Wagner Gonzalez, de Daytona, 27/01/19 – Se o resultado da 24 Horas de Daytona serviu para alguma coisa, foi para alimentar estatísticas, esporte preferido de 110% da população dos Estados Unidos: desde 2004 ninguém vencia a prova completando menos de seis centenas de voltas pelo circuito que desde 1984 usa apenas 5.073 metros dos 6.130 metros que compõem seu traçado misto. Coincidentemente, foi o ano da primeira vitória de Christian Fittipaldi, que hoje se despediu das pistas como piloto. Nesse ano Christian dividiu um Doran Pontiac com Terry Bercheller, Forest Barber e Andy Pilgrim e conseguiram completar 524 voltas.
Com a vitória conquistada junto com Jordan Taylor, Renger van der Zande e Kamui Kobaiashi, Fernando Alonso torna-se o terceiro campeão da F-1 (2005/2006) a vencer em Daytona. Os outros dois são Phil Hill (Campeão da F-1 em 1961 e vencedor em Daytona em 1964) e Mario Andretti (venceu em Daytona em 1972 e conquistou o título na F-1 em 1978).
Quem olha as instalações da “International Speedway” hoje em dia certamente não imaginaria que tudo começou em um terreno comprado da prefeitura local por US$ 10 mil. Hoje a cidade fatura isso em questões de minutos apenas com quem visita o autódromo nos fins de semana de grandes eventos. Voltando ao presente, quem acredita na ciência da meteorologia consultando aplicativos e não confiando naquela dor do dedo mindinho não se surpreenderia com a interrupção da corrida antes do final programado para as 14h35: desde o início da semana eram previstas chuvas fortes para a região.
O detalhe é que poucos esperam algo em torno de cinquenta milímetros de chuva nos mais de 2 milhões de metros quadrados, espaço que pode acomodar mais de 165 mil pessoas. Se você assistiu parte da prova pela TV e notou arquibancadas vazias, não tire conclusões precipitadas: o torcedor americano prefere ficar no “infield”, área interna do circuito onde se acampa, bebe, faz fogueira e curte carros de cores que são um arco-íris se comparado com o branco-prata-preto das ruas brasileiras.
Tudo isso pouco importa se você é um entusiasta do esporte: a liderança mudou de vezes nas 593 voltas completas pelos três primeiros classificados, os Cadillacs de Alonso/Taylor/van der Zander/Kobaiashi e Felipe Nasr/Pipo Derani/Eric Curran e o Acura de Hélio Castro Neves/Ricky Taylor/Alexander Rossi que terminaram em terceiro sendo que outras equipes também ocuparam a liderança. Alonso e seus companheiros só garantiram a vitória a três voltas do final e com ajuda da Mãe Natureza, ajuda que veio em forma de chuva. Cálculos extraoficiais apontam que a liderança mudou de mãos, em média, a cada 11,5 voltas… Na categoria GTD os cinco carros melhor classificados percorreram o traçado 561 vezes cada um, o que valoriza a atuação de Rolf Inechein, Miko Bortolotti, Christian Engelhart e Rik Breukers a bordo do Lamborghni Hurácan GT3 Evo, vencedores da sua classe.
Se a vitória escapou de Felipe Nasr e Pipo Derani no final da prova, outro brasileiro, Augusto Farfus, viveu experiência inversa e acabou vencendo uma prova onde nem estava escalado para participar. O inglês Tom Blomqvist não conseguiu tirar o visto de entrada para os Estados Unidos e seu lugar acabou preenchido pelo paranaense. Rubens Barrichello, que fazia uma prova consistente andando em sexto lugar até a madrugada, acabou abandonando depois de uma rodada.
Os demais brasileiros tiveram sorte diferente: Daniel Serra e seus companheiros na equipe Spirit of Race, apoiada pela Ferrari, sequer chegaram ao final: uma batida e um problema de suspensão puseram um fim prematuro na sua agenda de trabalho para o fim de semana. Chico Longo, Marcos Gomes, Victor Franzoni e o italiano Andrea Bertolini, terminaram em nono lugar na categoria, vigésimo quinto na geral.
Bia Figueiredo, que completou uma equipe feminina que pilotou um Acura NSX, ficou em 33o e 13o, na classificação geral e na categoria, respectivamente. Felipe Fraga, assim Gomes e Serra, campeão da Stock Car, chegou a liderar a sua categoria, mas uma rodada de um companheiro de equipe na fase final da prova o deslocou para o vigésimo terceiro na geral e sétimo em na categoria GTD.
Despedida de Christian teve aplausos e lágrimas
A corrida tinha sido interrompida pela última vez quando Christian Fittipaldi foi levado à sala de imprensa para o que seria sua derradeira entrevista coletiva como piloto. Mas sentou-se à mesa sobre o palco ao fundo da sala e engasgou, respirou ofegante, soltou algumas lágrimas e, quando estava se refazendo foi surpreendido com uma longa salva de palmas for jornalistas que o acompanham desde muito ou pouco tempo.
“Eu tinha três metas para este fim de semana”, confessou o brasileiro “chegar ao fim da prova, subir ao pódio e conseguir uma quarta vitória nesta prova. As coisas não saíram como esperado, mas eu estou em paz comigo mesmo. Agora é viver um dia de cada vez.”
Apesar de abandonar o cockpits ele vai viajar ainda mais este ano para cumprir suas atribuições de diretor esportivo da equipe Action Express e embaixador das marcas Cadillac e Mustang Sampling, empresa que faz análises de gás e óleo para avaliar a rentabilidade de exploração do local onde essas substâncias foram encontradas.
O resultado completo das 24 Horas de Daytona você encontra clicando aqui.
WG