Toda evolução gera resistência. No final do século XIX, o rei alemão Wilhelm II protestou e disse que seria provisória a substituição do cavalo pelo motor na carruagem. Com o carro elétrico não é diferente, mesmo que na Noruega, por exemplo, já seja mais vendido que o carro a combustão. Kaiser Wilhelm II morreu há tempos, mas deixou sucessores: já se tentou provar — na Alemanha — que o elétrico polui mais que o de motor Diesel…
A argumentação contra o elétrico mescla o emocional (apaixonados como eu…) e o racional. Pode até demorar um pouco mais em países sem infraestrutura para recebê-lo. Mas virá, mais dia, menos dia…
Ou, usurpando o mote do governo lá atrás em 1979, quando chegaram os primeiros carros a álcool, “Carro elétrico. você ainda vai ter um”…
Os prós
– Mais “limpo” – Não polui, mas a produção de energia elétrica nem sempre é das mais limpas. Quem o defende alega que, na pior das hipóteses, a poluição apenas é deslocada dos centros urbanos para o campo.
– Eficiente – Nem se compara a eficiência do elétrico (95%) com o motor a combustão (35%), que já deveria ter virado peça de museu há tempos.
– Prático – Não tem o enorme espaço roubado por motor e transmissão, sobrando muito mais para passageiros e bagagem.
– Funcionamento suave e silencioso – dirigir um carro elétrico é um experiência nova e agradável ao não se sentir nenhuma vibração e ruído.
– Manutenção – Motor elétrico não tem centenas de peças móveis nem troca de óleo, água, ou correias. Nem caixa de marchas, diferencial ou cardã. Tem uma única peça móvel. E não ferve…
– Custo por km – Cerca de três vezes mais eficiente, reduz o custo do km rodado em pelo menos um-terço, ajudado pelo atual preço da energia elétrica.
– Custo por km II – Para quem dispõe de painel solar em casa ou no trabalho, o custo por km rodado cai ainda mais.
– Desempenho – Torque total desde que se encosta o pé no acelerador. Pode ter tração integral sem o peso nem o espaço ocupados pelo cardã dentro de um túnel: um motor no eixo dianteiro, outro no traseiro. E centro de gravidade lá em baixo, pois a bateria fica sob o assoalho.
– Opções de fontes de energia – A corrente elétrica não necessita de pesadas baterias: pode ser gerada no próprio carro por uma célula a combustível, alimentada por hidrogênio ou outro combustível (liquido ou gasoso), do qual se extrai o H2. Ou ter geração limpa: eólica, solar, biomassa ou hidrelétrica.
– Geração de energia a bordo – ao levantar o pé do acelerador e/ou ao frear, situação em que o motor elétrico passa a gerador. Essa geração de energia elétrica ao deixar de acelerar é forte o bastante para reduzir em muito o uso do freio. Já há carros em que esse “freio-gerador” pode ter sua intensidade ajustada a bordo..
– Sistema desliga-desliga motor (start-stop) – quando o carro elétrico para, o motor para também, o desliga-liga motor é inerente ao tipo de motor.. Como nos trens, trólebus e elevadores. Motor elétrico não tem marcha-lenta.
Os contras
– Baterias – Estão em processo de desenvolvimento, mas ainda são pesadas, caras e de reciclagem complicada
– Emissões – O elétrico roda limpo, mas a produção de baterias e sua recarga podem gerar emissão de CO2. O que depende de como se gera energia elétrica no país: na China e na Alemanha, por exemplo, parte dela ainda vem de usinas termelétricas a carvão.
– Autonomia – Desde os primeiros elétricos, no início do século XX até o final da década de 1920, este problema ainda não foi bem resolvido.
– Consumo – O consumo de energia elétrica da bateria é bastante sensível à velocidade e ao uso de acessórios elétricos, especialmente no que diz à energia elétrica necessária para acionar o compressor do ar-condicionado
– Recarga – Ao contrário do combustível líquido, baterias demandam horas para serem completamente recarregadas.
– Perda de capacidade da bateria – Como já bastante conhecido nos telefones móveis, com o tempo a bateria vai perdendo capacidade de armazenar energia, o que de modo algum é interessante.
– Pontos de recarga – Este é um dos complicadores: onde instalar o equipamento de carga rápida? E quem não tem garagem em casa? E numa viagem, quando existirão suficientes pontos de recarga rápida na estrada?
– Permanência nos pontos de recarga público – Como esses pontos podem ser também vagas, o carro terá que ser tirado delas quando a bateria estiver carregada.
– Pagar pelo estacionamento – No caso de estacionamentos públicos pagos, é uma despesa a mais para ter a bateria carregada.
– Investimento inicial – O carro elétrico é mais caro que o convencional, pois as baterias ainda são muito caras.
– “Fantasma” – Por maior que seja a autonomia (que já pulou de 100 para 400 km nos últimos dois anos), ainda não se afastou o fantasma de ficar na rua com as baterias arriadas. Exceção: elétricos com um motor a combustão para recarregá-las ou movimentar o carro no evento de a bateria descarregar-se. Mas, tudo tem seu custo…
– “Plano de voo” – Utilizar carro elétrico exige algum planejamento quanto a autonomia e postos de recarga, ao contrário dos carros convencionais. Não se pode, como nestes, parar rápido num posto de combustíveis e colocar, em poucos minutos, um pequeno volume de combustível, uma “pingada”, um “splash and go”.
– Carga de auxílio – Por enquanto não se sabe se haverá carga de auxílio na estrada no caso de a bateria descarregar-se completamente, como um power bank de telefone celular, o que num carro convencional cinco litros de combustível comprado num posto resolve o problema.
– Desencarceramento complicado – Devido à alta tensão da bateria de tração, da ordem de 350 volts, o desencarceramento das vítimas presas no interior do veículo requer equipes de salvamento altamente especializadas, pois uma descarga elétrica com essa tensão é mortal.
– Opções – Ainda são poucos os fabricantes de carros elétricos e as opções para o consumido
Uma solução doméstica
No Brasil, solução adequada seria do carro elétrico sem bateria de tração. Uma célula, ou pilha, de hidrogênio (fuel cell) produziria a eletricidade para os motores. O tanque seria abastecido com álcool de onde se extrairia o hidrogênio para a fuel cell. Somos o único país no mundo que já tem uma rede de postos com bombas de álcool em número igual às de gasolina. E a Unicamp já desenvolve um projeto (parceria com a Nissan) para reduzir custo e peso do reformador, equipamento que extrai o H2 do etanol.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman é de exclusiva responsabilidade do seu autor.