Já repararam que cada carro requer uma atenção especial? Tenho a mania de “humanizar” meus automóveis, dou nome, percebo características de gênio e, as vezes, até me pego falando com os veículos, seja para esbravejar de alguma sujeira no carburador, um barulhinho novo ou algo que não vai bem.Também me pego elogiando-o quando ultrapassamos algum outro veículo ou ao chegar num destino onde o caminho foi complicado.
O Landau é o carro que tenho há mais tempo, comprei no final de 1996, sou o segundo dono., Conheço esse automóvel desde meus quatro anos de idade, sempre foi meu sonho de consumo. O veículo nasceu com motor movido a álcool, mas ainda na garantia deu algum problema e trocaram todo o conjunto por um outro V8 302, só que a gasolina.Até a documentação dele foi alterada e tem notas fiscais de época comprovando tudo.
Talvez pelo fato do carro ser originalmente a álcool e, depois de pronto ter recebido o coração a gasolina ou por qualquer outro motivo que nunca compreendi, o afogador nunca funcionou. Já troquei o cabo, lubrifiquei o cabo original e não tem jeito.
Se puxo o acionamento para “abafar” o carburador ele não volta ao lugar, tenho que ir lá no cofre do motor, tirar a panela do filtro de ar e voltar com a mão a haste de acionamento. Na hora de ligar o carro, depois de algumas semanas sem funcionar, o negócio é “pedalar” o acelerador, umas cinco ou oito bombadas é o suficiente para ligar. Depois de décadas nisso já me acostumei, é o jeito dele.
Já a F100 é outro caso, ela pode ficar o tempo que for sem ligar, não precisa pisar no acelerador e nem puxar afogador, com meia virada de chave ela pega de pronto. Costumo brincar que “ela pega mais que dengue”. Oo mais incrível, o V-8 272 está alimentado pelo DFV, o carburador original, item que muita gente simplesmente odeia, chegam a dizer que DFV significa de “De Ferrar a Vida”. Na hora de andar, o único inconveniente da F-100 é que ela insiste em, de vez em quando, não funcionar a buzina, item muito apreciado num automóvel com os quatro freios a tambor e sem assistência de hidrovácuo…
O Galaxie 500 é um tremendo fanfarrão, o afogador dele funciona muito bem, o carburador é o DFV 444 (o mesmo da F-100), mas se ele ficar dois dias sem ligar, não tem jeito, vai demorar para pegar. Antes fossem necessárias as cinco ou oito pedaladas do Landau – no Galaxie são pra lá de 10 ou 15 bombadas no acelerador. Então, para esse carro, a técnica é: viro a chave e deixono motor de arranque até a luz do óleo apagar, apagou a luz do óleo pode dar mais uma vez na chave que pega e é isso mesmo.
Na hora de andar, o único inconveniente dele é que o bocal de uma das lâmpadas traseiras insiste em pular fora do encaixe da lanterna, o que me faz ficar sem uma das lanternas, freio e pisca, já que ficam todas essas funções numa mesma lâmpada de dois polos. Enfim, a história é aquela, cada carro tem seu jeito, podem me chamar de bobo por querer atribuir como personalidade algo que tenha uma explicação pura e simplesmente mecânica, porque aí estão coisas que não consigo mudar, mas consigo conviver e me conforta mais aceitar como o “jeito do carro”. É assim mesmo e pronto!
PT