Caro leitor ou leitora,
Hoje dou seguimento à coluna do domingo passado, encerrando a história de minha memorável visita ao acervo de produtos Fiat, na fábrica em Betim, MG. Caso você não tenha lido a Parte 1, é só clicar aqui.
Abraço
Douglas Mendonça
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Tempra Ouro 16v
Quando o Tempra chegou ao mercado brasileiro em 1991, trouxe inovações até então inéditas para carros de seu porte. Uma das importantes novidades eram as suspensões completamente independentes nas quatro rodas. Um avanço que permitia uma dinâmica do carro não vista em seus concorrentes. O mercado de importados estava se abrindo nessa época, e o conceito das suspensões independentes chegavam com os últimos modelos importados, mas bem mais caros que o Tempra.
O primeiro sedã médio da Fiat era vendido no mercado europeu também. Tinha um bom espaço interno e um refinamento construtivo que o colocava como um luxuoso. Destaque para seu enorme e elogiável porta-malas, que tinha a estupenda capacidade de 552 litros, segundo constava nas especificações do próprio manual do veículo.
O motor de 2 litros e 4 cilindros, chegou ao mercado brasileiro com a configuração de quatro válvulas por cilindro, totalizando 16 válvulas, ou 16v, como ficou mais conhecido, com absoluto ineditismo em 1994. Até então, os motores 16v eram restritos apenas aos carros importados.
O Tempra Ouro 16v do acervo tem pouco mais de 28 mil quilômetros rodados e foi fabricado no ano de 1995 e era de uma rara versão completa que tinha até mesmo a sofisticação dos bancos dianteiros eletricamente ajustáveis, além da forração em couro e do ar-condicionado digital. Seu motor 2.0 16v desenvolve 127 cv e um torque máximo de 18,4 m·kgf. As suspensões são firmes e o Tempra ainda roda macio e silencioso como em 1995. Uma outra peça muito interessante do raro acervo da Fiat.
Uno 1.5R
Quando a Fiat trouxe o Uno para ser produzido no Brasil, trouxe com esse projeto muitas variações, que iam desde veículos comerciais, como as picapes, até versões esportivas, que serviriam até mesmo para competições. Nessa linha, a Fiat lançou em 1987 o Uno 1.5R, uma versão esportiva do versátil carrinho, que tinha no desempenho o seu ponto alto. Mas o pessoal do design não decepcionou àqueles que queriam uma aparência mais ousada, descolada e jovem do Uno esporte.
Equipado com motor 1,5 Sevel, importado da Argentina — a Sevel produzia carros Fiat sob licença no país vizinho —, que desenvolvia 86 cv, com um torque máximo de 12,9 m·kgf, resultados também modestos para os dias atuais. As relações de marchas, mais curtas do seu câmbio reescalonado permitia ao valente Uno 1.5R um desempenho antes só reservado a carros equipados com motor de maior cilindrada. Equipado com calotas exclusivas até 1988, em 1989 recebeu rodas de liga leve, também exclusivas dessa versão. O Uno 1.5R foi produzido até 1989, quando foi substituído pelo Uno 1.6R, com motor só um pouco mais potente, 88 cv, que se refletia no seu desempenho pela maior elasticidade.
E olha que esse Uno 1.5R do acervo da Fiat não estava para brincadeiras. No breve teste que realizamos, o hatch mostrou que ainda brilha com respostas rápidas ao comando do acelerador, como em seus bons tempos no início dos anos 90. Um carro ainda é muito agradável de ser conduzido, que possui como charme até os cintos de segurança na cor vermelha, uma exclusividade do modelo na época. Um carro que faria felizes muitos jovens nos dias atuais.
Uno Turbo
Esse Uno Turbo pode ser considerado como uma das maiores joias raras desse acervo. A versão Turbo foi produzida por um curto período de tempo, que foi de fevereiro de 1994 até 1996, tornando esse carro uma versão ainda mais rara. O pequeno Uno possuía um motor 1,4 (1.372 cm³) que era superalimentado por um turbocompressor Garrett T2. Com uma pressão máxima de 0,8 bar, o motor, totalmente importado da Itália, desenvolvia 118 cv e um torque máximo de 17,5 m·kgf, mais do que suficiente para levar o leve Uno (1.005 kg) até os 195 km/h de velocidade máxima.
Com muito torque, pouco peso e uma pequena turbina que permitia respostas rápidas do motor, as acelerações brilhantes, beneficiavam-se ainda das curtas relações do seu câmbio de 5 velocidades. De 0 a 100 km/h, o ágil Uno completava a prova em 9,2 segundos. Um tempo de respeito até mesmo para os dias atuais. Mas o Uno Turbo não era apenas acelerações brilhantes e boa velocidade máxima: O pequeno hatch possuía outras tecnologias para permitir alto desempenho com segurança. Na calibração das suspensões, além de novas molas e amortecedores, o carro ficou 1 centímetro mais baixo, garantindo mais estabilidade.
Os pneus 185/60R14, juntamente com os maiores discos de freio, herdados do Tempra, garantiam frenagens em espaços mais curtos e alta eficiência mesmo quando muito exigidos. A carroceria monobloco teve suas torres da suspensões dianteiras amarradas por meio de uma barra transversal que garantia a rigidez estrutural do conjunto. Esse recurso garantia uma dirigibilidade mais estável em curvas velozes e acelerações. Com painel de instrumentos completíssimo (tinha um total de sete instrumentos) e acabamento refinado, o Uno Turbo era um carro caro: Custava cerca de três vezes mais que a versão Mille de entrada.
O modelo do acervo que andamos estava perfeito, faltando apenas alguns pequenos detalhes de acabamento que se perderam ao longo desses 23 anos. Mas, detalhes todos fáceis de serem restaurados em sua plenitude.
Só posso agradecer à FCA, na pessoa do meu sobrinho Ricardo Dílser, assessor técnico da FCA América Latina, pelo prazer proporcionado e a atenção de que fui alvo. algo de que vou me lembrar sempre.
DM