Quando janeiro se aproxima, sou sempre impelido a repetir esta lista, que faço ininterruptamente desde 2010. Todo ano é a mesma coisa: acho que o seguinte vai ser repetitivo, que não tem nada legal novo e que não mais a farei. Mas é só começar a listar os carros elegíveis que acabo por me animar e ir em frente.
Isto porque ainda há muitas opções interessantes para meus critérios particulares. Sim, os carros continuam subindo de preço e nossa renda estável ou reduzida, diminuindo as opções. Mas ainda existem, e sempre me surpreendo em como são boas quando começo a listá-las. E um exercício de imaginação, este de se colocar na posição de comprar um carro 0-km; um que se torna sempre muito agradável para renovar a esperança por um ano novo melhor do que aquele que passou.
Alguns carros são repetidos de 2018, inevitável, mas alguns aparecem pela primeira vez aqui. Mesmo porque é uma lista altamente pessoal, ligada a meus desejos particulares, como o título já diz. Mas não é algo de sonho, inatingível, como também já denota o título: algumas regras básicas, imutáveis, colocam algum pragmatismo na escolha:
Primeiro, o carro não pode passar do preço de R$ 100.000. Cem mil reais é o máximo que poderia teoricamente pagar em um carro. Nunca paguei cem mil num carro, mas é teoricamente possível, e acredito ser um limite interessante, pois deve ser válido para a maioria da população que compra carro novo. O volume de vendas acima deste teto é comparativamente bem mais baixo, o que confirma esta minha teoria. Durante os anos pensei em aumentar este teto, visto que cada vez menos carros caem dentro deste limite, mas duvido que a renda da população tenha subido na mesma proporção do preço dos carros. A minha com certeza não, e como este é o motivo da lista, o que posso comprar, ele permanece inalterado.
Segundo, tem que caber na minha garagem com alguma função. Para as duas posições principais (de três no total), tem que ser um carro versátil para passageiros e carga, de preferência hatch ou perua (para aquela cadeira alta que tenho que levar na casa de minha mãe cedinho). Ou, como terceiro carro, um veículo de carga, para melhor levar lixo, tinta, folhas das árvores, cachorro e outras tranqueiras produzidas pela minha casa. O terceiro carro podia também, alternativamente, ser algo divertido: um carro esporte ou um utilitário tipo jipe. Mas nada de Puma 1974 ou Jeep Willys 1966: o terceiro carro é também esporadicamente o de uso de minha filha, e precisa para isso ser confiável e ter a- condicionado.
E por último, mas não menos importante, tem que ser algo divertido ao volante. Eu, como todos os leitores deste site, adoro dirigir, e, portanto, carro meu tem que divertir o motorista. Câmbio preferencialmente manual, motores potentes, ou no mínimo entusiasmados para despejar qualquer potência que sejam capazes de produzir, e comportamento dinâmico legal, são imprescindíveis. Carro para família e trabalho, mas para encher a alma de entusiasmo também. É na verdade o mais importante aqui.
Três carros importantes ficaram de fora para o ano que vem. Primeiro, a VW Golf Variant. Eu morro de vontade de ter uma, e coloquei ele na lista sempre que pude. Em 2018, como não existia mais a versão manual, coloquei a versão automática na lista, o único, praticamente um sacrilégio. Mas ano que termina custava 97 mil, e agora, 102, passando do nosso limite de 100 mil. Uma pena. Uma das últimas peruas disponíveis no nosso mercado mereceria de novo um lugar aqui.
O segundo é o VW Polo. Minha esposa quer um 200 TSI, então provavelmente é ele que deverei comprar em 2019. Mas é escolha dela e não minha. O carro é muito bem feito e agradável, mas me decepcionou por ao rodar ser muito parecido com seu arqui-inimigo Chevrolet Onix. Seu acabamento interno geral, e o ambiente interno em si, parece mais Chevrolet que VW. E por oferecer as versões mais potentes e interessantes somente com cambio automático. Ótimo carro, claro, mas não é para mim.
O terceiro é o Ford Fiesta 1,6 SE. Este carro me lembra de quando comprei um dos últimos Focus Mk1 no início de 2010, sua produção já encerrada. Última chance de comprar um carro excelente, com um chassi de maneiras impecáveis, um motor entusiasmado e câmbio manual, por um preço excelente. Sim, saindo de produção em breve (assim como o Focus, infelizmente), mas uma opção sensacional para quem não liga para isso.
