BMW 330i, UM COMPUTADOR SOBRE RODAS

O lançamento de carros mais sofisticados mudou já há algum tempo. O novo exemplo vem do novo BMW Série 3, que acaba de chegar. Qualidades dinâmicas, motor, soluções mecânicas, até o visual… tudo isso fica em segundo plano. A informática, capacidade digital, auxílio ao motorista, todos os recursos eletrônicos parecem ser o principal. A “placa-mãe sobre rodas” não é mais a “cereja do bolo”. É o próprio bolo . Mas, em meio a tantos gigabytes se esconde um ótimo sedã de tração traseira, em sua oitava geração (G20, modelo 2019) que mantém sua aura de esportividade tanto quanto os primeiros Série 3 que aqui chegaram nos anos 1990.

Mudou bastante, cresceu muito e tem duas versões, o 330i Sport e, o mais completo, o 330i M Sport. Inicialmente virá importado da Alemanha para, no final deste semestre, ser industrializado em Araquari, próximo de Joinville, SC. Se a interface com tanta eletrônica promete ser amigável, os preços restringem essa amizade: R$ 219.500 para o Sport e R$ 269.950 para o M Sport.

Uma novidade interativa do novo Série 3 está no IPA. Não, não se trata de uma caixa de cerveja, mas uma utilidade que até combate a solidão. IPA significa Intelligent Personal Asssitant, ou Assistente Pessoal Inteligente. Simplificando, um carro falante. Usando inteligência artificial, este BMW responde questões e até dá sugestões. Se você se confessa “entediado”, ele sugere que se coloque o carro no modo esportivo, para que as emoções ao dirigir espantem seu tédio. Pode também regular funções de conforto por comando de voz, mas parâmetros que interferem na forma de dirigir têm de ser ajustados manualmente.

Às vezes, uma frase é pouco entendida pelo sistema, mas segundo a BMW esta “inteligência artificial” vai aprimorando o dialogo com o uso. O sistema se acostuma com até quatro motoristas, entendendo sotaques, aumentando vocabulário e incluindo novas funções. Tudo auxiliado por atualização frequente, através de um cartão SIM de 4G, que apenas troca de dados com o fabricante. Este cartão não se comunica com Internet e nem permite ligações telefônicas. Esta atualização constante seria um diferenciador importante, já que os marketeiros acham que os carros estão concorrendo tecnologicamente com os celulares, que evoluem mais rapidamente.

Para ter mais um mimo eletrônica diferente, além funções para auxiliar o motorista ao volante, a BMW inclui também uma programação de volante, que reproduz os últimos 50 metros dirigidos para frente quando se volta em marcha à ré. Ou seja, a “importante” capacidade de voltar de becos sem saída. Basta engatar a ré e acelerar que o volante reproduz exatamente os últimos 50 metros sem intervenção do motorista. Além de mostrar para os amigos, não descobri muita utilidade para a nova função. Ao que tudo indica, os engenheiros eletrônicos e mecatrônicos alemães andam um pouco entediados.

Existe também uma câmera voltada para o motorista, que “lê” suas expressões faciais e direcionamento dos olhos, alertando em casos de desatenção, fadiga ou sono, disparando alertas luminosos e sonoros. Há também conexão com o celular para se usar as câmeras 360º para verificar se não existe alguma ameaça antes de chegar ao carro.

Claro, tem mais dúzias de monitoramentos eletrônicos já conhecidos nos carros de luxo e continua a Concierge da BMW. Um serviço mundial do fabricante germânico que funciona em várias línguas e está sediado na Espanha. Basta apertar um botão no painel central e o Concierge oferece sugestões de hotéis, restaurantes, postos ou outros destinos. Inclusive programa a distância o GPS do carro, além de atender em casos de emergências ou problemas técnicos. Apesar da pequena frota de BMW no País, o Brasil é o segundo usuário mundial da Concierge.

Este novo Série 3 também traz recursos semiautônomos de condução, como seguir (boas) faixas de estrada ou alertar para frenagens emergenciais.

