Como diz o jargão popular, “o melhor carro é o zero-quilômetro”. Brincadeiras à parte, como é complicado escolher um novo carro na hora da compra! Todos nós já passamos por esta dúvida cruel de como gastar melhor o rico dinheirinho em uma nova aquisição.
Hoje em dia o consumidor conta com uma enxurrada de informações disponíveis, que vão desde artigos publicados na internet, até o boca a boca em roda de amigos. Na verdade, o que o consumidor realmente deseja é sentir a segurança de saber que seu veículo será valorizado no mercado e que fará sucesso desfilando todo pomposo nas ruas e estradas. e neste aspecto entra a imagem e o poder da marca. Também, a beleza, os custos de manutenção e seguro, o conforto e o espaço interno, e por aí vai, ao longo de todos os atributos funcionais, têm influência marcante na hora da decisão.
Particularmente, creio que a imagem da marca é um dos fatores decisórios na hora da compra. Exemplo recente, temos o Renegade e o Compass que estão “bombando” no mercado, alicerçados pela relevância da icônica marca Jeep.
Outra fabricante que vem se destacando com muita propriedade é a Toyota e seu Corolla, referência em qualidade de manufatura, acabamento, conforto e durabilidade no mercado brasileiro e mundial.
No passado, o Gol GTi e o Passat Pointer se destacaram como força da marca Volkswagen no Brasil e até hoje são veículos valorizados por colecionadores e usuários de maneira geral.
Outro bom exemplo de veículo equilibrado foi o Ford Focus em sua primeira geração, transmitindo a imagem de veículo moderno e sua dinâmica exemplar sendo amplamente reconhecida e admirada pelo consumidor.
Inesquecível o Ford Ka XR com seu motor Zetec Rocam 1,6, suspensões firmes e reações rápidas e seguras, dando-lhe a fama de divertido de dirigir.
E quem não se lembra do Chevrolet Vectra em 1995, com aerodinâmica invejável, incluindo os espelhos retrovisores externos que “nascem” nos para-lamas dianteiros, verdadeiras obras de arte?
Atributos funcionais
Carros bonitos e aerodinâmicos são carros cobiçados, e neste aspecto vale a pena investir em um estúdio de estilo de primeira linha que tenha criatividade e não faça a mesmice ano após ano. Este raciocínio se ramifica também para o interior do veículo, em relação ao painel, desenho dos instrumentos, bancos, controles, visibilidade e conforto de maneira geral, incluindo todo o sistema gerador de informações. Os times de estilo e engenharia devem se preocupar em despender os custos de desenvolvimento com inteligência, fazendo mais com menos em relação aos atributos funcionais do veículo.
Além do mais, beleza é fundamenta, e cabe ao time de designers do departamento de estilo do produto idealizar a forma externa e também o interior do veículo, obtendo funcionalidade com harmonia e conforto. Creio que o trabalho do estilo seja um dos mais complicados, pois deverá estabelecer as linhas do veículo que agradem à maioria das pessoas — sem esquecer também a aerodinâmica, a visibilidade e as proporções básicas que influenciarão no desempenho e consumo de combustível, além dos ruídos de vento e outros.
Por exemplo, o diâmetro das rodas, a distância entre eixos, a largura, altura e o balanço dianteiro/traseiro, o vão livre e a distribuição de carga, o formato da coluna dianteira, têm relação direta com a satisfação do consumidor.
O sentimento de solidez da carroceria, poucos ruídos espúrios e eficiente absorção de impactos pelas suspensões e sistema de direção passam confiança ao consumidor, traduzindo imagem de veículo bem-feito e durável. Neste aspecto lembro-me do VW Golf, que até hoje mantém reputação de conjunto resistente.
O motor e o câmbio, o coração do veículo, influenciam a sensação de desempenho e o prazer ao dirigir. O câmbio bem escalonado casado com um motor elástico com potência já em baixas rotações, torna fácil a modulação da embreagem na partida do veículo, diminuindo o tempo de acoplamento e de deslizamento do disco, tendo como resultado maior durabilidade do disco e platô.
A primeira marcha deve ser curta facilitar a partida em aclives e a rodagem em ambiente urbano, enquanto a última marcha deve ser longa o suficiente para garantir velocidade de cruzeiro nas rodovias com menos consumo de combustível.
A boa diferença entre as rotações de torque máximo e de potência máxima estabelece a característica importante de elasticidade do motor que, na realidade, traduz a sensação de desempenho notada pelo motorista. Os motores modernos com comando de válvulas variável em fase e no levantamento de válvulas facilitam este aspecto, garantindo potência em baixas e em altas rotações. A injeção direta de combustível dá mais eficiência e potência ao motor.
Outro ponto relevante é a estabilidade direcional, mantendo a segurança nas diversas situações de rodagem. Neste aspecto, as suspensões e o sistema de direção com esforços progressivos e crescentes em curvas ajudam o motorista a sentir o quão próximo do limite de escorregamento está o veículo, facilitando as manobras criticas de desvios de obstáculos, por exemplo.
