Estes dias eu estava a ler algumas mensagens no Facebook, quando me deparei com uma que chamou a minha atenção em especial. Era um post de um amigo peruano, o Alejandro T. Fajardo. Vamos conferir o que ele relatou:
UM FUSCA JAMAIS ABANDONA OUTRO FUSCA
Por Alejandro Torres Fajardo
Naquele dia eu estava voltando de Los Olivos para Surco e quando cheguei na ponte Santa Anita notei que havia um Fusca prateado velhinho com um casal de idosos parado; eu estacionei e fui ver o que aconteceu e o senhor me disse que não sabia se era a bobina … O motor apagou e não quis pegar de novo e, sem querer, a mangueira de combustível do filtro escapou…
Eu peguei minhas ferramentas e comecei a ajudá-lo e ele me disse que ele mora no distrito de Comas e que seu mecânico tinha acabado de regular o carro havia três dias, mas que, na verdade, seu trabalho deixou muito a desejar. Isto porque quando meu mecânico, que fica em Ovalo de Higuereta, vê o meu carro, ele limpa o motor e se descobre cabos ou algo errado, repara e me informa do ocorrido.
O ancião me perguntou se eu era mecânico e eu disse a ele que não; eu expliquei que havia passado por isso quando adquiri meu Fusca. Ademais eu disse a ele que pertencia ao clube de aficionados “Mac Volkswagen” (Mundo AirCooled Volkswagen), e foi isso que aprendemos ao longo do caminho; sendo que nosso lema é: “Um Fusca jamais abandona outro Fusca”.
Então eu consertei o vazamento de gasolina e troquei o filtro por um que havia sido guardado de alguma manutenção anterior e usei o spray para dar uma limpada no carburador e fizemos o carro pegar.
Despedi-me dele e de sua esposa, eles me agradeceram e me perguntaram o quanto deviam … Eu disse nada! É um prazer! … Pelo contrário, veja outro mecânico para que isso não aconteça novamente e cuide bem do seu Fusca.
O engraçado foi que quando cheguei ao pedágio de Javier Prado, lembro que não tinha conseguido carregar o meu PEX (sem parar pré-pago), pois o aplicativo sempre falha. Alinhei-me na pista de pagamento a dinheiro logo atrás do Fusca prateado do casal de velhinhos. E quando chegou a minha vez de pagar, a garota do posto de controle me disse: “Senhor, o Fusca da frente pagou o seu pedágio”.
Eu os ultrapassei e agradeci com um sinal de faróis e um aceno. Eles sorriram despedindo-se.
Parti orgulhoso dirigindo a mil com música no alto no meu Fusca. No caminho para casa eu pensei comigo mesmo: é incrível quando algo te apaixona de verdade. Quando você compartilha com outros amigos que gostam da mesma paixão para ver o que ainda falta fazer no teu Fusca. E independentemente do status social, ou se é um Fusca original ou tunado, ou se você é um empregado ou empresário, você acaba se reunindo a cada data marcada para rir, aprender, compartilhar e estreitar essa amizade e a aventura que é estar ao volante de um clássico como o Besouro da Volkswagen!
Aqueles que têm o prazer de possuir este clássico carro de duas portas, sabem muito bem o que eu estou falando!
Vamos conhecer o Alejandro T. Fajardo:
Ele tem 39 anos de idade e mora no distrito de Surco, da grande Lima, no Peru. Trabalha, por um lado, no campo gastronômico como consultor de serviços, e por outro lado, ele trabalha em propaganda e marketing. O Vocho, melhor dizendo, o Fusca dele é brasileiro ano 1973.
E é o segundo que ele comprou, pois, o primeiro ele teve que vender por necessidade, quando perdeu a sua empresa. Mas ele sempre quis comprar um Vocho novamente. E foi o que ele fez e o deixou bonito. Em primeiro lugar veio o reparo do motor, dos freios e da parte elétrica e aí vieram os detalhes.
Ele é associado do clube Mac Volkswagen. Lá faz parte da equipe onde todos contribuem com o seu trabalho. Ele apoia em especial o que é relacionado a design e redes sociais.
Não posso deixar de fazer um comentário sobre o lema do clube Mac Volkswagen, “Um Fusca jamais abandona outro Fusca”, e as nossas condições reais de poder agir como bons samaritanos face à insegurança que vige em nosso país.
Eu sempre agi da mesma maneira que o Alejandro, mas agora a situação mudou, muitas vezes crianças, velhos e pessoas aparentemente doentes ou aparentemente acidentadas, são usadas para ludibriar pessoas de boa vontade que param para ajudar, e logo viram vítimas de bandidos. Esta situação indica que todo o cuidado é pouco. Não há garantia alguma que um Fusca parado ao lado da estrada com a tampa do motor aberta e um casal da terceira idade aparentemente desamparado naquela situação seja o que este cenário apresenta.
Não querendo me aprofundar muito no saudosismo, mas já me aprofundando, lembro das inúmeras vezes que pude ajudar pessoas e das outra nas quais fui ajudado, ou fui alvo da vontade das pessoas de ajudarem mesmo eu não tendo pedido. Mas hoje eu prefiro chamar algum tipo de socorro pelo celular e não me envolver em situações de risco.
Talvez seja por isto que o relato do Alejandro chamou tanto a minha atenção. Ao que tudo indica, no Peru a situação ainda não exige tanto cuidado como por aqui…
Agora um relato “off-toppic”, mas ligado à vontade de agir como um bom samaritano: uma das vezes que eu tentei ajudar teve uma evolução dramática, mas as condições eram peculiares. O ano era 1971 e estávamos em pleno regime militar. Era tarde da noite e eu voltava da faculdade, tinha dado carona a um colega — o que tinha feito me desviar de minha rota habitual; subindo a avenida 23 de Maio, em baixo do viaduto da avenida Bernardino de Campos estava um outro Fusca de janelinha oval parado. Eu só vi o carro, estava escuro naquele canto da avenida. Quando sai do carro um soldado se aproximou e quase que enfiou o cano de um fuzil em minha boca… Pois é, o tal Fusca oval parado estava sendo usado por membros de um aparelho terrorista que estava sendo preso naquele momento por um destacamento especial da inteligência do Exército Brasileiro. Que fria! Mas depois de muita conversa, mostra de documentos, inspeção rigorosa de meu Fusca (já era o Rosinha) eu acabei sendo liberado. Certamente a coisa poderia ter acabado muito mal, bastaria o tal soldado ter algum tipo de reação mais “efetiva” que eu não estaria contando esta história para vocês. Mas o Brasil estava em guerra contra o terrorismo e a coisa estava feia.
Mas eu sonho em poder voltar a viver num país onde parar para ajudar alguém com problemas não seja um risco de vida…
AG