Foi em 1969 que a Chrysler, com sua marca Dodge, começou a produzir no Brasil o modelo Dart. No mais alto estilo americano, os “Dojões”, como ficaram conhecidos no país, eram equipados com um potente motor 5,2-L V-8 que desenvolvia 198 cv na época, algo em torno de 135 cv nos padrões atuais de potência líquida.
O destaque deste enorme motor não estava tanto na sua potência máxima, mas sim no seu exuberante torque em baixa rotação que movimentava com leveza e facilidade os cerca de 1.500 kg do modelo. Na versão mais simples, o Dart tinha quatro portas, câmbio de três marchas na coluna e banco inteiriço na frente.
Os Dojões começavam a ficar bonitos e graciosos na versão cupê de duas portas. A mecânica era idêntica para todos, com suspensão dianteira independente por triângulos superpostos e barra de torção longitudinal atrelada ao triângulo inferior, e eixo rígido na traseira, com feixes de molas semielíticas em cada extremidade.
A coisa começou a ficar boa quando veio o Charger, somente com carroceria cupê e que compartilhava a mesma estrutura básica com o Dart, mas com nova dianteira e detalhes de acabamento. O motor, em vez dos 190 cv das versões normais, tinha 205 cv (140 cv, potência líquida) graças ao um sistema de escapamento individual para cada bancada de cilindros.
E o câmbio era manual de quatro marchas com alavanca no assoalho (havia ainda um automático de três marchas que já tinha bloqueio do conversor de torque em terceira). Na época, era espantoso um carro que superava a barreira dos 200 cv (o Passat TS tinha 96 cv, na mesma base de potência bruta).
Mas o mercado ficou mesmo boquiaberto quando a marca anunciou a versão esportiva do Charger, batizada de R/T, que significa Road/Track (em bom português, quer dizer estrada/pista). Na época, a fábrica afirmava que essa versão esportiva estava sendo lançada para dominar as estradas e as pistas de competições. Basicamente, essa sigla americana queria dizer que lá na nos EUA o carro era bom de estrada e se dava bem nos ovais da Nascar.
Aqui no Brasil, esses R/T pouco participaram de competições e também não eram assim o rei das estradas, mas o R/T sempre foi um carro muito prazeroso de dirigir.
Notável no R/T: era seu potente motor V-8 com os mesmos 5,2 litros que produzia saudáveis 215 cv (algo em torno de 145 cv pelo padrões atuais). Além disso, também faziam a diferença o escapamento duplo dos Charger e sua taxa de compressão aumentada de 7,5:1 para 8,4:1. Com isso, o motor ganhou ainda mais torque e potência e, na época, exigia o uso de gasolina azul, a premium daqueles tempos que tinha as mesmas 95 octanas RON da gasolina comum de hoje, mas com baixo conteúdo de álcool, entre 5% e 8%.
Claro que esse custo a mais do litro da gasolina, cerca de 20%, não preocupava o dono do Charger R/T, já que na época ele era um dos carros mais caros do nosso mercado. Bancos forrados em couro, ar-condicionado e direção assistida hidráulica eram equipamentos de série desse incrível Dojdão. E ele ainda possuía ignição eletrônica, um avanço para aquele tempo, inaugurada no Brasil no Simca Tufão em 1966.
Um dos seus equipamentos mais peculiares era a luzinha indicadora de trocas de marchas no para-lama dianteiro esquerdo, informação presente em vários modelos nos anos seguintes e nos atuais e que tinha a (quase impossível) missão de deixar o grandalhão mais econômico.
Essa foi uma época de ouro da indústria automobilística brasileira. Os Dodge Charger R/T desse período, com placa preta e em perfeito estado de conservação, são vendidos no mercado por cifras que ultrapassam os R$ 200 mil. Um carro para poucos até os dias de hoje.
DM
(Atualizada em 24/05/21 às 15h04, complemento de informação sobre ignição eletrônica e luz indicadora de troca de marcha)
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