Em termos de estabilidade e controle, o veículo deve ser dócil e com reações previsíveis, ajudando o motorista a ter segurança nas mais diversas situações. É a conexão do veículo com o solo, mantendo estabilidade em linha reta, em curvas, em desvios de obstáculos e em mudança de faixa de rolamento.
O veículo deve manter-se em linha reta sem que o motorista tenha sempre que intervir no volante de direção, incluindo a insensibilidade a ventos laterais. Em curvas, o comportamento do veículo deve ser neutro, mantendo a trajetória sem reações abruptas de sair de frente ou sair de traseira e de preferência com pouca inclinação da carroceria, a chamada rolagem.
Os freios são fundamentais para a segurança e devem transmitir confiança. Neste aspecto, a modulação e o esforço do pedal em frenagens progressivas e de emergência são fundamentais, sem apresentar desvios laterais, sem perda de eficiência por aquecimento excessivo (fading) e sem ruídos, chiados e vibrações.. Um bom exemplo que vem do passado é o Escort XR3 com seus potentes freios que marcaram época.
Pode acontecer que um atributo seja tão bom que passe a ser o diferenciador da marca, se destacando independentemente do conjunto. No passado, o Fusca mantinha a imagem de veículo inquebrável e também de alto valor de revenda, o que liderava o fator decisório na hora da compra.
O progresso tecnológico tem sido fator importante para a modernização do automóvel, deixando-o mais seguro e confiável. Profissionais de desenvolvimento trabalham para tornar os veículos melhores, mais bonitos e mais competitivos em preço. Reduzir custos de manutenção, diminuir o consumo de combustível, garantir o nível de segurança ativa e passiva, fazer melhor uso dos materiais existentes,e diminuir peso e aumentar o espaço interno, faz parte das premissas de projeto para beneficiar o consumidor.
Fatores econômicos, tecnológicos, ecológicos e de estilo devem ser considerados simultaneamente pelo fabricante, valorizando também os métodos e processos de fabricação.
Creio que a maior dificuldade enfrentada pelo engenheiro é estabelecer um projeto robusto que satisfaça as exigências de funcionalidade e custos, de uma maneira técnico-comercial balanceada. Na realidade, o tripé beleza, funcionalidade e economia é o caminho a ser explorado.
Por exemplo, investir mais onde a probabilidade de descontentamento do consumidor for maior e vice-versa. A maioria dos engenheiros, eu incluído, gostaria de projetar sem a preocupação com os custos envolvidos, adotando materiais nobres, manufatura de precisão e de qualidade absoluta. O projetista pode gastar mais em um Ferrari do que em um Ford Ka, observando as exigências de mercado de carros de luxo e básicos de entrada, porém a relação custo-benefício estará sempre presente, independentemente dos valores envolvidos. O importante em qualquer projeto é identificar claramente o ponto de equilíbrio, gastando o suficiente para a funcionalidade desejada e a satisfação do consumidor.
Em modo crescente, novas tecnologias estão invadindo as fábricas de automóveis no mundo, em parte para cumprir as cada vez mais rigorosas exigências governamentais que regem o comportamento dos veículos e, por outro lado, chegando como modernidade aos sistemas de informação e entretenimento. E vêm na mesma esteira os sistemas autônomos avançados de assistência ao motorista que alertam e ajudam corrigir potenciais riscos de acidentes.
O fato é que tecnologia custa dinheiro, muito dinheiro. Por exemplo, motores com usinagens mais precisas, folgas menores para o uso de óleos lubrificantes menos viscosos e com redução de atrito, requerem forte investimento em máquinas, equipamentos e controles. Posso citar também os turbocompressores, menores e mais eficientes, com geometria e vazão de ar variável que aumenta e muito o controle do ar comprimido no motor.
Utilizando materiais mais nobres e mais leves, incluindo ligas de titânio, as modernas turbinas nada têm a ver com as antigas, maiores, mais pesadas e menos duráveis, para não dizer bem mais problemáticas. Um bom exemplo é o motor Ford tricilindro, moderno e eficiente em termos volumétricos, térmicos e redução de atrito.
Atualmente, cada vez mais valorizado pelo consumidor é o sistema de conectividade integrando todas as funções de informação e entretenimento disponíveis, tornando o veiculo um verdadeiro navegador da internet, na acepção da palavra. E quem paga o custo da modernidade é invariavelmente o consumidor e não adianta reclamar. O segredo é garantir uma produção que consiga diluir os altos custos das tecnologias embarcadas. Sem produção não existe lucro e sem lucro as empresas entram em colapso. É ai que entra a globalização, aproveitando um desenvolvimento veicular único para aplicação mundial, em vários países.
Intuitivamente, o consumidor avalia o veículo em termos totalmente subjetivos, gostando ou não gostando de um determinado atributo, na maioria das vezes sem saber por quê. Eu sempre afirmo que veículo bem equilibrado em atributos me dá vontade de morar dentro dele e não sair mais.
É a valorização do prazer de dirigir.
CM