Ocorreu nos dias 8 e 9 de junho o 6º Arraial Aéreo da cidade de Bauru, SP, um evento promovido pela “Fundação Astronauta Marcos Pontes” e que carrega o mote “Inspirando Gerações – 2019”.
A razão desse mote advém do Tenente-Coronel Av Marcos Pontes, bauruense de nascimento, ter se inspirado para seguir a carreira aeronáutica ao acompanhar os shows da Esquadrilha da Fumaça, naquela época ainda realizados com os North American T-6, razão pela qual a aeronave é presença indispensável no evento, um pedido pessoal do Tenente-Coronel, atualmente Ministro de Ciência e Tecnologia.
Sem esquecer de outro filho famoso de Bauru, o Coronel Av. Osires Silva, atualmente com 88 anos, engenheiro aeronáutico e cofundador da Embraer, e que foi ministro da Infraestrutura e das Comunicações, além de ter presidido a Varig e a Petrobrás.
O evento tem, como característica peculiar o fato de possuir uma agenda paralela com as dos shows aéreos. Juntamente com os patrocinadores que têm tendas para mostrar seus produtos (de faculdades a construtoras divulgando lançamentos imobiliários), há atrações musicais com artistas e bandas locais, exposições estáticas da Policia Militar, Corpo de Bombeiros, sendo que no sábado, depois das 18h:00 houve até uma festa junina!
A entrada custava R$10,00 adulto, R$ 5,00 criança, ou 1 kg de alimento não perecível por pessoa, e dava acesso aos locais próximos à pista e a plateia dos shows. Naturalmente, não era possível se aproximar das aeronaves, todavia o público podia ficar a apenas alguns metros do pátio onde elas se encontravam estacionadas.
O evento, que conta com a presença e apresentação do Esquadão de Demonstrações Aéreas (EDA) da Força Aérea Brasileira (FAB) — mais conhecida como Esquadrilha da Fumaça — no domingo, se encerraria com o voo da réplica do 14-Bis junto à Esquadrilha e, logo em seguida, com a apresentação de três North American T-6 (dois da Esquadrilha EDO e um de propriedade de Alberto Bazaia Júnior).
O AUTOentusiastas esteve presente no evento no dia 8 e compartilha um pouco do que pôde ser visto no evento.
As apresentações
No sábado, as apresentações acrobáticas ficaram por conta do Fairchild T-19 de propriedade de Alberto Bazaia Junior, a Esquadrilha EJ da escola de pilotagem homônima de Itápolis, SP com seus três Cessnas A152 Aerobat (que fizeram uma bela demonstração, diga-se de passagem, ainda mais se considerarmos a potência insuficiente do avião para manobras acrobáticas mais arrojadas), a apresentação de aeronaves de acrobacia de competição e alto desempenho (Extra 330SC, Laser 230 e o DR-107), além do Air-Tractor que fez uma demonstração de pulverização aérea.
Aeronaves civis
As aeronaves civis em exposição mereceram igualmente destaque.
Na pista (e a aeronave decolou pouco antes do pôr do sol), ostentando matricula americana, o bimotor de treinamento Diamond DA62. Fabricado em compósito de fibra de carbono, seu principal destaque são os motores: Dois Austro Engines AE330 de 180 hp e 2-L de cilindrada. Este motor, cuja base é um projeto da Mercedes-Benz para o seu Classe A, funciona no ciclo diesel! O combustível é o QAV (querosene aeronáutico) e ele ainda é homologado para poder funcionar com o diesel que atenda as normas EU-590, semelhante ao nosso Diesel Podium.
Havia aeronaves de diversos aeroclubes locais presentes como o Cessna 170 e 152 de Ibitinga, o Cessna 172 Skyhawk e o Piper PA-18 (assim como diversos planadores) do Aeroclube de Bauru) e o belíssimo e impecável Galeão 3FG (o Fairchild T-19 montado no Brasil na Fábrica do Galeão, no Rio de Janeiro..
A escola de aviação EJ de Itápolis se fez presente com o voo acrobático e em formação dos três Cessnas A152 Aerobat da escola, que servem tanto para treinamento primário quanto para a prática de acrobacias básicas (looping, parafuso, tunneau, etc.)
O piloto Alberto Bazaia Jínior de Itu trouxe um Fairchild T-19B, pintado com o esquema empregado pela aviação do Exercito dos Estados Unidos e uma réplica do Bucker Jungmman 131, imortalizado por Alberto Bertelli
E para embelezar ainda mais o pátio, um Beechecraft Bonanza mod. V35 (o V não tem qualquer relação com o formato da cauda e sim com o modelo que começou como 35, A35, B35 etc.). A familia Bonanza são as aeronaves mais antigass ainda em produção seriada, completando este ano 72 anos de produção ininterrupta!!! Junto a ele, a beleza (porque não dizer sensualidade?) de um IPE-10B, versão brasileira da aeronave acrobática francesa CAP-10B, aeronave que, na visão deste escriba, tem uma sensualidade em seu desenho (em especial nas asas semielipticas), um convite para voar!
Militares
As forças de segurança estiveram presentes por meio do Esquadrilha da Fuimaçacom seus EMB-314 Super Tucano (apresentaram-se no domingo) e duas aeronaves Embraer C-95B Bandeirante. A Marinha se fez presente com um Helibras Esquilo, e o Exército, alguns blindados de combate, um Agrale Marruá além de um Eurocopter AS-365 Panther.
