele ressuscitou no Brasil a marca lendária da Segunda Guerra Mundial, com toda sua força de resistência e aventura. Antes disso, a Jeep foi desativada pela Ford, em 1983, já que ela havia herdado a marca com a compra da Willys.
Ironias do destino, uma das primeiras vítimas pisoteadas pelo Jeep Renegade foi exatamente o Ford EcoSport, que ficou sozinho no mercado de SUVs compactos por mais de uma década. Curiosamente, o Jeep CJ5, também foi fabricado em Pernambuco, na cidade de Jaboatão, nos anos 1960, pela Willys.
Campeão de vendas, o Renegade tem um grande adversário dentro da própria casa, seu irmão maior, o Compass. Não por acaso (de novo Marchionne), Renegade e Compass (e também a Fiat Toro) usam a mesma plataforma modular na automatizada fábrica de Goiana, em Pernambuco.
Quanto ao leve facelift, mudou ligeiramente o desenho da grade de sete barras (ou melhor, fendas ou slots) e as duas versões flex de entrada ganharam o paa-choque semelhante ao do diesel, com a parte inferior afilada para melhor ângulo de entrada em obstáculos. Veio um novo console central em toda linha, com melhor aproveitamento de espaço, e novas rodas de liga leve de 17’. A tampa traseira agora recebeu uma maçaneta externa (antes era embutida na parte inferior da tampa) e o porta-malas “cresceu” 47 litros, indo de 320 para 367 litros. As aspas valem para a solução simples, de adotar estepe temporário, mais estreito, e assim o fundo do porta-malas desceu alguns centímetros. Um recurso simples e até racional. Afinal, quanto se roda com um estepe devido a um pneu furado? Um bom chute seria algo como 0,001% da quilometragem, ou seja, poeira estatística Assim, se carrega menos peso e surge um pouco mais de espaço para bagagens e outros objetos.
Mesmo as duas versões Sport de entrada, que têm desconto, ganharam uma telinha tátil central no painel. Bem modesta, de apenas 5 polegadas, do tamanho de um celular, mas ali se vê inclusive imagens da também nova câmera de ré. Em versões superiores esta tela vai para 8,4″.
Claro, existem ainda novos faróis de LEDs com “círculo luminoso” (uma inspiração nos famosos “angel eyes” da BMW), que prometem 50% a mais de luminosidade. Só que eles são privilégio das versões topo de linha, começando na Limited 1,8 Flex (que custa R$ 103.490).
Claro que este reposicionamento de preços do Renegade não visa apenas aumentar vendas. No começo de 2019 vai chegar um concorrente de muito peso, o novo VW T-Cross, o que certamente vai alterar bastante a divisão deste concorrido mercado de suves compactos.
O Renegade continua competitivo, agora entrando no seu quarto ano de fabricação e teve melhora sutil depois de 500 mil unidades produzidas. Sempre existem pequenos detalhes que vão sendo aperfeiçoados na linha de produção, muitas vezes resultado de informações vindas das concessionárias e consumidores. E assim este Jeep, apesar de não ter grandes mudanças mesmo para os modelos 2019, está mais gostoso de dirigir e até maior sensação de solidez.
Sua maior limitação está no motor flex, cujo projeto inicial com cilindrada de 1,.6-litro é de origem Chrysler, para ser fabricado entre 2001 e 2006 no Paraná para equipar o Mini (a fabricante inglesa fora absorvida pela BMW em 1994), o Neon e o PT Cruiser. Estranho? Pois a Chrysler associou-se à BMW em 1998 na empresa Tritec Motors, sediada em Campo Largo, PR). Acabou que a Daimler-Benz comprou a Chrysler no ano seguinte formando a DaimlerChrysler, a arquirrival BMW não gostou nada e saiu do negócio. A DaimlerChrysler continuou com a Tritec até vender a parte Chrysler para o grupo financeiro americana Cerberus em 2007. Pouco depois, sem clientes para motores (a BMW passou a fabricar motores para o Mini), a Tritec encerrou atividades. Em 2008 a Fiat comprou a Tritec para ter motores 1,6 e 1,8, já que se aproximava o fim do contrato de fornecimento do 1,8 GM. Deu baixa na empresa e incorporou-a. Em março de 2009, em meio à crise econômica iniciada no ano anterior, a Fiat comprou 20% das ações da Chrysler pertencentes à Cerberus com opção a mais 15%. Em janeiro de 2014 a Chrysler era final e totalmente absorvida e estava pavimentado o caminho para a atual FCA Fiat Chrysler Automobiles.
Recomeçando atividades ainda em 2009, a agora FTP, uma divisão da Fiat, para chegar ao motor 1,8-L foi feito desenvolvimento a partir do 1,6 aumentando o diâmetro dos cilindros de 77 mm para 80,5 mm, mantendo o curso dos pistões de 85,8 mm. O motor continuou subquadrado e com curso ainda longo, o que resulta em bom toque em baixa rotação,mas não gosta de giro alto, quando tende a consumir mais combustível. Hoje com o gerenciamento eletrônico e o desenvolvimento do motor, que ganhou ciclo Atkinson na versão Evo em 2016 , se consegue amenizar estas tendências de um motor subquadrado (inclusive vibrações em alta rotação), mas o motor 1,8 flex do Renegade tem limitações: de potência (135/139 cv), torque (18,8/19,3 m·kgf) , mas mesmo assim o consumo em rotações elevadas melhorou bastante. Todavia, sua aceleração de 0 a 100 km/h demora 11,2 s e consumo em estrada fica nos 10,9 km/l com gasolina e elevados 7,6 km/l com álcool (com câmbio automático de seis marchas). Afinal, este Renegade pesa 1.440 kg e esse 1,8 flex, mesmo aperfeiçoado, vem de um projeto de duas décadas atrás.
E isso só vai mudar provavelmente em 2.020, quando a nova geração de motores modulares da Fiat (os 1.0 três cilindros e 1.3 quatro cilindros) tiverem sua versão turbo, seguindo a “receita do bolo” dos VW TSI. Até lá, o Renegade terá de enfrentar o VW T-Cross com seus melhores argumentos: um preço mais acessível e o logo da marca Jeep.
JS
Mais detalhes do Renegade 2019 podem ser vistos em www.renegade.jeep.com.br .