Os anos1960, em sua totalidade, foram de glória para os carros da Renault no mercado brasileiro. Começamos pelo Renault Dauphine, apresentado no final dos anos 50, mais precisamente em 1959, já como modelo 1960. Depois, no final de 1961, tivemos o lançamento da família Renault Alpine A108, aqui no Brasil batizados de Willys Interlagos em três versões Berlineta, Cupê e Conversível.
Já em 1962, chegou a versão mais potente do Renault Dauphine, aqui chamada de Renault Gordini, com certeza o maior sucesso dessa gama Dauphine. Mas esta, iniciada pela família Dauphine, não parou no Gordini. Tivemos, no final de 1963, já como modelo 1964, o Renault 1093, o esportivo de alta performance da gama.
O Renault 1093 começou a ser desenvolvido no final de 1962, utilizando componentes franceses de desenvolvimento do motor Ventoux de 845 cm³. O modelo esportivo, que tinha no número 1093 simplesmente seu número de projeto interno da Renault (o Dauphine era o R1090 e o Gordini, R1092), levava muitos a achar que se tratava da cilindrada do motor em centímetros cúbicos, teve como meta aproximar o Gordini de rua e seu consumidor dos valentes Renault de competição que integravam a equipe Willys e de muitos pilotos independentes.
As principais alterações, estavam escondidas sob o capô do motor. O pequeno e econômico motor Renault de origem francesa e produzido aqui no Brasil recebeu um carburador de corpo duplo, o Solex 32 PAIA3 com segundo corpo de abertura a vácuo, comando de válvulas especial, molas de válvulas mais fortes, taxa de compressão maior (9,2:1, contra 8,0:1 do Gordini) mediante uso de pistões cabeçudos, e um coletor de escapamento 4-em-1 para saída mais fácil dos gases queimados e menos contaminação da mistura ar-combustível, fator conhecido dos preparadores.
Devido ao comando especial de perfil de rampas mais abrupto dos ressaltos, o motor tinha um som peculiar do trem de válvulas que era só dele,único, um deleite para entusiastas, como me contou o Bob Sharp muitos anos atrás no nosso tempo de colegas na Quatro Rodas. Tudo exatamente igual aos dos Gordini que venciam, em sua classe, corridas nas pistas de competição.
Outras modificações compreendiam o câmbio teve a quarta marcha encurtada, passando de 1,03:1 para 1,07:1, para mais disposição na última marcha. Como em todos os Renault fabricados aqui naquele período, a primeira não era sincronizada.
O 1093 foi apresentado aos jornalistas especializados da época em novembro de 1963, no Autódromo de Interlagos. Na pista, o show com os 1093 foi dado pelos principais pilotos da equipe Willys de competição. Dois deles, pouco tempo depois, integrariam equipes de Fórmula 1, como Wilsinho Fittipaldi e José Carlos Pace.
Além do motor que, dos 32 cv originais do Gordini (potência líquida, “40 hp de emoção”,dizia a propaganda oficial, era potência bruta) originais do Gordini, passou para nervosos 42 cv a 5.800 rpm, um valor respeitável para um motor de 845 cm³ (Fusca 1200, 30 cv), o esportivo possuía como particularidades o uso obrigatório de gasolina premium 95 RON (ou azul, como era chamada na época, em oposição à gasolina comum, a amarela, 91 RON), recalibragem do sistema de suspensões que incluía,na ligeira cambagem negativa na traseira, e freios a tambor de maior capacidade.
O Renault 1093 foi comercializado no mercado brasileiro por apenas dois anos, de 1964 e 1965, nas exclusivas cores dourado e vermelho, respectivamente.. Devido ao refino construtivo do carro e de sua mecânica, ele era vendido em nosso mercado a um preço alto quando comparado aos outros modelos da gama. Por isso, além dos parcos dois anos de produção, foram comercializados apenas 721 unidades nesse período, fato que o torna, hoje, como um carro raro e caro para os colecionadores.
Seu desempenho na época impressionava: Ele chegava a cerca de 135 km/h de velocidade máxima e acelerava de 0 a 100 km/h em, aproximadamente, 22 segundos. Números qua parecem pífios hoje, mas que eram excelentes para a época. O Fusca 1200, por exemplo, ia de zero a 100 km/h em cerca de 30 segundos e chegava a apenas 110 km/h.
Sofisticações como o seu charmoso conta-giros francês da marca Jaeger, totalmente mecânico, que possuía um cabo que vinha do motor até o instrumento, instalado no lado esquerdo do painel que no Gordini era um porta-objetos, davam mostra de seu refino. Esse equipamento exclusivo dava a sofisticação esportiva para o interior do carro. Ainda no interior, o velocímetro tinha escala até 180 km/h, versus 160 km/h no Gordini.
Acredite, o desenvolvimento construtivo do motor e sua alta taxa de compressão levavam a um consumo de combustível que se destacava pelos baixos números. Assim, além do bom desempenho o carro era também econômico, ajudado por tempos de gasolina com pouco álcool, que variava de 5% a 8%.
O 1093 era mesmo um Renault para quem curtia carros. Numa certa medida, tinha o espírito do atual Sandero R.S.
DM