Mas falando dos carros que efetivamente entraram na lista, vemos que, o contrário do que se ouve por aí, as notícias da morte do automóvel continuam exageradas. A lista tem 10 carros com câmbio manual, e a vasta maioria deles não tem nenhum turbocompressor. Tem até um jipe na lista, mas nenhum suve, nada automático, e somente um “sedã”, na verdade um fastback de quatro portas.
Sei que pode ser que 2019 seja diferente, mas será? Todo ano me surpreendo com o fato de que, apesar de tudo, ainda existem carros do jeito que gosto a venda. De monte, mais de 10!
Em ordem crescente de preço, são eles:
1) Renault Kwid
Em 2018 eu comprei um up! TSI usado. Mas antes de comprá-lo pensei seriamente em pegar um Kwid zero-km, por 7 mil reais a MENOS que meu up! 2016.
O Kwid pesa menos de 800 kg em ordem de marcha, quase 200 kg a menos que o up!. Carro leve é sempre algo sensacional, um comportamento que é impossível de emular de outra forma. O Kwid tem carroceria rígida e um comportamento dinâmico de suspensão agradabilíssimo, um motor valente e sonoro que puxa muito bem o carrinho. Muita gente acha ele barulhento e vibrador; eu, que fui criado por uma família de Chevettes selvagens nas montanhas de Niterói, não acho. Na verdade, a fixação moderna por barulho e vibração zero só faz coisas chatas e inertes que fazem as pessoas desejarem autônomos. O Kwid tem personalidade, algo em falta hoje em dia.
Então porque o up! ao invés dele? Principalmente porque os bancos são muito altos para mim, que tenho 1,92 m de altura, me fazendo enxergar mal pelo para-brisa. Um detalhe, mas importante, e exatamente o que me faz não comprar Onix também. Para pessoas mais baixas, não há problema, mas para mim…
Mas coloquem um 1-6 litro SCe nele, uma suspensão mais baixa e preparada para pista, e o nome Kwid R.S (uma sugestão genial do meu amigo Fernando Silva), que serei o primeiro da fila. Só a Renault, a mais entusiasta empresa brasileira, seria capaz disso. Esperando ansioso aqui.
2) Ford Ka
O Ka esteve aqui em 2015 e 2016, na versão básica 1,0, um carrinho delicioso ainda, mas que acabou por ficar de fora em 2017 e 2018 porque existiam outras opções mais interessantes. Volta este ano por causa do novo motor 1,5-l de três cilindros.
São nada menos que 128/136 cv em um carro de apenas 1064 kg. A relação peso-potência com álcool é de apenas 7,8 kg/cv, praticamente o mesmo que o Sandero R.S., a 7,7 kg/cv! E ainda por cima com aquele incrível e delicioso som e vibração de tricilindro, algo que sempre gosto. Não andei com o carro ainda, mas o comportamento dinâmico do 1,0 com toda essa potência não pode dar errado, ainda mais ao preço altamente competitivo que é oferecido.
3) Renault Sandero
O Sandero é uma constante nesta lista desde o lançamento do R.S. e da família de motores SCe de 3 e 4 cilindros. Apesar do acabamento pobre, são carros com comportamento dinâmico que reputo simplesmente perfeito, e motores aspirados modernos e deliciosos de usar.
E o Sandero R.S. permanece um presente da Renault para todos nós entusiastas. Um carro de rua feito do jeito que a gente gosta, como se fosse carro de corrida. Capaz de enfrentar um dia na pista em uso forte, e ainda assim nos levar ao trabalho no trânsito no dia seguinte, é um milagre moderno. E o melhor carro esporte, no sentido tradicional, já criado para nós, meros mortais, aqui no Brasil. Obrigado, Renault!
4) Fiat Strada Hard Working
Uma picape pequena é algo que ando desejando para terceiro carro. Em 2018 coloquei a Saveiro, mas agora, impulsionado por uma repentina nostalgia pelo Palio original, pegaria uma Strada. Cabine simples mesmo, com caçamba grande, para carregar carga.Apesar de não gostar do painel dela, adoro a durabilidade e robustez da Strada, e do seu comportamento aos comandos. Algo para se usar sem dó para o resto da vida, a custo baixo.