Merece destaque a presença do Neiva T-25 Universal, aeronave equipada com motor 6-cilindros horizontais opostos Lycoming IO-540 (8,9-L) de 300 hp. O Universal, ao que tudo indica, encontra-se com seus dias contados na FAB, devendo ser substituído pelo T-Xc, o treinador-conceito já em protótipo produzido pela empresa Novaer de São José dos Campos, SP.
Os acrobatas
Havia algumas aeronaves de acrobacia aérea de altíssimo desempenho, aptas para voarem as categorias Intermediaria, Avançada e Ilimitada. Poderíamos classificar o Bucker e o CAP-10B nessa categoria, entretanto eles compreendem a aeronaves de treinamento primário com características acrobáticas, o que aqui não é o caso.
Havia diversas aeronaves de acrobacia de competição. Embora este escriba não tenha conseguido registrar todas em imagens, destacamos os RV-7 e RV-9 (considerados ultraleves mas empregando potentes — para ultraleves — motores Lycoming). O DR-107 (por sinal, fez um belo voo de demonstração), além do Laser 230 e do Extra 330.
O Extra 330sc merece destaque pela sua relação peso-potência — 2,45 kg/hp! Com o peso máximo de decolagem de 780 kg, o Extra 330 é equipado com um motor Lycoming AEIO-580 apto para voos de dorso, com 315 hp e 9,,5-L de cilindrada.
O maior show do Extra eram as subidas na vertical e a busca de se manter parado no ar, “pendurado” pelo motor durante alguns segundos. E a ausência de silenciador de escapamento jogava todo o ruído dos 330 hp do Lycoming para abrilhantar ainda mais o show!
Velhas águias
Para abrilhantar ainda mais o evento, compareceram no domingo mais dois North American T-6, provenientes de Campinas e seu proprietário Carlos e sua esposa Mônica Edo comandando cada um deles. Essas aeronaves se uniram ao T-6 do Alberto Bazaia e fizeram o voo de fechamento do evento.
Outro clássico presente é o Boeing PT-17 Stearman, uma aeronave clássica, operada nos anos 30 e 40 pela aviação do Exército (depois de 1942, Força Aérea do Exército) e que chama a atenção, não apenas por ser um biplano (coisa rara de se ver hoje em dia) quanto pelo motor radial Continental R-670 de 7 cilindros e 10,9-L, motor este que chegou a ser inclusive empregado em veículos blindados.
Em um país onde o custo da Avgas (gasolina de aviaçaõ) chega a ser extorsivo (mais de R$ 9,00 o litro!) e há todas as dificuldades tipicamente brasileiras em manter essas aeronaves em voo, um evento com três águias dessa estirpe é digno de aplausos!
Os trabalhadores
A aviação agrícola, a despeito da visão tacanha de alguns (ultimamente personificado pelo deputado Ludio Cabral PT-MT, que entrou com um projeto para proibir a atividade no país), traz grandes benefícios a agricultura, em especial no ganho de rendimento na aplicação de defensivos agrícolas em culturas anuais. Soja e algodão, por exemplo, o tempo de resposta entre a detecção de uma praga e a aplicação do defensivo deve ser o mínimo possível — em um dia os estragos causados podem ser grandes e comprometer a produtividade de uma lavoura.
O evento contou com a presença de três Air-Tractors, aeronaves de pulverização agrícola de grande porte, dois do modelo AT-502 e um do AT-602.
O AT-502 é uma aeronave agrícola equipada com um motor turboélice Pratt&Whitney PT-6A-34 de 750 shp (potência no eixo) com hooper (depósito de defensivos) 1.890 litros e carga útil (defensivos+combustível) de 2.200 kg.
A guisa de comparação, o Embraer Ipanema EMB-203 tem capacidade para 1.050 litros no hopper ou 780 kg de carga útil, tornando-o uma aeronave perfeita para operações em áreas pequenas, mas onerando a operações em grandes extensões como ocorre no Mato Grosso.
O AT-602 por sua vez já é um modelo maior, com motor PT-6A-60 de 1.050 shp. Dotado de hooper de 2.385 litros, a aeronave tem carga útil de 3.026 kg. Especificamente essa aeronave estava cedida para combate a incêndios florestais, uma atividade que infelizmente no Brasil, precisou-se de muitos e muitos hectares de florestas queimados e a destruição de diversos ecossistemas para a adoção de aeronaves no combate a incêndios florestais.
Outras atrações
Diversas empresas patrocinaram o evento: Tendas com comidas, bebidas, escolas técnicas, faculdades, camisetas, brinquedos, cadernos e mesmo construtoras disputaram a atenção do público
Shows musicais com músicas de diversos estilos completaram o evento, estendendo-se até depois do pôr do sol com os aviões já recolhidos.
A organização do Arraial Aéreo mostrou ser o show aéreo pode ser um excelente pano de fundo para a geração de público e atração de pessoas de cidades próximas para visitação. Carros de diversas cidades próximas (e outras nem tão próximas assim) podiam ser vistos nos estacionamentos.
A cada ano que passa o evento vem ganhando mais destaque junto à mídia e 2019 foi a 6º edição. Agora, vamos aguardar 2020 e as surpresas que teremos na 7º edição! O AE certamente estará lá!
DA