Os mais céticos já começaram a pensar que se Valtteri Bottas repetir sua atuação de Melbourne no GP do Bahrein (próxima etapa do Campeonato Mundial, dia 31), a imprensa italiana estampará manchetes que a Ferrari já negocia sua transferência para o lugar de Sebastian Vettel. Tal cenário é fruto da maneira como Bottas dominou o GP da Austrália, quando se deu ao luxo de, na penúltima passagem pelo percurso de 5.303 metros registrar o tempo de 1’25”580, suficiente para garantir o ponto extra por ter marcado a melhor volta da prova, pontuação usada na década de 1950 e resgatada este ano. Lewis Hamilton e Max Verstappen completaram o pódio da 998a prova da categoria. O 1.000º GP será disputado dia 14 de abril em Xangai, China.
O grid de largada e o resultado final do GP da Austrália mostrou poucas alterações no status quo conhecido na temporada passada: apesar do bom desempenho da Ferrari nos testes de pré-temporada, a equipe Mercedes continua superior à Scuderia e a Red Bull continua como terceira força.
Isto pode ser interpretado como um sinal do progresso da Honda, que trocou de lugar com a equipe McLaren, agora cliente da Renault. Foi o primeiro pódio da casa japonesa desde 2008. Se na Red Bull Verstappen mostrou-se o mesmo, seu companheiro de equipe teve uma estreia atribulada e não correspondeu ao esperado nos treinos — quando não passou da primeira fase de classificação — e na corrida recuperou seis posições para terminar em décimo-primeiro.
No grid apenas os dois Williams foram mais lentos que Gasly e na prova os carros de Grove foram igualmente os últimos classificados: George Russell chegou duas voltas atrás e nem mesmo o alívio de peso causado pela perda de um espelho retrovisor ajudou Robert Kubica, que ficou uma volta atrás do seu companheiro. Para uma equipe que já dominou a categoria e lançou propostas revolucionárias, o caminho de 2019 já é uma encruzilhada: desenvolver um novo carro para a metade da temporada e tentar salvar a honra ou correr o risco da humilhação de não classificar para a largada, possibilidade concreta para, por exemplo, o GP de Mônaco ou até mesmo o GP do Azerbaijão, quarta etapa da temporada.
Vejamos o que aconteceu na Austrália: considerando que o tempo da pole position de Lewis Hamilton (1’20”486) é equivalente a 80,486 segundos, o limite de tempo de volta 107% pior que garante uma vaga para a largada era de 1’26”120, valor bem próximo da melhor marca de classificação de Robert Kubica: 1’26”067. No ano passado a diferença da pole também marcada por Hamilton (1’21”164) para o tempo de Pierre Gasly (1’25”295), último colocado no grid, foi pouco superior a quatro segundos e bem distante da marca que corresponderia a 107% (1’28”621). A mistura da longa reta com as curvas de 90o do circuito de Kabu e os aclives, declives e as fechadas curvas de Monte Carlo serão obstáculos altos demais para o baixo rendimento dos FW42. Caso eles superem os 107% nessa ou em outras provas, só mesmo um apelo aos comissários desportivos da FIA poderá impedir o vexame.
No extremo oposto do grid a Ferrari se vê em situação semelhante: basta considerar como 107% o desempenho da Mercedes, meta que a Scuderia precisa superar. Historicamente propenso a se deixar levar por pressões políticas e guerras internas, o time de Maranello precisa mostrar desempenho suficiente consistente para ser a segunda força da categoria para consolidar suas aspirações para este ano. Enquanto isto não acontecer será difícil considerar que a troca de Mauricio Arrivabene por Mattia Binotto foi uma opção consequente. No quesito piloto Charles Leclerc já deu mostras de estar à altura do cargo, mas ainda é cedo para fechar questão se ele é mais rápido que Sebastian Vettel.
Também é cedo para entender o que vai acontecer durante o ano, visão que ficará mais nítida após a quarta etapa do ano, exatamente a prova do Azerbaijão. Até lá muitas reuniões para discutir o que provocou o incêndio na unidade de potência do McLaren-Renault de Carlos Sainz; certamente uma ou duas garrafas de um bom Bordeaux serão abertas para discutir a característica má sorte de Daniel Ricciardo quando corre em seu país e uma situação que parece ter aprovado a volta do ponto extra para a volta mais rápida da corrida. Os três pilotos que subiram ao pódio – Bottas (1’25’580), Hamilton (1’26”957) e Verstappen (1’26”256) – apostaram suas fichas na penúltima das 58 voltas da prova.
Com relação à Mercedes algumas coincidências: foi a quarta vez que Hamilton largou da pole e terminou em segundo e foi a quarta vitória da carreira de Bottas. O carro do inglês aparentemente teve um problema com o assoalho, o que junto com ter sido um dos primeiros ponteiros a trocar os pneus macios por médios, acabou limitando suas chances. De qualquer forma, Bottas esteve irrepreensível no domingo e nada pode desmerecer sua vitória, a primeira da história da F-1 a render 26 pontos.
O resultado completo do GP da Austrália você encontra aqui.
WG