5) VW up!
Já falei bastante sobre este carrinho aqui, uma constante na lista desde que foi lançado. Gosto tanto que tenho um na garagem. O TSI é arma perfeita para a cidade, com sua retomada matadora, mas o aspirado também é uma delícia, forte, linear e econômico. É caro pelo seu tamanho, mas vale cada centavo, pago de volta em solidez e uma honestidade espartana e eficiente que não se vê em todo lugar.
6) Peugeot 208
O 208 na versão versão GT na lista de 2018, mas agora com toda gama. Com o preço pedido pela versão básica (aproximadamente 56 mil reais), é uma opção muito boa. O acabamento interno consegue não parecer pobre mesmo abusando de plásticos sem acabamento, o motor tricilindro de 1,2 litro é uma delícia, o câmbio manual preciso, o comportamento em curvas impecável. Uma pena que o mercado o tenha esquecido completamente.
7) Citroën Berlingo
Um furgão sim, qual o problema? Mais útil que uma picape por manter a carga seca e protegida dos amigos do alheio, um Berlingo seria um perfeito terceiro carro.
Ano passado era um Partner, mas com a volta do Berlingo, gêmeo quase idêntico, escolho o Citroën por causa do meu histórico com o modelo. Se a PSA trouxesse a versão de passageiros vendida na vizinha Argentina para cá, eu acho que até teria coragem de vender minha velha mas amada perua BMW para comprar um Berlingo zero-km. Isso mostra o quanto gosto do furgãozinho. Outra constante nesta lista, há muito tempo.
8) Suzuki Jimny
Eu nunca tive um utilitário tipo jipe, mas ultimamente me pego sonhando acordado com um Wrangler Unlimited. Mas se não tenho condição de pegar um, posso muito bem aplacar esta vontade com o pequeno Suzuki. Um jipe de verdade, com chassi, eixos rígidos, câmbio manual e reduzida, seria uma delícia para explorar as quebradas mais bucólicas do interior paulista onde vivo, e de quebra servir como transporte diário para minha filha mais velha. O único risco é ela se apossar permanentemente dele.
9) Fiat Weekend Adventure
Ok, esse carro exige alguma explicação. Sim, está caro, e sim, é antigo. Mas é a última perua com câmbio manual à venda no Brasil. Só por isso já mereceria consideração.
Mas há outra coisa. Carros normais, monobloco, com suspensão independente, mas alta e de curso longo, com pneus fora-de-estrada, estão entrando na moda. Nos EUA, especialmente na Califórnia, berço mundial de toda moda, começam a ficar comuns Porsche 911 e Mazda MX5 com suspensões levantadas. Peruas Subaru também são comuns com suspensão alta. A ideia é veículo urbano que tenha estabilidade boa, mas não tome conhecimento de lombadas, meio-fio, buracos ou qualquer outra coisa. E que no deserto ou estrada de terra, saia do chão e volte a ele sem se destruir. O Ford Raptor, picape com 450 cv feita para isso (apesar de muito grande e com chassi separado) é o primeiro carro de fábrica assim, e é imenso sucesso.
A Weekend Adventure, então, estava a frente do seu tempo. E ficou tanto tempo em produção que pode estar novamente na moda em breve. Eu andava querendo comprar um Subaru Forester de primeira geração para fazer meu carro deste tipo, quando me lembrei da perua Palio. Já está pronta! E com um gostoso quatro em linha de 130/132 cv, e câmbio manual!
O Palio original é um grande projeto, com vida longa e ainda presente. É com um misto de nostalgia e contemporaneidade que a (Palio) Weekend Adventure se torna um carro desejável de novo. A minha. vermelho sólido, por favor.
10) Honda Civic Sport
Enquanto estiver abaixo do limite de preço, este carro estará na lista. O Civic é uma delícia de dirigir com seu 2-litros aspirado e câmbio manual com um trambulador exemplar. É também bonito e diferente, de uma forma que faz Corollas parecerem velhos e conservadores demais. Pena que vende pouco, e pode em breve, como toda a categoria, desaparecer num mar de inócuos e chatos suves.
MAO
Fotos: Divulgação das fabricantes