Não adianta o Trump espernear contra a China: na Semana Santa, o mundo do automóvel era sempre focado em Nova York, que abriga anualmente uma das mais importantes exposições do setor. Era, pois este ano teve seu brilho meio apagado pelos chineses com o Salão de Xangai na mesma semana. E que só perdeu para o dos EUA na duração, pois o americano abre durante dez dias (19 a 28 de abril) e o chinês apenas oito (18 a 25/4).
Além de sua área gigantesca (360 mil m²), exatamente quatro vezes maior que a de Nova York (90 mil m²), o mercado chinês atrai os principais fabricantes, pois é o maior do mundo: vendeu 28 milhões de carros em 2018 contra 17 milhões nos EUA. Nada demais para um país com 1,7 bilhão de habitantes. Em termos de importância, os estandes na China apresentaram mais novidades, não somente para o mercado doméstico, mas para a maioria dos demais países, Brasil entre eles.
Alguns lançamentos que interessam nosso mercado marcaram presença em Nova York: o Nissan Versa completamente reestilizado e um suve da Hyundai menor que o nosso Creta, o Venue. Que tem tudo para ser lançado no Brasil, pois tem exatamente a mesma plataforma do HB20. Curiosamente, a picape-conceito da VW apresentado no Salão de São Paulo (Tarok) estava na exposição americana, sugerindo exportação para os EUA. Alguns modelos quase específicos para o mercado local e alguns conceitos também presentes. Mas marcas importantes como BMW e Volvo sequer deram as caras por lá.
Enquanto isso, o Salão de Xangai era um festival de lançamentos que interessavam aos principais mercados do mundo. A GM, por exemplo, exibia os novos suves Tracker e o Prisma (chamado lá de Onix sedã), ambos com passaportes já carimbados para o Brasil. No estande da Mercedes, a première mundial do GLB, utilitário compacto entre GLA e GLC, primeiro da marca com três fileiras de bancos.
A Volkswagen aproveitou para transformar o Jetta numa nova marca, específica para o mercado chinês. Modelos mais simples e baratos, porém com a mesma plataforma mundial da VW.
A Hyundai exibiu lá um suve compacto, o ix25, um Creta reestilizado. A Chery esnobou várias novidades, a maioria pronta para desembarcar no Brasil: Arizzo 6 (categoria Civic/Corolla) e o Tiggo 8 (sete lugares) entre os que deverão ser produzidos em Jacareí e Anápolis pela CAOA. A chinesa Geely (dona da Volvo, sócia da Mercedes) aproveitou o salão para lançar uma nova marca, mais sofisticada, a Geometry.
Elétricos, muitos elétricos em Xangai, pois a China é responsável, sozinha, por metade de suas vendas mundiais. Até a Aston Martin levou um superesportivo “All Electric”. A BYD esnobava um esportivo elétrico com design assinado por Wofgang Egger, ex-Audi. A Renault exibia um Kwid eletrificado e reestilizado chamado lá de City K-ZE. E inúmeras marcas chinesas desconhecidas no resto do mundo com modelos inovativos do tipo utilitários, superesportivos, minivans ou com formatos indefiníveis, quase todos elétricos.
A indústria chinesa superou, de maneira geral, a má fama de ter muitos de seus modelos xerocados de outras marcas. Mas ainda existem algumas como a Landwind que ficou tristemente famosa pela cara de pau em copiar modelos da Land Rover. Proibida judicialmente dessa prática desaforada, mudou da Inglaterra para a Alemanha e apresentou um suve que é a cara do Mercedes GLA…
Em compensação, a Chery (que tem a CAOA como parceira no Brasil) comemora o início das vendas de seus elétricos para a Noruega, único país que vende mais elétricos que motores a combustão. Um contrato com um significado especial, pois representa o fim de um antigo bloqueio dos europeus aos carros chineses.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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