No final do ano passado tivemos de volta a Interlagos uma das mais tradicionais corridas brasileiras, a 500 km de Interlagos. Oficialmente o nome do evento é 500 km de São Paulo por ter sido sediado no Autódromo Velo Città nos últimos anos, mas não é isso que mudaria alguma coisa nesta brilhante prova de longa data.
A primeira edição da 500 km foi disputada no anel externo de Interlagos no dia 7 de setembro de 1957. A bordo de um Maserati-Corvette, a dupla Celso Lara Barberis e Ruggero Peruzzo venceu a corrida em pouco menos de quatro horas de duração. Nesta época, os carros comumente eram chassis de F-1 europeus de temporadas passadas ou fabricações nacionais, sempre com motores americanos.
Muitos nomes de peso venceram a 500 km, como Emilio Zambello em 1961 com Maserati 450 S; Luizinho Pereira Bueno em 1971 com o Porsche 908; Bird Clemente com o Maverick em 1973; e o alemão Reinhold Joest de Porsche 908/3 em 1974.
No começo dos anos 2010 a corrida não se realizou por motivos de custo, de falta de inscritos, de acerto com o autódromo, além da queda de participantes que estava ocorrendo nos campeonatos de resistência nacionais. Nesta época houve uma certa disputa dos pilotos de carros nacionais com os pilotos que vinham com carros importados das categorias GT, como Porsches e Ferraris GT3, que inevitavelmente são carros velozes e acabam sendo superiores à maioria dos carros locais. Nos últimos anos a corrida foi disputada no interior de São Paulo, em Mogi-Guaçu,com grids cada vez mais atrativos, até que em 2018, no dia 22 de dezembro último, a prova conseguiu voltar a Interlagos.
É muito bom ver novamente um grid misto com carros nacionais e importados, mas com condições de disputa justa e equilibrada. Também foi ótimo ver que o clima de prova nacional em Interlagos se mantém, caloroso e sem frescuras para acessar e assistir a prova, muitas vezes restrito pela organização com rigores desnecessários que acabam prejudicando o ambiente de hospitalidade já estabelecido neste tipo de prova brasileira.
Tive a chance de ver algumas das edições passadas da 500 km de Interlagos, tempos em que a mistura de diferentes carros era um grande atrativo para o público, que podia ver protótipos nacionais andando junto e dando trabalho para Ferraris e Porsches importados.
Nesta edição de 2018, vinte e um carros disputaram a corrida, divididos em seis categorias. Dos carros de ponta, uma mistura entre os GTs importados e os protótipos nacionais, com destaque para o protótipo AJR propulsionado por motor V-8 da Stock Car, que brigou de igual para igual com Lamborghini Huracán, Porsche 911 GT3 R e Mercedes-AMG GT3.
Este AJR, feito pela empresa gaúcha Metalmoro juntamente com o time do piloto Juliano Moro, é um dos mais modernos carros de corrida projetados e construídos no país. A estrutura dele ainda é tubular de aço cromo-molibdênio, mas tem a carroceria em compósito de fibra de carbono e freios feitos de carbono. A concepção do chassi e carroceria são bem similares aos protótipos europeus, com o conceito de rodas para-lamas dianteiros não integrados à carroceria, formando um túnel entre o bico do carro e as rodas para melhor aerodinâmica. O motor V-8 Chevrolet é similar aos LS usados na Stock Car, com transmissão Xtrac do tipo usada nos carros da LMP3.
O grid teve ainda diversos protótipos nacionais, como os tradicionais Aldee Spyder e o MRX gaúcho, já velhos conhecidos das pistas e com longa história no nosso automobilismo.
Uma das marcas registradas da 500 km é justamente a diversidade de carros competindo, e nesta edição não foi diferente. Além de todos estes carros de alto desempenho,, no grid haviam dois carros no mínimo curiosos: um Hyundai HB20 de Turismo Nacional e um Renault Sandero praticamente original que chamou a atenção de todos e não fez feio.
Depois de 117 voltas e 3h26min29s, o Lamborghini Huracán venceu a corrida e na mesma volta ainda vieram o Mercedes-AMG, o protótipo AJR e o 911 GT3 R. O bravo Sandero foi até o final da prova e conseguiu terminar em 14°, na frente de carros de corrida bem superiores. Foi a máxima do “devagar e sempre” que levou o pequeno Renault até o fim, mantendo seu ritmo constante e, sem se envolver em problemas, completou a prova.
Este espírito de corrida do pessoal do Sandero é o que nosso automobilismo precisa. Temos que ter sim carros de ponta para atrair o público e ver em ação modelos modernos de alto desempenho, nacionais ou importados, mas isto não pode eliminar os competidores “caseiros” com os carros nacionais que disputam as provas na raça.
No final das contas, são estes que fazem o grande volume do grid, pois nosso automobilismo ainda não está no ponto de ter um grid de trinta carros só composto de Porsches, Lamborghinis e protótipos importados.
Abaixo o resultado da corrida:
Pos | # | Pilotos | Carro | Cat. | Voltas |
1º | 19 | Chico Longo/Marcos Gomes/Victor Franzoni | Lamborghini Huracan | GT3 | 117 |
2º | 8 | Guilherme Figueroa/Ricardo Baptista/Julio Campos | Mercedes-AMG GT | GT3 | 117 |
3º | 117 | Emílio Padron/Fernando Fortes/Henrique Assunção | AJR V8 Chevrolet | P1 | 117 |
4º | 70 | Marcel Visconde/Max Wilson/Ricardo Maurício | Porsche 911GT3 R | GT3 | 117 |
5º | 15 | Renan Guerra/Arthur Felipe | JR-VW | P3 | 106 |
6º | 64 | Henry Visconde/Tiel de Andrade | Audi RS 3 | P3 | 103 |
7º | 13 | Alexandre Zaninotto/Leandro Guerra | Spyder-VW | P3 | 100 |
8º | 125 | Paulo Plutarcho/Davi Plutarcho/Saúva | Spyder | P1 | 100 |
9º | 25 | Ney Faustini/Edras Soares | Chevrolet Vectra V-8 | P1 | 99 |
10º | 7 | Paulo Sousa/Mauro Kern | BMW Série 1 | GT4 | 99 |
11º | 74 | Eduardo Colamarino/Luiz Abbade | Spyder | P3 | 94 |
12º | 66 | Luc Monteiro/José Vilela | Spyder | P3 | 91 |
13º | 222 | Carlos Vallone/Ricardo Kraft/Edgar Amaral | VW Gol | T | 90 |
14º | 113 | Ricardo Cimatti/Tiago Regis/Rogério Dudu | Renault Sandero | T | 75 |
15º | 72 | Carlos Antunes/Yuri Antunes/Alexandre Finardi | MRX | P2 | 64 |
16º | 20 | Fabiano Cardoso/Daniel Keleman/Rafael Lopes/M.Costa | Hyundai HB20 | T | 63 |
17º | 146 | Robbi Pérez/José Córdova | MRX-Audi | P1 | 63 |
18º | 77 | Edras Soares/Esdras Soares/Juarez Soares | Chevrolet Vectra V-8 | GT4 | 55 |
19º | 14 | Marconi Abreu/Júnior Victonete/Marcelo Karam | Mercedes CLA Cup | GT4 | 34 |
20º | 151 | Sérgio Pistilli/Denísio Casarini | Spyder-VW | P3 | 25 |
21º | 16 | Esio Vichiese/Alinne Cipriani | Ginetta-Ford V-6 | GT4 | 5 |
MB
Fotos: autor