A Fiat Automóveis optou pelo mercado latino-americano em 1973, quando a Fiat S.p.A, a matriz italiana, decidiu implantar no Brasil, mais especificamente no Estado de Minas Gerais, uma fábrica com o objetivo de produzir novos carros para o próspero mercado latino-americano e, em 1976, lançou seu primeiro carro aqui: o simpático Fiat 147, uma derivação estruturalmente reforçada do Fiat 127 produzido na Itália. Além das duras situações de uso impostas por nossas ruas e estradas, o carro deveria funcionar bem nas altas temperaturas médias de nosso país.
Além disso, o carro deveria se adaptar ao uso da maioria dos países da América do Sul, vizinhos do Brasil, potenciais clientes para compra do pequeno e econômico Fiat. Claro, que esse que foi o primeiro modelo que a Fiat produziu em sua fábrica de Betim, em Minas Gerais, é uma das partes integrantes do acervo que a Fiat está montando para contar a sua história e a de seus produtos no mercado brasileiro nesses quase 46 anos.
Fui à Betim, onde está localizada a maior fábrica de automóveis da Fiat no mundo, e tive a oportunidade de andar na pista de testes da fábrica com seis carros, peças importantíssimas do seu acervo e que ajudam a contar a história da marca no Brasil, desenvolvendo e produzindo carros que atendem às necessidades do consumidor brasileiro e às nossas condições de piso e temperatura. Uma experiência que só quem faz carros no Brasil e para os brasileiros é capaz de fazer corretamente.
Um parêntese. Andei na pista de testes com o amigo Denivam Araújo, dono da oficina “Auto 90”, a que cuidou da restauração do Santana GLS que pertenceu a Quatro Rodas, objeto de duas colunas minhas em agosto do ano passado, em duas partes (parte 1 e parte 2). Fomos juntos à fábrica da FCA por motivo que o leitor ou leitora conhece, eu estar privado da minha visão.Mesmo sem enxergar consigo sentir perfeitamente um carro estandosentado no banco do passageiro.
Do seu precioso acervo, atualmente com cerca de 25 carros e um outro tanto em restauração, a Fiat permitiu que andássemos com Oggi CSS, Tipo 1.6 i.e., Fiorino Trekking, Tempra Ouro 16v, Uno Turbo e Uno 1.5R. Uma experiência fantástica, dando uma dimensão exata de como nossa indústria automobilística evoluiu ao longo do tempo. Mas todos eles ofereceram uma boa sensação de direção, no curto espaço de tempo que tivemos para apreciar essas raridades. Um verdadeiro túnel do tempo para quem trabalha na área jornalística há 45 anos.
Oggi CSS
Para quem não sabe, o Fiat Oggi era a versão sedã do 147. O sedã destacava-se do hatch pela generosa capacidade do porta-malas, o que proporcionava outra característica positiva interessante para o Oggi: uUma distribuição de peso mais uniforme entre os eixos dianteiro e traseiro, o que melhorava sua performance esportiva. Por isso, a Fiat escolheu esse modelo para representá-la no recém-criado Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos.
Mas, para que ele pudesse competir no certame criado pela Confederação Brasileira de Automobilismo, era preciso que fosse criada uma versão de venda ao público semelhante àquele que competiria nas pistas. Assim nasceu o Oggi CSS (Comfort Super Sport), um sedã familiar tranquilo, apimentado com a esportividade dos carros de competição. O campeonato era tão importante para a Fiat na época, que chegou a contratar o bicampeão mundial de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, como um de seus pilotos para essa edição da competição, que ocorreu em 1984.
O Oggi CSS apimentado destacava-se do Oggi CS familiar pelo motor 1,4 (1.415 cm³) contra o tradicional 1,3 (1.297 cm³), além de possuir carburador com corpo duplo. Isso permitia o motor desenvolver 78 cv contra os 61 cv do motor 1300. Além disso, o Oggi CSS possuía relações de marchas mais curtas para torná-lo mais rápido nas acelerações. Dos adereços estéticos, destacam-se o aerofólio na tampa do porta-malas (foto de abertura), rodas de liga leve, além de bancos esportivos com mais apoio lateral, volante com desenho diferenciado e instrumentos de painel completos. O CSS foi fabricado apenas na cor preta com detalhes em vermelho e tiveram aproximadamente 280 unidades produzidas para efeito de homologação esportiva.
Tipo 1.6 i.e.
