Um dos meus argumentos favoritos quando me dizem algo que não faz sentido é sugerir que a pessoa pare, pense e até mesmo que diga em voz alta aquilo que me disse e veja, seriamente, se isso faz algum sentido. Faço quase sempre isso, mas especialmente quando falo com alguém de telemarketing que me oferece algo que não tem nada a ver com meu perfil ou quando reclamo de alguma coisa e me dão uma resposta “nada a ver”.
Talvez já tenha contado esta história por aqui, mas como não a encontrei, segue meu “causo”. Quando me mudei para onde moro atualmente uma das principais razões era um enorme e lindo terraço na sala. Pois bem, como a cara-metade é engenheiro, fizemos todos os testes antes de descarregar nossos pertences no novo lar.
Testamos pias, ralos, descargas, tomadas (aí descobrimos que não haviam cabeado nosso apartamento. Só tínhamos energia nos tetos, nadinha nas paredes). Testamos tudo aquilo que era comum e parecia passível de apresentar problemas. Pedimos alguns reparos, fizemos outras tantas reclamações e finalmente nos mudamos.
Na primeira chuva um pouquinho mais forte, percebi que tinha várias poças no terraço, pois a água não corria em direção ao único ralo do terraço. Telefonei para a construtora e a engenheira encarregada me disse que era assim mesmo. Segundo ela, o ralo do meu terraço era de contenção e não de escoamento. A única função dele era “conter” a água para que ela não entrasse na sala. Minha primeira reação foi “hã???”. Claro, pedi para repetir o que a pessoa havia me dito. Eu achava que o problema de compreensão era meu. Vejam bem, estudei jornalismo, não engenharia civil. Mas sempre me achei inteligentinha…
Não, a engenheira insistiu em que era assim mesmo. Eu deveria pular as poças d’água do terraço? Empurrar a água com um rodo? Me recusei a aventar tais hipóteses e argumentei que terraço não é banheira, que tem um “ladrão” para servir de escoamento apenas quando a água armazenada excede um determinado nível e fica na lateral. Esse seria o tal ralo de escoamento. Mas como eu só tinha um no terraço, ele deveria ser de escoamento, assim como qualquer ralo no fundo de uma banheira. Se não, como se esvaziaria uma banheira? Com canequinha? O mesmo deveria eu fazer com o terraço?
Diante da insistência, saquei do meu argumento definitivo: “Olha, eu vou te dar uma hora de tempo e ligo de novo. Até lá, espero que você já tenha me arrumado uma desculpa melhor para o erro da construtora porque isto que você está me dizendo não faz o menor sentido. Boa tarde e até daqui a uma hora”. Imediatamente, liguei para o marido que estava viajando e contei o ocorrido. Depois de soltar um palavrão, disse: acho que eu faltei nessa aula na faculdade pois não lembro de nada disso. E, claro, concordou comigo que a explicação não fazia o menor sentido.
Uma hora depois, conforme o combinado, liguei novamente para a engenheira. Aí veio aquela conversa blá-blá-blá. Excepcionalmente, e por liberalidade da empresa, eles iriam refazer o piso do meu terraço. Viram como dar um tempo para a reflexão às vezes funciona? E assim foi feito. Ou parcialmente, pois preferi receber o material deles e pagar a mão de obra. Eu mesma chamei um pedreiro de confiança que nivelou o piso como deveria e a água corre para o ralo. Aleluia, irmão!
Claro que nem sempre os resultados são esses. Tem vezes que a pessoa não tem capacidade intelectual para entender o que diz, apenas repete o que lhe mandaram e se algo sai do script não tem como raciocinar. Em outras, é pura repetição de um chavão, mesmo. Se parar para pensar, duvido que tenha algum argumento sólido.
Para mim, o mesmo acontece quando há um acidente de trânsito. É raro a imprensa (e mesmo os ouvintes/telespectadores) não dizerem algo como: e há lentidão na pista por causa da curiosidade. Peraí. Como “a curiosidade”? Se há um acidente, deve-se, sim, diminuir a velocidade, claro, com segurança. Nada de cravar o pé no freio.
Isso sem falar no raro e escasso bom senso, o Código de Trânsito Brasileiro diz isso no Capítulo XV, Artigo 220. Ele diz claramente que é infração “deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma compatível com a segurança do trânsito”. Entre os exemplos está, no item II “nos locais onde o trânsito esteja sendo controlado pelo agente ou a autoridade de trânsito, mediante sinais sonoros ou gestos”.