Ainda que pareça certo exagero tanta eletrônica e mimos digitais (presentes principalmente na versão M), é fácil entender que o pessoal de marketing se encontra numa encruzilhada, com várias ameaças para o carro convencional: carros elétricos, autônomos, compartilhados, mudanças de hábito das novas gerações… E a saída, no momento, parece indicar para esta sofisticação, principalmente em veículos mais caros.

Mesmo assim, o marketing continua com algumas premissas tradicionais, sendo uma delas a mania de crescer o carro através dos anos: este Série 3 aumentou 8 cm em relação ao modelo anterior e já chegou aos 4,71 m de comprimento (exatos 4.709 mm, com 2.851 mm de entre-eixos), o que corresponde a um Série 5 de duas gerações atrás. Ou seja, deixou de ser um sedã compacto para se transformar em médio-grande. Mesmo assim, ficou 60 kg mais leve graças ao uso de alumínio em várias partes da carroceria, como longarinas, capô e para-lamas, pesando 1.470 kg em ordem de marcha.

A desculpa é sempre a de que “as famílias crescem”, o que é uma verdade parcial. Depois de alguns anos, as famílias diminuem, pois os filhos seguem seus próprios caminhos.

Mesmo assim, o novo Série ganhou em prazer ao dirigir com suas novas dimensões e plataforma (agora a G), o que é notado principalmente em estradas ou autódromos. Como foi o caso do test drive na pista do Velo Città, em Mogi Guaçu, SP. Mesmo não sendo mais um seis-cilindros, seu motor 2-L Turbo de quatro cilindros sabe falar alto. Uma evolução de motor já conhecido, esta nova versão ganhou 13 cv de potência (traz 258 cv de 5.000 rpm a 6.500 rpm), mas quem faz a festa mesmo é o ótimo torque, praticamente plano entre 1.550 rpm e 4.400 rpm. São 40,8 m·kgf que empurram o 330 i com gosto e prazer. O câmbio automático epicíclico ZF de oito marchas também foi aperfeiçoado e casa com precisão com a nova potência e torque.

Acelera muito bem (0 a 100 km/h em 5,8 seg.) e só não passa dos 250 km/h por ser limitado eletronicamente nesta velocidade.

Os controles de estabilidade e tração podem ser “desligados”, permitindo fazer alguma ousadia ao volante. Mas, em casos de “emergência”, como colocar o 330i de lado numa curva, estes controles intervêm no meio da derrapagem, mesmo que o motorista já esteja contraesterçando e voltando a trajetória. Ainda assim, há margem para se andar muito rápido e com confiança, graças à excelente rigidez torcional da carroceria. Poucos percebem, mas esta é uma das grandes diferenças dos carros de luxo ou esportivo. A carroceria “imóvel” em situações-limite traz uma sensação de solidez e estabilidade que faz toda a diferença em relação a carros com estrutura mais frágil.

Ou seja, a tradição de sedã veloz e esportivo da Série 3 está mais do que mantida, inclusive visualmente. Apesar de manter a aparência mais “bombada” da última década dos BMW, houve certa simplificação de linhas que até remete para seus antecessores dos anos 1990.

O interior é de muito bom gosto, com acabamento a altura de seu custo, principalmente quando o estofamento em couro vem na cor caramelo, certamente um charme muito maior que o “pretinho básico”.

O porta-malas pode ser grande, mas não é. Na versão para o Brasil, apesar dos pneus run flat, foi incluído também estepe, que rouba quase 150 dos 480 litros de capacidade. Como estes pneus rodam inclusive vazios, basta deixar o estepe em casa para ganhar a capacidade total do porta-malas. Além do espaço, a posição do estepe no meio do assoalho atrapalha bastante a acomodação da bagagem.

Mas, é somente um detalhe para adaptar as grandes rodas do 330i (de 18 ou 19 polegadas) ao mercado e os buracos brasileiros, onde ele é o segundo produto mais vendido da fábrica da Bavária.

JS