Lançado no final de 1993 já como modelo 1994, o Tipo 1.6 i.e., importado da Itália, surpreendeu o mercado nacional pelo preço extremamente interessante para a época: US$ 17 mil (cerca de R$ 63 mil hoje). Um preço surpreendente, se considerarmos que o Tipo era o carro do porte de um Golf (que atualmente parte de pouco mais de R$ 91 mil) ou de um Focus (que hoje custa aproximadamente R$ 75 mil). Apesar do conteúdo mais completo e tecnológico no Golf e Focus atuais, o preço do Tipo para a época ainda sim era uma pechincha!
O carro era vendido completo. Chegava ao consumidor com ar-condicionado, direção assistida hidráulica, sistema de som, vidros dianteiros elétricos e outros mimos que deixavam o consumidor da época bem satisfeito. O resultado prático disso? A Fiat imaginava vender cerca de 800 unidades do seu importado por mês, mas, em poucos meses, já vendia 1.600 carros mensais. Uma surpresa positiva que apressou a ideia dos dirigentes da Fiat brasileira a acelerarem o processo de nacionalização do Tipo, que a partir do final de 1995, já como modelo 1996, passou a ser produzido na fábrica de Betim..
O Fiat Tipo ano 1995 do acervo, que aceleramos na pista de testes era um modelo importado com injeção monoponto que tinha pouco mais de 2.800 quilômetros rodados. Uma verdadeira raridade. Um carro que tratamos com todo o carinho que merece ser tratada uma joia rara. Com quatro portas, ainda hoje é um carro bem confortável, com fácil acesso de entrada e saída de seu interior, além de uma boa habitabilidade. Seu motor 1,6 de quatro cilindros desenvolvia 82 cv, insuficientes para as exigências atuais. O Tipo, em curtíssimo espaço de tempo, conquistou o consumidor brasileiro e chegou, na época, a ser um dos carros mais vendidos de nosso mercado, inclusive tendo líder absoluto por dois meses em 1995.
Fiorino Trekking
As picapes da Fiat, hoje, são um sucesso no mercado nacional, tanto é que a Strada é líder do mercado de picapes há muitos anos.. Para quem pensa que a Fiat começou a fazer sucesso com picapes nos últimos anos, um grande engano: a Fiat já havia surpreendido o mercado em 1978 com o lançamento de uma versão picape do 147. Apelidada carinhosamente de Tamanquinho ou Saboneteira, pelo seu design um tanto particular, a picapinha servia para pequenos empresários e sitiantes que necessitavam de um carro para trabalho que fosse, ao mesmo tempo, robusto e econômico. Do Tamanquinho, logo em 1980 chegou a versão furgão, batizada de 147 Fiorino em suas derivações Vetrato, Combinato e Settegiorni. Todas versões que combinavam o transporte de pessoas e carga de maneira bastante criativa. O lançamento do Uno, em 1984, trouxe consigo o lançamento da família de picapinhas derivadas até então desse último lançamento.
A primeira picape derivada do Uno chegou em 1988, chamada de Fiorino Pickup e sua versão fechada, batizada de Fiorino Furgão. Mas, em 1994, vieram as alterações técnicas e mecânicas que fizeram da família de trabalho Fiorino, transformarem-se nas picapinhas que são sucesso até hoje em nosso mercado: Foi aumentada a distância entre-eixos e, sucessivamente, o volume da caçamba e a suspensão traseira passou a ser feita através de eixo rígido com molas monolâmina (parabólicas) longitudinais. Além de poder transportar mais carga, a nova suspensão reduziu sobremaneira o período e o custo de manutenção, fatores muito desejados para veículos de trabalho.
A Trekking que avaliamos na pista de testes da Fiat é de 1996 e seu lançamento havia ocorrido em 1995. Era equipada com o motor 1,5 Fiasa de 76 cv, que se destacava pelo bom torque que entregava desde as baixas rotações. Essa versão se sobressaía na família das picapes pelas suspensões mais elevadas, o que permitia seu tráfego mais fácil por estradas esburacadas e sem pavimento. Além disso, essa picapinha possuía um acabamento mais refinado e era destinada à um público jovem que poderia curtir aventuras nos finais de semana. As faixas laterais davam um ar descolado ao model.
Na semana que vem teremos a Parte II falando sobre os outros três carros em que tivemos, o Denivam e eu, oportunidade de andar: Uno 1.5 R, Uno Turbo e Tempra Ouro 16v.
DM
Fotos: Rejane Lima
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.