Com lançamento previsto dentro de quatro anos, os engenheiros da Fiat desenvolvem um novíssimo motor para queimar apenas o álcool, chamado pela fábrica de E4. Seria o primeiro projeto específico para este combustível, pois até hoje, tanto os carros da época do Proálcool (década de 80) como os flex atuais possuem motores projetados para gasolina e adaptados para o álcool puro ou para queimar os dois combustíveis. E, portanto, ficam devendo eficiência.
Para que um motor a álcool?
•“Pato” – Em primeiro lugar, libertar-se das “amarras” do motor flex. Como dizia o empresário Sergio Habib (Citroën/JAC), o flex é como um pato, que nada, anda e voa, mas tudo mal feito… no sentido de que ele aceita os dois combustíveis, mas não tem a mesma eficiência do motor projetado especificamente para um deles. Perde mais justamente o motor a álcool, que não pode ter uma taxa de compressão bem mais elevada por “respeito” à menor octanagem da gasolina, 95 octanas RON contra 130 octanas RON do álcool — octanagem equivalente, dado que o álcool não tem a iso-octana do petróleo. Então:
1- Com gasolina: como a taxa de compressão deve ser elevada para aproveitar a alta octanagem do álcool, quando o motor queima gasolina, a central eletrônica tem que atrasar a ignição para evitar sua detonação. E o motor perde eficiência.
2- Com álcool: como o uso da gasolina limita a taxa de compressão, os engenheiros não são “livres” para aumentá-la o necessário para se obter máxima eficiência térmica;
• Eficiência – Eliminar o “fantasma” do consumo mais elevado do álcool no motor flex. Mesmo que seu poder calorífico seja 37% inferior ao da gasolina, poderia se quase igualar a eficiência de ambos aproveitando-se sua maior octanagem. Com consumo semelhante, o motorista iria preferir abastecer com o álcool pois é mais barato que a gasolina. E inverter o quadro atual, pois vende-se no país 20% do derivado de cana, 80% do petróleo.
• Ecológico – O álcool é mais “limpo” nos dois sentidos:
1- Meio Ambiente – Não recolhe carbono no fundo do mar ou da terra (combustível fóssil) lançando-o na atmosfera pelo escapamento sob a forma de dióxido de carbono (CO2);
2 – Motores – O que queima álcool permanece mais limpo devido à menor presença de carbono em sua composição: apenas 35% contra 83% da gasolina, reduzindo praticamente a zero a formação de depósitos carboníferos em seu interior. Por isso não é necessário o álcool aditivado, mas deve-se acrescentar aditivos detergentes-dispersantes à gasolina.
• Futuro – Os derivados do petróleo para combustão em motores estão com os anos contados, por maiores que sejam suas reservas nas profundezas da terra e do mar. Ou seja, por ser limitado e nobre, considera-se um absurdo utilizá-lo em motores a combustão de ridícula eficiência térmica. Da energia contida num litro de gasolina ou diesel, há um desperdício acima de 50% com atrito e geração de calor. O motor a álcool também tem baixa eficiência mas:
1- Não é um combustível tão nobre quanto a gasolina, mas renovável, gerador de emprego e que fixa o homem ao campo;
2 – Suas emissões de CO2 são inferiores às da gasolina no balanço final, pois o que sai do escapamento é compensado pelo que é absorvido no campo durante o crescimento da cana.
• Confiança – O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) criado pelo governo em novembro de 1975 foi um fiasco, pois quando estava em seu auge (final de 1986) faltou álcool nos postos. O brasileiro passou a desconfiar do álcool e, na década de 90, a gasolina voltou a dominar até o lançamento, em 2003, do motor flex. Hoje o motorista não tem mais receio de faltar o álcool, possibilitando desenvolver motores específicos para o álcool.
• Álcool melhor – a eficiência do motor a álcool pode ser elevada ainda mais se a Agência Nacional do Petróleo (ANP) determinar que o álcool comercializado nas bombas seja puro, com 0,5% e não 7% de água como é hoje. Lembrar que o álcool puro é o chamado álcool anidro, justamente o que é adicionado à gasolina. Portanto, seria desnecessário “inventar” outro tipo de álcool.
• Proconve – Entra em vigor em janeiro de 2022 uma nova fase da legislação que regulamenta as emissões veiculares, bem mais rigorosa. O motor a álcool se enquadraria como uma luva às exigências do Proconve L7.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade de seu autor.