Se não houver autoridades de trânsito ou de polícia presentes, deve-se reduzir a velocidade para não violar outro artigo do CTB, o de número 176, sobre omissão de socorro em caso de acidente — é considerada infração gravíssima e gera 7 pontos na CNH além da suspensão da mesma. Como prestar socorro a alguém se não se diminui a velocidade?
Por isso tenho verdadeiros ataques de caspa quando vejo alguém dizendo que a redução da velocidade atrapalha em locais onde há acidentes. Por óbvio, o que provoca o congestionamento é o acidente em si, não a curiosidade. Isto porque geralmente há pessoas circulando por onde, em condições normais de pressão e temperatura, não deveriam estar, como acostamentos, a própria via, ao redor dos veículos, eventualmente atravessando a pista e, se for à noite, sem roupas reflexivas (quem anda com colete fosforescente dentro do próprio carro?).
Não se trata aqui de defender quem para o carro em local proibido para ver o acidente sem intenção de ajudar, mas somente, aí sim, por curiosidade, reduz a velocidade a níveis baixíssimos para tirar fotos com o celular nem outras barbaridades desse tipo. Mas felizmente mesmo esta sub-raça de seres humanos é minoria. Refiro-me apenas a diminuir a velocidade a níveis compatíveis com algo imprevisto na via e de forma a que se tenha tempo de evitar outro acidente que, de resto, poderia acontecer já que há movimentação anormal no local. O mesmo pode acontecer em pistas no sentido contrário. É comum nessas horas que pessoas atravessem pistas de estrada ou de avenidas — muitas vezes, apenas com o objetivo de ficar em lugar mais seguro ou de buscar ajuda. Isso é especialmente comum quando há postos de gasolina abertos ou algum tipo de comércio. É muito razoável nessas horas abrigar pessoas com pouca mobilidade ou crianças que, aliás, nunca devem ficar dentro dos veículos acidentados. Ou que haja detritos na pista.
Nessas horas, um rápido acionamento do pisca-alerta, apenas para avisar a quem vem atrás que estamos reduzindo a velocidade pode ser necessário quando apenas frear pode não ser o bastante. Por isso me incomoda que a imprensa ensine errado, pois ao atribuir o congestionamento à curiosidade deixa implícito que o correto seria manter a mesma velocidade com a qual se vinha circulando o que é obviamente absurdo.
Isso sem falar que às vezes o acidentado pede socorro. Não vou entrar aqui nas questões de segurança, acidentes fêiques com intenção de assaltar, etc. É tema para outra postagem ou discussão interminável em volta de uma mesa de bar. Mas é fato que muitas vezes a vítima de verdade pede a algum outro veículo que pare. E aí? Como ver alguém nessas circunstâncias sem reduzir a velocidade? Impossível, né? Mas aquela ala da imprensa que prega a empatia e a solidariedade se esquece disso e diz que o congestionamento é provocado pela curiosidade. Então, tá.
Outra “maldade” que cometo quando não me atendem bem, especialmente com serviços de atendimento ao cliente que demoram muito para responder ou que não atendem, é querer o mesmo para o outro. Aí surge a Nora má. E desejo, de todo coração, que quem está me atendendo mal ou apenas me ignora nas reclamações receba o mesmo atendimento que dá aos outros. Quando estou realmente magoada, digo que desejo que isso aconteça em casos de emergência médica. Já pensou o atendente de um SAC que depois de ter me pedido 15 dias úteis para responder algo me diz por duas vezes que perdeu o histórico e os documentos? E depois não responde mais. Pois é, estou assim com uma empresa. Aí eu desejo ardentemente que ele mesmo ou alguém querido precise de um hospital e seja atendido exatamente como ele atende os outros. Nem melhor nem pior. Apenas igual. Que levem 15 dias úteis para preencher uma ficha de admissão numa Emergência e então percam a documentação e a criatura continue aguardando, urrando de dor. Quando digo isso ao telefone costumo ouvir algo parecido com um “glup” do outro lado. Incrível como tem gente que acha que os outros podem esperar e ser ignorados, mas quando é com eles ou suas famílias demonstram indignação por mais bobo que seja o pleito. Mas a tal “empatia” embora muito citada, está tão em falta como o bom senso. E às vezes só quando alguém para tudo e manda o outro refletir ou o força a se colocar no lugar do outro é que a pessoa se toca.
Mudando de assunto: para quem me conhece ou já leu alguma das minhas colunas como esta ou esta sabe como me comporto dentro do carro quando estou sozinha. Algo muito próximo da total falta de noção no que diz respeito a cantar em voz alta e mexer ombros e cabeça acompanhando a música. Bem, a estas pessoas como eu dedico este “mudando de assunto”, hehehehe.
NG